Capitulo um.

352 32 1
                                    

Fechou e abriu os olhos três vezes antes de desabar, sem reação, na cadeira estofada da sala do doutor Hashirama. Tentou conter as lágrimas, mas tudo já estava saindo do controle; com as mãos trêmulas conseguiu limpar uma gota travessa que insistia em escorrer por sua bochecha.

- Vai ficar tudo bem - O senhor disse tentando acalma-la - Minha querida...

Sakura apenas concordou e se empenhou em controlar a própria respiração. Balançou a cabeça, concordando, e saiu porta a fora do consultório sentindo que carregava o próprio coração nas mãos.

Saiu para o vento frio da noite e abraçou o próprio corpo, tremendo violentamente enquanto tentava refrear os próprios pensamentos. Estava sem condições de dirigir agora e precisava se acalmar.

Sentiu o concreto duro da calçada antes mesmo que pudesse raciocinar e então apenas permaneceu lá, jogada no meio fio enquanto externava toda a dor que podia sentir.

Desde o acidente que não conseguia mais se mover como antes; sentia dores nos calcanhares sempre que tentava arriscar um ou outro passo em frente ao espelho e chorava de frustração quando não conseguia ficar nas pontas dos pés. Tão simples. Tão patético.

Agora entendia porque não conseguia mais fazer aquelas simples coisas desde que aconteceu o acidente. Ela não poderia mais ser bailarina.

Um osso quebrado que nunca mais voltaria ao normal e toda a vida de Sakura tinha ido pelos ares. Primeiro ela e Sasori tinham rompido, um término tão besta que fez seu coração arder enquanto revisitava as lembranças cruéis dos primeiros dias depois do seu acidente.

Se lembrava de estar com as pernas engessadas e praticamente sedada quando, por ligação, ele a informou que precisava de um tempo para pensar. Tudo bem que namoravam a apenas um ano, mas saber que ele tinha desistido dela quando mais precisou ainda doía.

Agora ela não sabia mais o que poderia fazer da vida; sem seu talento e seu sucesso quem era? Nem mesmo ela sabia. Tinha trabalhado duro, ensaiado por horas, só pra poder chegar aonde chegou. E agora simplesmente não tinha nada.

Tentou frear as lágrimas, mas percebeu que seu corpo sacudia tanto que não podia se conter. Apertou o concreto frio do chão com as mãos tão forte que seus dedos ficaram esbranquiçados pelo esforço.

Quando Sakura saiu do hospital percebeu que seus amigos, ou pelo menos aqueles que achava serem seus amigos, tinham lhe dado as costas.

O pessoal da academia mal tinha dado notícia e nem mesmo Ruan, que ela julgava ser um cara legal, tinha entrado em contato para saber como ela estava. Sasori foi só mais uma pessoa que foi embora.

- Moça... - Uma voz grave a fez levantar os olhos, abatida - Você quer que eu chame alguém?

Sakura franziu o cenho e automaticamente apertou mais a bolsa contra o corpo, temendo que pudesse ser algum assaltante ou algo assim.

- Eu só... - O rapaz coçou a cabeça, tímido - Fiquei preocupado.

Sakura analisou o conjunto de roupas florescentes - laranja e azul, mais especificamente - e relaxou ao perceber se tratar apenas de um dos seguranças do estacionamento do hospital.

- Eu... - Tentou falar, mas as lágrimas ainda saiam com força total por isso decidiu permanecer em silêncio.

Ao contrário do que imaginou que o garoto faria, ele se sentou ao seu lado. Sakura apenas continuou lá, chorando freneticamente, as mãos e o corpo todo convulsionando em pura agonia.

Em algum momento o rapaz, percebendo que ela devia estar com frio vestindo somente aquele vestido leve, retirou sua jaqueta gasta e pôs sobre os ombros da mulher.

Sincronia. Onde histórias criam vida. Descubra agora