Capítulo 1

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Capítulo Um

O restaurante era famoso e caro, e Felicia precisou fingir estar desatenta ao olhar de desdém que o garçom lançava para seu casaco surrado, enquanto ela examinava rapidamente com os olhos os ocupantes das mesas.

Seu ânimo ressurgiu quando enxergou Faisal, e o garçom, revendo a opinião que tinha a respeito dela ao perceber com quem iria jantar, abriu caminho com uma rapidez que Felicia achou divertida. A atitude dizia muito sobre o poder do dinheiro, refletiu ela, enquanto Faisal afastava a cadeira para se levantar, um sorriso elogioso brilhando em suas belas feições.

— Sinto muito pelo atraso — desculpou-se Felicia, quando ambos se sentaram. — Saí tarde do escritório.

— O escritório! Pff! Já não lhe disse para deixar esse trabalho inútil? — perguntou Faisal, com uma arrogância que a desanimou um pouco.

Mulher atraente, com cabelo castanho que descia em cachos até os ombros e olhos verde-escuro que denotavam seu comportamento naturalmente reservado, Felicia não percebia os olhos examinadores de alguns dos comensais. Embora seu suéter bem-ajustado e sua saia de tweed a diferenciassem bastante das pessoas elegantemente vestidas em casacos de pele e roupas de seda que estavam no restaurante, tinha uma beleza graciosa que atraía os olhares masculinos.

E pelos olhares de ciúmes que lançava aos outros homens que ousavam olhar para Felicia, era óbvio que Faisal percebia isso. Mas a própria Felicia estava completamente alheia ao leve frisson causado por sua entrada.

Ela conhecia o jovem kuwaitiano havia apenas seis calorosas semanas. Um interesse mútuo pela fotografia levara os dois a se conhecerem em aulas noturnas. Um ou dois encontros casuais se transformaram era três regulares por semana e, nos últimos tempos, em encontros na maioria das noites, à medida que Faisal se tornava cada vez mais possessivo.

Com a insistência de Faisal em levá-la para almoçar na maioria dos dias da semana e se encontrar com ela também quase todas as noites, tornou-se impossível manter o romance em segredo, escondido das outras mulheres do escritório. Primeiro, elas zombaram de Felicia sem misericórdia, até perceberem que o caso estava ficando sério. Depois, as brincadeiras leves se transformaram em avisos de
poderia acontecer com garotas européias tolas o suficiente para levar a sério as promessas de homens ricos. Felicia tinha certeza de que Faisal a respeitava demais para magoá-la da maneira como as amigas insistiam que ele faria, mas, mesmo assim, se surpreendera e, depois, se sentira lisonjeada quando ele começara a falar em casamento.  

Durante aquelas conversas, Faisal lhe contara muita coisa sobre a família, da mesma forma como ela lhe falara dos pais, que morreram tão jovens e de maneira tão trágica, quando ela era ainda muito nova, pouco mais que um pequeno bebê, deixando-a para ser criada pela tia Ellen e o tio George, em sua fria casa de granito, nos prados de Lancashire.

Sua infância não fora feliz. O tio George se tornou um tutor inflexível e rigoroso, cuja constante rejeição dera origem à falta de confiança em si mesma, junto com o sentimento de que, não tendo conseguido conquistar o amor dele, fracassara como ser humano. Consequentemente, sob o calor da adoração que Faisal expressara imediatamente, ela começara a florescer, como uma planta levada do frio para uma estufa tropical.

As histórias da infância de Faisal a encantavam, e Felicia sempre se pegava pensando em como ele tivera sorte de ter sido criado cercado pelo amor da mãe e das irmãs. Se ao menos ela também pudesse ter feito parte de uma família tão feliz...

Felicia logo admitiu que Faisal a deixara completamente perdida. Eles não se conheciam o suficiente, protestava ela quando ele falara tentadoramente sobre casamento. Mas Faisal afastava seus protestos. Eles haviam sido feitos um para o outro. Como ela podia negar isso? Como podia, se ele a envolvia no calor protetor de seu amor? Ela não dissera nada para as colegas de trabalho. Faisal só a queria como uma companhia enquanto estivesse passando um tempo em Londres, antes de seu retorno para casa, onde teria um "bom" casamento, arranjado pela família. Isso era o que elas diziam, mas Felicia sabia que não era verdade.

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