Estarei ao seu lado

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- Não acredito que você fez isso - diz Lily, incrédula.
- Eu sei, nunca na vida faria isso, mas fiz - disse, rindo.
Eu havia contado para Lily sobre o beijo com Leon. Já fazia uma semana que tinha acontecido. Contudo, nada havia mudado entre nós. Leon continuava estudando comigo, mas não comentava sobre isso e eu não seria primeira a iniciar a conversa. Scorpius estava distante e faltou a monitoria quase todas as noites. Não consigo imaginar o motivo para isso e não consigo entender por que fiquei tão triste com sua ausência. Ser sua amiga nunca foi fácil. Ele sempre foi fechado e distante. As vezes ele mostrava um lado maravilhoso e me fazia rir de qualquer coisa. Dessa vez ele estava inalcançável para mim.
- Achei que você nunca iria beijar ninguém na vida - disse Lily, tirando-me do meu devaneio.
- Também nunca achei que faria isso, mas estou feliz com meu primeiro beijo.
Sim, eu estava muito satisfeita, mas não sei se queria repetir de novo. Leon era muito instável, seu humor variava muito, desde que o conheci melhor. Não quero ser sua namorada e ter que aturar isso. De nem jeito nenhum!
- Ele já pediu você em namoro? - pergunta Lily, enquanto pinta as unhas de rosa, em cima da minha cama.
- Não e não vou aceitar - respondi, fechando meu livro de feitiços e colocando no criado mudo ao lado da minha cama - Ele é muito inconsequente e mau humorado.
- O Leon é um gato, você deveria aceitar - disse uma sextanista, Maryeen Shelby. Ela é uma das minhas amigas, mas nós não somos tão próximos como eu e Alvo.
- Não, Maryeen, nem morta eu aceitaria isso - respondo, de mau humor - Ele não parece ser muito fiel a nenhuma garota e não estou a fim de disputa-lo.
Ela da de ombros e continua a fazer uma traça em seus cabelos loiros.
- Você é quem sabe. A Louise, da Corvinal está morrendo de amores por ele - ela diz - E me diga uma coisa, o Alvo já tem namorada?
Reviro os olhos, isso de novo não. Ela é apaixonada por Alvo, mas ele não parece estar afim de ninguém. Eu já havia explicado isso para ela várias vezes.
- Não, Maryeen. Ele não está afim de namorar, você sabe disso.
- Só queria checar minhas possibilidades - ela da de ombros e se levanta da sua cama - Bom, mais tarde nos vemos em Hogsmeade?
Eu e Lily assentimos, enquanto ela sai do dormitório. Todos os alunos já sairam para curtir o final de semana, principalmente para ir a Hogsmeade. Não estou muito animada, para ser sincera.
- Você precisa sair deste quarto, Rose - insiste Lily, mais uma vez, enquanto guarda seu esmalte no seu estojo - Vamos a Made Puddifoot tomar um chá, por favor. Podemos até ir a Dedos de Mel. Preciso renovar meu estoque de doces.
Estou irritada com sua insistência e acabo aceitando, não sem antes protestar, acusando-a de ser uma pessoa que só se importa consigo mesma. Troco meu pijama por uma calça jeans preta e um sobretudo vermelho. Faço um coque em meus cabelos e aplico um rimel e delineador nos olhos. Coloco minhas botas para neve pois o frio está intenso hoje. Saímos logo em seguida. Lily não para de tagarelar sobre os garotos que ela acha bonito. Em primeiro lugar é Scorpius, segundo Leon, terceiro Alvo e assim por diante. Finjo escutar, mas estou no piloto automático. Não quero saber de nenhum garoto, principalmente um loiro aguado que não sai da minha cabeça. Onde ele tinha se metido? Por que não apareceu ontem para as rondas? Deveria me preocupar? Fiquei me perguntando e não notei que esbarrei em algo sólido. Olhei para cima e vi olhos azuis tão claros e frios.
- Desculpe-me - digo, me afastando. Percebo pelo canto de olho que Lily nos encara a distância, na expectativa de que algo aconteça.
- Não foi nada, Rose - sussurra ele, me encarando com intensidade - Está indo para onde?
- Vou a Hogsmeade - respondo, evitando seu olhar. Hoje ele parece muito diferente. Finalmente está falando comigo, depois de uma semana inteira. Sinto os pelos da minha nuca se arrepiarem, devido a sua presença. Talvez eu esteja doente, pois meu estômago está embrulhado - Você está bem? Não vejo você a dias.
- Estou sim - ele responde, tocando a nuca, como se falar do assunto o atormentasse - Também estou indo para Hogsmeade, quer que acompanhe vocês?
Lily começa a pular de alegria e responde por mim um sim alto e claro. Ela puxa o braço de Scorpius e faz ele andar ao lado dela, como se fossem grandes amigos. Realmente, ela não parece ter filtro. Scorpius parece incomodado, mas também está sorrindo e rindo do que ela diz. É claro que ela adora contar piadas nas horas mais importunas. Continuo ao lado deles, mas a uma certa distância dos dois. Não me sentia muito bem e não queria que eles percebessem meu desconforto. Chegamos a entrada do castelo, passando pela ponto de pedra. Eu tento não olhar para baixo, pois a altura faz com que eu entre em pânico. Scorpius puxa meu braço, como se ele dissesse que não estou sozinha. Sinto que estou segura ao lado dele e deixo que me guie até a saída do castelo, para que possamos tomar a carruagem para Hogsmeade.
Ao entrar na carruagem, Alvo aparece correndo, pedindo para o esperarmos. Sinto um alívio inundar meu peito ao vê-lo. Fazia dias que também não o via, fora da sala de aula.
- Olá pessoal - diz ele, sorridente. Ele entra na carruagem e senta ao meu lado, me abraçando com força - Estava com saudades.
- Eu também. Por que está desaparecido essa semana? - indago, triste.
Seus olhos verdes reluzem e ele gagueja ao responder:
- Bem, estava ocupado esses dias com um trabalho de Poções - ele coça a nuca, tentando não olhar para Scorpius, mas ele não consegue disfarçar.
Scorpius dá de ombros, como se a situação não fosse culpa dele. Ele está sentado ao lado de Lily, a nossa frente. Ela continua grudada em seu braço. O que não parece incomoda-lo. Acho curioso isso, pois ele sempre detestou esse tipo de contato, com qualquer pessoa, inclusive com Lily, que parece cair de amores por ele.
- O que vocês dois estão tramando? - pergunto a Alvo e Scorpius, desconfiada.
Alvo olha para a janela, vermelho como tomate e Scorpius continua com seu olhar frio. Eu não consigo ler ele. Ultimamente ele está cada vez mais fechado e difícil de compreender.
- Nada, Rose. Realmente, você pensa tão pouco de nós? - indaga Scorpius, com um sorriso presunçoso. Tenho vontade de arrancar seu sorriso, mas seguro o estofamento da carruagem.
Finalmente começamos a andar e o silêncio paira sobre nós. Não consigo responder ao que ele disse. Não consigo pensar, apenas sinto uma dor terrível em meu peito, pois seu olhar é frio e distante, como se não se importasse mais com a nossa amizade. Como se nada fosse importante para ele.
- Você tem faltado muito a monitoria - acuso, com amargura. Ele não faz questão de olhar em meus olhos, continua fitando a janela.
- Tenho estado muito ocupado. Na próxima ronda estarei lá.
Bufo, irritada, apertando ainda mais o estofamento. Alvo olha para mim, com aflição. Olho para minha mão, que está apertando a dele. Solto e peço desculpas. Ele sorri para mim, abraçando meu ombro. Esse gesto afetuoso não passa despercebido por Scorpius, que nos encara com os olhos apertados. Parece soltar faíscas de gelo sobre nós. Riu internamente, pois ele parece muito engraçado. Aconchego-me mais ao abraço de Alvo e ele não parece notar. Lógico que nossa relação é de irmãos, mas parece que Scorpius não vê assim essa situação. Ele parece possesso, algo que nunca aconteceu antes.
- Sabia que Lorcan Scamander vai estar em Hogsmeade? - diz Lily, alheia ao clima cheio de tensão. Ela parece animada, pois não para de conferir suas unhas e ajeitar seus cabelos flamejantes - Ele disse que vai levar a maleta do bisavô dele. Dá para acreditar? Não é possível ele ter trazido isso para Hogwarts. O pai dele nunca iria deixar.
Ela continua a tagarelar sem cessar. Assinto e finjo escutar. Estou tão irritada com Scorpius que não consigo prestar a atenção em Lily. Ela é uma garota doce e gentil. Não merece ser tratada com condescendência, mas hoje não está sendo um dia fácil. Finalmente a carruagem chega e nós saltamos. Hogsmeade está linda, com a decoração de Halloween em todas as lojas. A Dedos de Mel está com abóboras esculpidas em cima da porta, penduradas por um feitiço de levitação. Elas fazem caretas para os passantes e mostram a língua. Caio na gargalhada. Realmente, a magia é algo encantador. Na Zonko's há esqueletos dançantes na porta e nos telhados das lojas há teias de aranha e aranhas reais penduradas nelas. Começo a perder o ar, porque tenho aracnofobia. Sinto uma mão sobre a minha, tentando me reconfortar. Grito, apavorada e me deparo com Scorpius, sorrindo para mim, pela minha primeira vez em dias.
- Você continua nervosa, tolinha - ele debocha, com carinho.
Não me importo com sua opinião naquele momento. Apenas aperto com força seu braço e entramos na Dedos de Mel, indo atrás de Lily e Alvo, que já entraram no estabelecimento. Ela já esta atacando os doces e Alvo olha meticulosamente para a loja. Scorpius não larga minha mão e sinto seu hálito quente sobre minha cabeça. Espera, ele está cheirando meu cabelo? Olho para cima e ele está fazendo exatamente isso.
- O que está fazendo?
- Nada. É só que você está cheirando a alcaçuz - responde ele, sem o mínimo de vergonha. Ele pisca para mim e me puxa para uma prateleira repleta de doces - Vai, escolhe um. Eu pago.
- Não precisa, Scorp, eu não quero doce hoje - recuso, educadamente. Apesar disso, quero seu presente mais que tudo.
- Eu sei que você quer, Rose - ele insiste, fixando seu olhar em mim, como se pudesse me ler. Ele segura minha mão, fazendo circulos com o dedo em minha palma, enviando uma onda de colar por todo meu corpo - Parece muito estressada hoje e eu quero compensar por ter desaparecido por uma semana.
- Ok, está bem - aceito, tentando esconder meu sorriso.
Escolho feijõezinhos de todos os sabores, bolos de caldeirão, bombons explosivos, caramelos cor de mel, chicles de baba-bola e Quadrados cor-de-rosa de sorvete de coco. Scorpius me olha admirado e começa a implicar comigo pela quantidade de doce. Fica dizendo que vou ganhar vários quilos e sair rolando colina a baixo. Bato em seu braço com força e ele não parece sentir dor, pois continua a me provocar. Tento não sorrir, mas é impossível. Ele parece querer compensar por esses dias que estava distante. E estou adorando, pois sua presença me deixa muito mais alegre. Pagamos os doces para um atendente de cabelos amarelos e sorriso presunçoso. Ele não parava de flertar com Lily. Tive vontade de azara-lo, mas Alvo e Scorpius me conteram. Provalvente o cara tem vinte anos e está dando em cima de uma menina de quartoze. Apeser que Lily parece ser bem mais velha, pois tem um metro de setenta. Contudo, não gostei disso e puxei Lily pelo braço quando o rapaz pediu seu telefone.
- O que foi? - exclama ela, irritada, do lado de fora. Escuto as abóboras reclamando que estamos atrapalhando a entrada dos clientes.
Puxo ela para o lado, para que outros alunos de Hogwarts possam entrar. Nem sinal de Scorpius e Alvo. Provavelmente estão dentro da loja.
- O que foi, é isso que você me pergunta? - digo, furiosa, fuzilando-a com o olhar.
Ela pisca seus olhos castanhos, inocentemente.
- Eu não sei do que você esta falando. Está machucando meu braço.
Solto seu braço, mas não consigo segurar a raiva e explodo:
- Aquele idiota estava flertando com você e você deixou. Sabe quantos anos ele tem? É bem mais velho que você e vai se aproveitar da sua inocência.
Ela revira os olhos.
- Pare com esse discurso, Rose. Não estava dando bola para ele, mas se ele me achou bonita, que mal há nisso?
- Tudo! Ele quer se aproximar de você para fazer sabessse lá o que!
- Não se preocupe, mamãe, não irei pisar em falso.
Ela se vira para mim e sai pisando duro. Chamo-a, mas ela não se vira. Apenas caminha para bem longe de mim. Mas que diabos! Essa garota vai me deixar doida!
- Rose, o que há com você? - indaga Alvo, saindo da loja com Scorpius atrás. Ele está rindo, não posso acreditar.
- Você ainda me pergunta? - rebato, com raiva - E pare de rir, Scorpius ou vou azara-lo.
Ele levanta as mãos.
- Ei, eu não fiz nada. Até tentei resolver seu problema, pedindo para o cara de cabeça amarela não mecher com Lilian, pois ela é bem mais nova que ele.
Fito-o, incrédula. As abóboras começam a xingar a gente, gritando para que saiamos de frente da loja. Começamos a andar, não sem antes eu ameaçar a fatia-las. Elas não pareciam com medo.
- É verdade, Rose - continua Alvo, andando ao meu lado - O cara ficou apavorado, dizendo que nunca mais iria olhar para ela.
- Eu fiquei com pena dele, pois ele parecia ser legal - comenta Scorpius, rindo.
- Nada de pena, quero ele bem longe de Lily - retruco.
Continuamos nossa caminhada e avisto Lily, sentada em uma mesa do lado de fora da loja da Madame Puddifoot. Ela está sentada com Lorcan, que está vermelho. Ele parece desconfortável e envergonhado na presença dela. Ela fala sem parar, com muita animação. Ela levanta o olhar para mim, como se estivesse me desafiando a ir até lá. É claro que eu não vou, apenas lanço um olhar mortal para Lily, como se dissesse, pise em falso uma vez, e você vai se arrepender. É claro que ela não se importa e mostra a língua para mim. Scorpius ri, ao meu lado e me puxa pelo ombro.
- Vamos passear, Rose, você está muito estressada - ele convida, me levando para os Três Vassouras. Alvo concorda e diz o quanto eu preciso de uma cerveja amanteigada. Como se eles soubessem do que eu preciso.
Tive que concordar, pois a cerveja desce como uma benção. Sinto o gosto de caramelo, o que acalma meu nervosismo. Já começo a relaxar, rindo das piadas de Alvo. Scorpius não para de me encarar e sempre que o pego me olhando, ele disfarça, olhando para seu copo de cerveja. O Três Vassouras está lotado de alunos e pessoas do vilarejo. O professor Slughorn passou por nós duas vezes, nos convidando para irmos a sua festa, que será depois do Halloween. Estava muito animado e não parava de elogiar o pai de Alvo dizendo o quanto ele é talentoso e como o filho puxou ao pai. Alvo tentou não se irritar e apenas assentia. Scorpius ria de canto, contudo teve que ouvir algumas coisas que não gostou, do professor. Ele disse que seu pai era um aluno muito complicado, apesar de brilhante. E que os dois eram muito parecidos. Isso parece ter arruinado nosso passeio, pois Scorpius saiu do Três Vassouras, dizendo que iria tomar um ar e não havia voltado até o momento.
- Aquele não é o Willow? - pergunta Alvo, depois que Scorpius saiu.
- Não sei, onde? - pergunto, tentando localiza-lo no meio da multidão.
E lá estava ele, com seus cabelos dourados e desalinhados, sentado em uma mesa rodeada de alunos da Sonserina. Tinha uma garota do lado dele, Amélia Green, do sétimo, da Lufa Lufa. Ela estava segurando sua mão e o olhava com devoção. Senti o ciúme corroer meu peito e meus olhos pinicavam. Ele falava algo em seu ouvido e ela parecia rir, envergonhada. Não percebi que estava levantando, apenas movi meu corpo ir direto para a porta. Senti a presença de Alvo, atrás de mim, tentando me conter.
- Que burra eu fui - começo a falar.
- Não foi, Rose, até foi melhor assim - ele diz, abraçando-me pelo ombro e me levando para caminhar. Estava começando a nevar de novo.
- Eu achei que podia confiar nele. Achei que ele não estava brincando comigo...
Fico quieta, pois não quero falar mais nada. Não sei por que estou tão chateada. Não estou apaixonada por Leon, não mesmo. Mas sua amizade parecia sincera e havia confiado nele. Apesar que ele nem era meu namorado para que eu ficasse brava e ciumenta. Scorpius estava vindo em nossa direção. Em um momento ele parecia irritado, mas quando nos viu, olhou para mim e sua expressão mudou para preocupação. Ele veio para meu lado, me envolvendo seu abraço. Alvo disse algo para ele e saiu andando, deixando-nos a sós. Não havia percebido que as lágrimas estavam caindo sobre meu rosto. Eu estava chorando. Passei a mão sobre minhas bochechas, tentando limpar e negar meus sentimentos, mas era claro que não iria conseguir fugir. A dor era intensa.
- Ei, vai ficar tudo bem - disse Scorpius, me abraçando com força, beijando o topo da minha cabeça.
- Como sabe que vai ficar? - disse, com voz embargada.
- Eu sei que vai, você é forte. Não vai deixar ninguém te enganar e você vai sair dessa.
Continuo permitindo seu abraço e dando vazão as lágrimas. Ele me guia pela rua e paramos em frente a casa de chá. Minha prima, Lily, não está mais lá. Agradeço mentalmente. Madame Puddifoot aparece para nos atender e pergunta o que está havendo. Não escuto a explicação de Scorpius e ela serve um chá para coração partido. Ele tem uma cor rosea e cheiro de neve. Cheiro de neve? Que estranho. Começo a tomar e imediatamente sinto o efeito calmante. As lágrimas cessão e posso ver com mais clareza. Até mesmo meus sentimentos parecem ajustados. Pensar em Leon não dói, apenas causa um leve estremecimento. Acreditei nele, que ele poderia gostar de verdade de mim. Que nossa amizade era verdadeira. Ele parecia tão sincero e bondoso, sempre me ajudando e incentivando. Me abraçava com carinho, mas nunca tentou me beijar de novo. Será que confundi tudo? Será que achei que ele queria algo sério, mas no fim não era nada disso? Eu também não queria um namorado, mas se ele tivesse pedido, eu aceitaria. Eu tinha que ser sincera comigo mesma, eu aceitaria sim.
- Está melhor? - pergunta Scorpius. Ele me fita com preocupação, segundo minha mão. Ele é tão generoso, tão amável.
- Sim, estou - respondo, desviando o olhar. Estou corando. Não consigo compreender meu sentimentos. Por um momento estou apaixonada por Leon e no outro não consigo ficar normal ao lado de Scorpius. O que está acontecendo?
- Quer me contar o que houve? - ele pergunta, mas parece que ele já sabe a resposta. O fato de ter escolhido esse chá diz muito.
- Eu sei que parece idiota - eu começo e ele me incentiva a continuar, sem tirar as mãos das minhas - Eu vi Leon nos Três Vassouras com a Amélia Green e fiquei com muito ciúme. Ele tinha me beijado há uma semana e já está saindo com ela. Eu deveria saber que Leon não é um cara que leva alguém a sério.
Scorpius respira fundo, seus olhos refletem uma mágoa que não compreendo. Será que está chateado comigo?
- Era de se esperar que Leon não levasse ninguém a sério - ele diz, sem me fitar. Seu olhar está distante.
- E como você sabe disso?
- Convivo com ele há anos. Leon não é de namorar ninguém, Rose. É melhor você ficar longe dele.
Concordo por um instante, mas depois repenso.
- Espera, você está dizendo que devo ficar longe dele? - Sinto que algo está errado, muito errado.
- É claro, ele não é boa influência - dessa vez ele me fita com olhar de superioridade. Como se ele soubesse de tudo.
- Escute aqui, eu não vou obedecer você, sei cuidar de mim - retiro minha mão com força e me levanto.
- Onde você vai, Rose? - ele pergunta, incrédulo.
- Vou andar.
Aquele loiro aguado! Como ele pode dizer o que tenho que fazer? Ele desaparece por uma semana, me deixa sozinha e ainda diz o que tenho que fazer. Continuo pisando duro e sinto seus passos atrás de mim.
- Rose, espera - ele diz, sem fôlego - Vamos conversar. Não estou entendendo o motivo de você estar tão brava.
Eu estanco e quase colidimos um com outro. Algumas pessoas esbarram em nós, mas continuamos parados, nos encarando. Sou a primeira a quebrar o silêncio.
- Como se atreve a dizer o que tenho que fazer, quando você - aponto para o peito dele - some por vários dias sem me dar uma resposta. Mandei vários bilhetes, procurei você por todo o castelo e você simplesmente sumiu.
Ele não me encara agora, parece culpado. Seus olhos estão tristes. Quero abraça-lo, confortar sua dor, mas me recuso. Ele sempre faz isso, dessa vez não vou ceder.
- Rose, me desculpe. Eu tenho muitos problemas em que pensar...- ele está passando a mão em seus cabelos, como se tentasse aliviar a tensão.
- E por que você não me conta? Não quer seu meu amigo? - eu acuso, magoada. Quero fazer parte da sua vida, mas ele sempre me afasta.
- Não quero preocupar você ou te sobrecarregar, Rose - ele se aproxima, me envolvendo em seus braços. Minhas defesas foram pelos ares. Deixo que ele me abrace, sentindo seu cheiro peculiar. É um cheiro almiscarado misturado com seu perfume - E você é minha amiga. Vou ser mais presente, prometo.
- Sei. Se sumir de novo, eu vou quebrar sua cabeça - ameaço, fazendo ele rir.
Continuamos nos abraçando e ele beija os meus cabelos, respirando fundo. Eu também estou e sinto meu corpo tremer. Acho que é frio, provavelmente.
- Você está cheirando alcaçuz - ele diz, fixando seus olhos em mim.
- Você já disse isso.
- Eu sei, mas queria dizer de novo.
Ele parece querer aproximar seu rosto do meu, mas escutamos a voz de Alvo e nos afastamos. Senti um vazio em meu peito e frio sem seu abraço. Tentei me recompor, mas minhas bochechas estavam vermelhas demais. Scorpius parecia estranhamente quieto.
- Casal, sei que está ótimo o encontro de vocês, mas precisamos achar Lily - diz Alvo, tentando provocar, mas parece preocupado.
- O que houve? - pergunto, nervosa.
- Ela sumiu, ninguém a viu pelo vilarejo - ele explica.
- Lily deve ter voltado para o castelo - Scorpius diz.
- É verdade. Vamos até o castelo, tenho certeza que a encontremos no dormitório - concordo.
Alvo não parece convencido, pois diz:
- Não acho que ela esteja lá. Eu ouvi de Maryeen que ela iria a Casa dos Gritos, mas passei por lá, e não vi a vi.
- Pelas barbas de Merlin, ela entrou lá? - pergunto, aflita.
- Não sei, Rose, mas precisamos ir atrás dela.
Scorpius aperta minha mão e tenta transmitir calma.
- Fique tranquila, não tem nada de mau naquela casa - diz ele.
- Dúvido - começo a negar com a cabeça, puxando-o em direção da casa - Ouvi dizer que tem lobisomens lá. Pode até ter vampiros.
- Isso é tudo invenção, Rose - Scorpius parece convecido de que estou imaginando coisas. Alvo apenas continua quieto, como se concordasse comigo, silenciosamente.
- Vai ficar tudo bem, eu prometo - Scorpius beija minha testa, quando paramos em frente a Casa do Gritos - Vou entrar com Alvo. Você fica aqui.
Começo a negar, mas Alvo não permite que eu entre.
- Fique aqui Rose. Se não voltarmos em meia hora, pode chamar ajuda, tudo bem?
Assinto. Os dois entram no terreno, me deixando sozinha. O que faço agora? Eu entro ou espero? Sento no banco e fico olhando para a casa. Espero que Lily esteja bem, mas quando vê-la, vou mata-la.

Scorose - Quase sem quererOnde histórias criam vida. Descubra agora