O conselho de Murta

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Sentiu cheiro de folhas, terra úmida e sangue. O seu estomago se revirou, como se o mero odor revoltasse suas entranhas. Abriu os olhos, para se deparar com grandes olhos amarelos. Pensou em gritar, mas o grito ficara preso em sua garganta, pois seu corpo paralisará, sem reação. O coração, que batia com força, começou a se acalmar, pois estava reconhecendo aquele rosto e a forma como aqueles olhos a fitavam. Era um olhar de pesar, de afeição.

- David - Rose sussurrou seu nome, sentindo a garganta seca.

O susto de vê-lo ao lado da sua cama, sentado em uma cadeira, deu lugar uma felicidade infinita. Seu amigo voltara. Voltara para ela. Fez menção de se levantar, em seguida a essa constatação, contudo, ele a empurrou de leve, no ombro, fazendo-a se deitar de volta.

- Você precisa descansar - ele murmurou, olhando para os lados.

A enfermaria estava quase vazia, a não ser por alguns pacientes. Alunos que tiverem pequenos acidentes, como cair de uma vassoura jogando quadribol.

- Eu não preciso - ela respondeu, sentindo o estomago contrair pela fome. Fazia dias que pulava as refeições e não conseguia dormir. Por isso, estava na enfermaria. Desmaiara pela falta de alimentação, segundo Madame Pomfrey. Então, ela fora obrigada a tomar um caldo reforçado com vítimas e tudo que ela precisaria para ser recuperar. Mas, não poderia deixar a enfermaria. Precisava ficar em observação, pelo menos aquela noite - Eu estou tão feliz por você estar aqui...

Ele sorriu, deixando seus dentes pontudos a mostra. O sangue cobria seus lábios, o que a assustou sobremaneira.

- Como...como estão as coisas? - indagou, baixinho.

O semblante de David se tornou escuro, pesado. Com certeza, não estava sendo fácil seguir seu tio. Adrian era conhecido por sua crueldade.

- Como sempre foram - ele respondeu, passando a mão pelo pescoço - Não que eu tenha escolha agora que resolvi voltar para perto dele.

- E o sangue...- ela tocou nos próprios lábios, instintivamente.

- Ah, isso...- ele passou a dedo indicador sobre o lábio inferior, com um sorriso sinistro - Nada que sangue de um cervo não pudesse saciar minha fome.

Ela deveria estar aliviada de não ser um ser humano, contudo, não estava. David não parecia uma criatura assassina, sem sentimentos. Ele na verdade, era muito amável, contudo, ainda assim, era um meio vampiro. Talvez, os instintos de matar fizessem parte do que ele era.

- Não tenha medo - ele pediu, parecendo compreender que ela estava um tanto receosa de estar perto dele - Eu nunca te faria mal.

- Eu sei - ela respondeu, tentando convencer a si mesma de que ele não faria. Eram amigos e precisava se lembrar disso - Você descobriu alguma coisa sobre seu tio? O local que ele está escondido? - Ela tentou mudar de assunto, para que David não ficasse desconfortável, nem ela.

- Descobri pouca coisa - ele respondeu, aquiescendo e cruzando as mãos sobre o colo - Não que meu tio vá contar exatamente onde é seu covil. Ele sempre muda de lugar, para escapar no Ministério. E sempre que sou convocado, sou levado por algum dragão. Ele chama seus aliados assim. Um apelido carinhoso, não acha? - zombou, rindo baixinho - Seu tio está muito irritado com meu pouco progresso, mas juro, estou tentando o meu melhor.

- Tio Harry não deveria ficar bravo com você - ela o defendeu, se ajeitando na cama, por sentir suas energias renovadas pela conversa. Recostou a cabeça na cabeceira da cama, abraçando um travesseiro macio - Você está se arriscando.

David lhe deu um sorriso fraco, não parecendo convencido das palavras dela.

- É o mínimo que posso fazer, por ter um parente tão doidivanas.

Scorose - Quase sem quererOnde histórias criam vida. Descubra agora