CAPÍTULO QUARENTA E DOIS

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Lar

Quando deixei que ele falasse e me permiti ouvir, talvez eu estivesse delirando, mas acreditei que cada palavra dele era verdadeira, acreditei que ele era realmente sangue do meu sangue. Mas isso não muda nada.

- Eu me arrependo de ter parado de procurá-la – continuou remoendo suas escolhas, olhei para ele de forma menos defensiva.

Porque daquele sentimento eu conhecia melhor do que ninguém.

- Você pode achar que estou mentindo – riu levando as mãos calejadas aos olhos úmidos e os limpou -, mas no dia que vi você entrar naquela sala, eu tinha certeza que era ela – me fitou com um sorriso terno -, mas seus olhos são diferentes, lindos também.

Desviei o olhar mordendo o lado de dentro da bochecha, meus olhos são uma lembrança de onde vim, são do motivo e também consequência do sofrimento dela.

- Eu realmente dei uma péssima primeira impressão - disse baixo e ele riu fraco.

- Foi o contrário, você é uma pessoa boa, tem coração forte... – o olhei com certa tristeza – ela teria orgulho de quem você é. E depois de te conhecer também... e me orgulho ainda mais de Hikari pela criança que colocou no mundo.

Desviei o olhar tentando segurar um sorriso amargo de dor, mas não sabia ao certo o que sentia, era embaraçoso tentar entender aquele reboliço de memórias e encarar que ela nunca mais vai voltar, que ela era alguém antes de mim, que tinha uma vida totalmente diferente do que um dia eu poderia experimentar com ela.

Eu era a menor parte da vida dela e provavelmente a mais dolorida.

- Como... como ela era antes de mim? – apertei os dedos em torno do braço de madeira do banco e o encarei esperando uma resposta.

O homem sorriu respirando fundo e então fechou os olhos.

- Hikari sempre foi uma alma livre. Ela tinha ideias, amor, conhecimento e... – espremeu os lábios voltando seu olhar ao meu – lutava como um tigre, mas era tão graciosa no modo que andava e conversava.

- Como uma princesa... – comentei sentindo um nó firme se fazer em minha garganta.

- Sim, vocês são mais parecidas do que você imagina, tirando a parte dos palavrões – franzi o cenho com o sorriso fácil dele.

- É – concordei lembrando de que toda vez que ela discutia com algum lacaio presente em nossa “prisão” sempre tapava meus ouvidos -, mas como ela foi parar naquele lugar? – questionei e ele ficou em silêncio por um tempo.

- Me perdoe, mas eu também não sei. Ela saiu em uma missão de busca e nunca mais voltou.

- Não pode ser só isso... busca de quê? – o olhei rapidamente querendo respostas.

- Um grupo de ninjas nossos desapareceu – juntou as mãos – ela não aceitava o fato deles terem sumido e somente ela sabia o que eles estavam transportando – cerrei os dentes.

- Como você não sabia? - o fitei incrédula.

- Foi um erro meu, eu saí em viagem naquela semana e ela ficou na parte de mandar as missões, quando retornei Hikari se recusou a dizer o que era.

I Kill You  +18Onde histórias criam vida. Descubra agora