Uma notícia inesperada

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O frio é intenso lá fora. A neve cobre todo o gramado, parecendo um tapete branco. Observo da minha janela o lago da Lula Gigante, tentando esquecer as últimas notícias que recebi do meu pai. Não posso acreditar que isso realmente aconteceu. Eu pensei que ele havia mudado, mas pelo visto nada mudou. A Segunda Guerra bruxa fora há muito tempo, mas o ódio que os sangues puros tem dos mestiços, trouxas e criaturas mágicas permanece forte. Não imaginava a dimensão desse ódio, nem ao menos passava pela minha cabeça que ainda existisse isso, mesmo sendo velado. Segundo O Profeta Diário daquela manhã, os aurores continuavam as buscas quanto aos suspeitos de um ataque a mestiços e duas famílias trouxas. Meu pai está envolvido no caso. Não sei os detalhes, ainda não obtive notícias concretas da minha mãe. Apenas que ele está preso em Azkaban até seu julgamento ser marcado. O jornal apenas diz que meu pai é responsável pela morte de uma trouxa, no subúrbio de Londres, onde ele foi visto saindo às pressas do local, com dois parceiros nessa empreitada. Não sei se isso é possível, se realmente posso acreditar. Estou fervendo de raiva, estou desgostoso, sem ânimo para as aulas dessa manhã. Sai do café da manhã, em disparado, quando vi o jornal. Meus colegas me fitavam com estranheza, como seu eu soubesse de algo ou como se fizesse parte disso. Detesto ser julgado por um passado que não tem vínculo comigo ou com minhas ações. Não sou isso, não sou um monstro. Mas as vezes penso, será que puxei esse lado negro da família Malfoy, será que posso me tornar isso? Será que serei consumido pela ganancia e pelo poder?

- Scorpius – alguém chama da porta do dormitório.

Vejo Alvo parado, apoiado no batente. Sua expressão é de pesar. Não sei se ele confia em mim, se acredita no que leu. Temo que agora nossa amizade se acabe por ações que não foram tomadas por mim.

- Eu sei que isso não tem nenhuma relação com você – meu amigo diz, lentamente – E acredito que talvez O Profeta Diário esteja errado sobre seu pai.

Estou surpreso. Não imaginava Alvo defender meu pai e acreditar em sua inocência.

- Eu sinceramente não sei o que pensar disso – digo, passando a mão pelos cabelos.

Sento em minha cama, massageando as têmporas. Tudo parece pesado demais, difícil de digerir. Escuto seus passos, aproximando-se de mim. Ele senta na cama em frente à minha.

- Parece difícil acreditar, Scorpius – ele diz, compreensivo – Contudo, devemos acreditar no melhor das pessoas, até que se prove o contrário. E se ele for realmente culpado, precisará de seu apoio e de sua mãe.

Encaro-o, perplexo.

- Eu deveria apoiar um homicida? Acho que não – digo em tom seco.

Seus olhos verdes reluzem uma paciência infinita, algo que não tenho.

- Todos nós somos capazes de fazer coisas horríveis, meu amigo. Todos temos essas tendências. Mas também somos capazes de fazer coisas maravilhosas. Seu pai salvou muitas pessoas dentro daquele hospital. Apoio tantas famílias. Por que simplesmente virar as costas para alguém que tem tanto potencial para fazer algo tão bom pelos outros? Entendo que há pessoas que tem poucas ações boas em suas existências. Além de cometer crimes inimagináveis. Mas se não houver alguém que os apoio e levante, nada mudará.

Permaneço quieto diante de suas palavras. Alvo sempre foi o mais sábio de nós dois, o mais centrado e justo. Não consigo compreende-lo e ser como ele. Não sou assim, estou sempre pronto para acusar ou agir de forma vingativa.

Scorose - Quase sem quererOnde histórias criam vida. Descubra agora