As lágrimas caíam sem parar sobre as bochechas brancas de Felicia. Ela continuou caminhando, de cabeça baixa, sem compreender aonde seus pés despreocupados a levavam, envolta em pensamentos.
O sol era intenso e queimava sua nuca. As pernas doíam e parecia que Felicia estava andando havia muito tempo, mas, por estranho que parecesse, não sentia desejo de parar. Algum instinto que fugia de seu controle a incitava a continuar andando. Sua blusa estava molhada de suor e o cabelo grudava-se na pele. Ela ergueu a mão com indiferença para afastar uma mosca persistente que voava perto de seu ouvido. Sua cabeça estava confusa, e ela, com muita, muita sede. Felicia pensou em um copo de suco de limão fresco. Então, fez uma pausa súbita e olhou para trás, na direção de onde tinha vindo. Estava perdida! Completa e absolutamente perdida. Ela violara a primeira lei do deserto. Caminhara para longe da proteção acolhedora do oásis e ninguém sabia aonde fora.
O que era pior, Zahra e Umm Faisal iriam visitar a mãe de Saud à tarde e provavelmente ninguém perceberia a sua ausência até que ela não aparecesse para o jantar! A dura realidade de sua condição dissipou a névoa que impedia sua mente de funcionar. Por mais que procurasse na distância, não havia sinal do oásis, não havia sinal de nada, exceto a vasta solidão do deserto.
Ela teve que se sentar porque as pernas de repente se recusaram a sustentá-la por mais tempo, e, de qualquer forma, não havia uma recomendação quanto a ficar em um único lugar, porque quando você estava perdido, andava em círculos exaurindo as frágeis defesas do corpo e tornando mais difícil o resgate? Felicia passou a língua pelos lábios e provou o sal que rodeava seu lábio superior. Fechando os olhos em desespero, ela se lembrou dos tabletes de sal que deveria estar tomando. Enjôo e tontura a tomaram em ondas que se alternavam, os olhos doíam por conta do clarão violento do sol. Para qualquer parte que olhasse só via uma interminável paisagem de areia.
Com o tempo, quando ficou definitivamente claro que estava de fato perdida, se deixou cair ao pé de uma das dunas, torcendo para que a exígua sombra que ela oferecia proporcionasse alguma proteção contra o calor desidratante do sol.
Nada se mexia. A única criatura tola o suficiente para desafiar a natureza era ela: uma pálida e frágil fêmea.
O tempo passou. Ela dormiu e acordou, com câimbra e sedenta como nunca.
O mundo era uma bacia de latão fervente, sem lugar para onde pudesse escapar dos fortes raios do sol.
Ela fechou os olhos de novo e tentou não pensar nas fontes borbulhantes dos pátios. Passou a língua pelos lábios rachados. A garganta parecia ter engolido o Saara inteiro. Sua ausência já teria sido percebida? Sem o seu relógio, ela não tinha como medir o tempo.
Primeiro, lentamente; depois, cora um medo crescente, Felicia percebeu que, quando alguém desse conta de sua ausência, poderia ser tarde demais.
Ela teria chorado, mas não possuía mais lágrimas. Enjoada e exausta, tentou se arrastar um pouco mais pela areia, mas novas ondas de náusea a impediram. A paisagem dançava sob os pés dela e os olhos se recusavam teimosamente a enxergar direito.
Emitiu um soluço seco. Morreria sozinha naquele ambiente árido; seus ossos seriam pegos por abutres.
Felicia ficou histérica. Pare com isso!, ordenou a si mesma. Não conseguiria nada se deixasse se levar pelas emoções. Ela não podia culpar a ninguém a não ser a si mesma, e, de qualquer forma, que prazer tinha H vida para ela agora?
O insistente sol da tarde lançava longas sombras sobre o deserto. Muito acima da areia do deserto inerte, um pássaro dava voltas e planava, uma pequena mancha na distância. Sua audição aguçada, mais precisa que a de qualquer humano, escutou um som que atravessou o ar límpido e ele fez círculos sobre a garota umas duas vezes antes de se dirigir batendo as asas para o oeste. Vozes foram ouvidas pela consciência de Felicia sem muita clareza, como as ondas escutadas através de uma concha.
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Um Amor Arábe
RomanceSinopse: Felicia sabia que haveria obstáculos a superar quando concordou em ir sozinha ao Kuwait visitar os parentes de seu noivo, Faisal. Ela era uma garota inglesa comum, enquanto ele era um árabe de uma família imensamente rica. Mas havia um pro...