CAPÍTULO CINQUENTA

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Eu trouxe ela para casa

Kimiharu certamente é terrível para conselhos.

Mordo o canto da boca observando Tobirama esparramado na cama após puxar todas as cobertas para si mesmo. Uma fisgada no peito me fez arfar silenciosamente contraindo o maxilar, foi uma má ideia correr naquelas condições e eu estava sentindo os danos desde que me sentei a beira da cama. Mas preciso admitir que estaria menos frustrada se fossem apenas danos físicos.

Nos últimos dias uma dor significante vem tomando a marca e eu não consigo fazer minha melhor feição para tentar esconder isso, não depois de cair contra uma parede. Apoiei a palma da mão sobre a marca e um sentimento de dor correu por meu peito, não o tipo de dor que passa com remédios, mas aquela latente que vai e volta querendo te fazer chorar em momentos inoportunos.
Eu não queria nada disso.

E também me senti culpada por me sentir arrependida de ter feito a ponte com a Okami Jigen, mesmo tendo sido forçada.

Respiro fundo fechando os olhos por um instante temendo que imagens daquela noite atravessem minhas pálpebras. Ter pesadelos pode até não ser tão ruim, mas alucinações enquanto acordada, ser puxada da realidade é algo que não pode acontecer, eu não sou insana.

Olho com certa preguiça para os primeiros raios de sol que manchavam o teto vagarosamente com o dourado mais puro possível. Senti meus olhos umedecerem por um momento.
Era um milagre estar viva. E mesmo assim, eu não estava feliz.

E no momento seguinte me senti cansada de tentar fazer diferente, de demonstrar estar bem. Me senti tão abatida que mal conseguia expressar o que sentia. Era como se respirar fosse cansativo. Eu estava cansada de tentar ser alguém diferente desde que acordei. Talvez eu me sinta culpada por não tentar depois de tudo que fizeram por mim.

De repente, estar ali parecia uma ideia tão idiota. Olhei para o rosto do homem mais uma vez me dando conta de que iria retornar para minha mesa, para a papelada, para o tatame. Acho que vou sentir saudade disso tirando tudo que não envolvesse a merda do Mahito e todos aqueles problemas que ocupavam a maioria do tempo, mas aqueles poucos momentos que tive nessa casa, nessa vila, com essas pessoas valeram tanto que me pergunto como é possível ter medo de continuar isso. Sei muito bem o porquê, é mais um autojulgamento. Se julgar é mais fácil do que tentar se compreender.

Eu não sei até quando vou aguentar isso.

O nervosismo começou a subir por minha garganta fechando todo o caminho do ar. Senti meu corpo enrijecer e olhei para Tobirama me perguntando se ele poderia sentir o que estava acontecendo comigo ali, assim como eu sentia Haruze em suas crises. Embora as delas fossem visíveis, diferente de mim que apenas congelava no lugar. O tempo estava parado e tudo que eu conseguia fazer era implorar para que meu coração parasse de martelar em minhas costelas tão rápido, tão descontrolado.

Fechei os olhos tentando me acalmar, mas parecia tão real a hipótese de meu coração explodir, quem sabe abrir meu peito novamente. Meus dedos afundaram contra o colchão agarrando a coberta e apertando.

Senti um par de mãos envolvendo minhas bochechas, mãos quentes e tão carinhosas apesar dos calos. Não precisei abrir os olhos para saber que ele estava ali, eu sentia através de sua pele o seu chakra tão suave desta vez e tão quente, parecendo o sol. Um sol apenas meu. Eu senti vontade genuína de chorar quando ele apoiou minha bochecha em seu ombro me puxando para si.

- Vai ficar tudo bem... – a mão no topo de minha cabeça parecia me ninar.
Comecei a desviar a atenção somente para seu toque, para seu calor, deixando de lado o medo intrínseco de morrer que estava sentindo.

I Kill You  +18Onde histórias criam vida. Descubra agora