Não houve oportunidade de conversar no caminho de volta para casa, embora, por uma ou duas vezes, Felicia tenha percebido os olhares simpáticos que Zahra lançava para ela, de uma forma que zombava da esperança de que não tivesse percebido a raiva do tio.
Quando o carro parou no pátio externo, ela sussurrou gentilmente para Felicia.
— Não fique muito chateada, eu sempre odeio quando Raschid se irrita comigo. Aquela terrível raiva fria é bem pior do que se ele perdesse a calma.
Felicia estava se sentindo agitada demais para se acalmar com as palavras consoladoras e só exclamou brevemente:
— Seu tio pode tomar para si a responsabilidade de controlar sua vida, Zahra, mas jamais vai controlar a minha. Se eu quiser andar pelas ruas do Kuwait sozinha, vou andar!
Dizendo isso, entrou em casa de cabeça erguida, e Zahra a seguiu apressadamente.
— Ele a deixou com muita raiva, não foi? — perguntou ela.
— Raiva? — Felicia quase se engasgou de indignação. — Ele praticamente me humilhou! Tratou-me como... — Parou de falar. Não havia sentido em tentar fazer Zahra entender seus sentimentos. — Ai, de que serve? — disse ela, cansada. — O que me deixa feliz é que, quando estivermos casados, Faisal e eu poderemos seguir nosso caminho. Eu odiaria morar aqui sob o teto de seu tio. — Ela parecia tão amargurada que Zahra franziu a testa, triste, tocando o braço de Felicia.
— Talvez Raschid não entenda, Felicia. Se eu dissesse a ele que você está chateada... Faisal também não aprovaria, sabe? — disse ela gentilmente. — Vou falar com Raschid...!
— Não! Não, Zahra, não faça isso. — Na mente dela, Felicia estava pensando em como vinha fracassando horrivelmente na missão da qual Faisal a in-cumbira, mas Zahra entendeu errado o que dissera e sua boca se abriu em um sorriso aliviado.
— Você já está começando a perdoar tio Raschid - arfou ela. — Eu sei que ele não queria irritá-la, Felicia. Às vezes, ele esquece de como é terrível!
Como um falcão esquece da presa, pensou Felicia com amargura. Zahra via o parente de um ângulo positivo. Perdoá-lo! Aquilo era algo que Felicia jamais faria! Quando se lembrava do que ele dissera dela e da expressão em seus olhos...
Sua mãe normalmente descansava durante a tarde, Zahra explicou a Felicia quando entraram. É uma prática que ela provavelmente adotaria quando os dias ficassem mais quentes, acrescentou, e, por causa disso, era costume da Família não se reunir para comer até o começo da noite.
Depois que tomou banho e vestiu um fresco vestido, Felicia inspecionou seu reflexo no espelho. Sua aparência estaria "casta" o bastante para passar pelos rígidos critérios de Raschid?, perguntou a si mesma com ironia. Seu vestido tinha gola redonda e mangas revestidas, a gola e a barra eram bem brancas, contrastando com o algodão amarelo-limão. Ela lavara o cabelo e ele descia em cachos atraentes até os ombros, estavam mais vermelhos que louros à luz mortiça. Uma corrente de ouro chamava atenção para o pescoço, um bracelete do mesmo tipo envolvia seu pulso, usava salto alto e sandálias de amarrar completavam seu vestuário.
No jantar, comeram ovelha assada, deliciosamente temperada com ervas, folhados recheados com legumes exóticos e pratos com arroz picante. E Felicia gemeu um pouco ao pensar nos efeitos de toda aquela comida em seu corpo.
Acabada a refeição, as empregadas reapareceram com uma imensa bandeja de frutas frescas e mais dos assustadoramente calóricos folhados e pastéis de amêndoa que comeram na noite anterior.
Felicia aceitou um pedaço de melão e alguns doces de tâmara fresca, percebendo que Raschid comera a mesma coisa, embora sua irmã e Zahra tivessem preferido os doces de amêndoa, despreocupadas com as consequências.
Depois do jantar, um criado entrou com xícaras de café e um elegante bule de prata, enchendo as delicadas xícaras com o líquido grosso e fumegante e as entregando aos comensais.
Felicia levara os presentes para o primeiro andar e os escondera sob a cadeira. Ela pensara em distribuí-los depois do jantar quando, esperava, Raschid se retirasse para seus aposentos, mas, para irritação dela, ele parecia determinado a ficar, recostando-se na cadeira com uma graça que ela jamais vira, o cabelo preto-azulado sob a luz de um candelabro. Felicia se perguntava se ele já se sentara de pernas cruzadas nas tendas de sua tribo, comendo de um prato comum e bebendo de um copo comum, como a hospitalidade árabe exige. Em sua roupa feita à mão e extremamente cara, ele parecia um empresário sofisticado, mas ela percebia que debaixo da fachada suave pulsava um homem tão primitivo
quanto o deserto que era seu lar natural.
Enquanto Faisal e Zahra conversavam, os olhos de Felicia se voltaram repetidas vezes para o homem de rosto fechado, sentado à frente dela. A traiçoeira e arrebitada curva de seu lábio inferior chamava a atenção dela, como antes, e Felicia tremia involuntariamente, imaginando como seria sentir aquela boca rígida contra a sua, aquela pele quente e dourada perto da brancura cremosa da dela.
Um calafrio passou pelo seu corpo. O que ela estava pensando? Em vão, tentou lembrar da protetora imagem das feições mais suaves de Faisal, como se fosse um talismã que afastasse os efeitos potentes da masculinidade de Raschid. O que havia de errado com ela?, perguntou-se, desesperada. Raschid representava tudo o que ela mais desprezava. E, no entanto, ali estava, comparando os dois e achando que as feições duras tinham de alguma maneira se insinuado em sua lembrança, sobrepondo-se à imagem mais gentil de Faisal. Aquilo não podia ser tolerado. Em vão, Felicia tentou recordar do sorriso caloroso e dos olhos cheios de compaixão de Faisal, mas, como se o outro tivesse lançado um feitiço sobre ela, tudo o que conseguia ver era a imagem do sorriso desdenhoso e dos frios olhos cinza de Raschid. Como se estivesse era transe, tentou afastar os pensamentos tormentosos, assustada com a atração momentânea que sentia pelo homem sentado à sua frente. Apressadamente,
Felicia se curvou para pegar os embrulhos, com o rosto vermelho.
— Comprei lembrancinhas da Inglaterra para vocês duas, um pequeno sinal de minha gratidão pela hospitalidade.
Umm Faisal inclinou a cabeça graciosamente, mas Zahra foi muito menos inibida.
— Um presente? — exclamou ela com olhos brilhantes. — Ah, Felicia, que amor! Mas você não devia...
— Não é nada muito interessante, acho — avisou Felicia, lembrando-se das palavras depreciativas que Faisal sempre usava antes de lhe dar um presente absolutamente maravilhoso. Era uma característica árabe depreciar suas posses. Isso vinha desde os dias em que se orgulhar das próprias conquistas poderia trazer "os olhos do mal" para sobre o orgulhoso. E ela sabia que era costume árabe dar as boas-vindas ao visitante em sua "humilde" casa, mesmo que a casa fosse um palácio.
Com alguma apreensão, observou Zahra abrir o presente. Mas a garota arfou de prazer e ela esqueceu os medos de que não fosse bem recebido. Mesmo Raschid foi forçado a admirar o conteúdo da caixa de maquiagem, embora tenha feito com uma típica indulgência masculina para com a alegria das mulheres. O
prazer de Umm Faisal foi um pouco mais contido, mas tão genuíno quanto o de Zahra. E Felicia ficou feliz por Faisal ter lhe contado que tipo de perfume a mãe preferia.
— É maravilhoso! — exclamou Zahra, cheirando o frasco. — Eu me lembro de um que al-Azir fez para você certa vez, quando estivemos em Jeddah, mãe. Você se lembra?
— Com certeza eu me lembro — interrompeu secamente Raschid. — Era extremamente caro.
Felicia sorriu polidamente com a piada dele e olhou para ver Zahra a observando em expectativa.
— Onde está o presente de Raschid, Felicia? Ou você só vai lhe dar quando ele lhe pedir desculpas pela tarde de hoje? — provocou ela com um sorriso.
Felicia sentiu a cor fugir de seu rosto. Como podia dizer que não trouxera presente para Raschid? Ela mordeu o lábio e então se lembrou do peso de papel que comprara para Nadia, a irmã mais velha de Faisal.
— Está lá em cima — improvisou ela apressadamente, odiando o fato de a culpa queimar suas bochechas. — Não tinha certeza se Raschid jantaria conosco.
— Você o perdoou, então. Sabia que sim. Vá e pegue o presente — pressionou Zahra, antes de se virar para a mãe com os olhos brilhando. — Tio Raschid foi rude com Felicia essa tarde, mãe. Ela não pensou em pedir a ele para trocar o dinheiro dela e foi ao banco sozinha!
A expressão de choque no rosto de Umm Faisal fez Felicia perceber que Raschid falara a verdade quando a avisara sobre o comportamento que deveria ter. E ela utilizou a distração criada pelo anúncio de Zahra para pedir licença e subir a escada para pegar o peso de papel.
Felizmente fora embrulhado em papel prateado e listrado, servindo para ambos os sexos. Odiando-se pela mentira, Felicia correu para o térreo com a pe-quena embalagem. Quando resolvera não trazer presente para o tio de Faisal, não esperava encarar uma situação como a daquela noite!
Ao entregar a caixa quadrada e pequena para Raschid, seus dedos tremiam e acidentalmente tocaram os dele. O breve contato deixou seus sentidos comple-tamente abalados, os olhos dela, arregalados. O pavor preencheu seu pequeno rosto em forma de coração. Ela sabia que seria muito esperar que o homem que a agradecia tão polidamente por sua atenção não percebesse o gesto traidor.
Nada escapava aos olhos cinza esfumaçados, agora sardônicos, receptivos e divertidos. E Felicia voltou correndo para a cadeira, desejando ter esperado um momento mais propício para entregar os presentes.
— Vá em frente, então, abra! — pediu Zahra ao tio, olhos fixos no pacote. — Estou morrendo de curiosidade para saber o que tem dentro!
— Melhor abrir logo o presente antes que a srta. Gordon me acuse de ser ainda mais cruel com minha família — comentou Raschid com tranqüilidade, en-quanto dedos finos abriram facilmente o embrulho.
Quando o papel cedeu para revelar a caixa de couro azul-escuro, Zahra soltou um suspiro impaciente.
— Raschid, vá mais rápido, parece algo muito interessante!
Na crescente escuridão da sala oriental, com suas paredes brancas e vazias e tapetes persas luxuosos e ricamente coloridos, com mobília antiga de preço astronômico e patina brilhosa, a pura beleza do vidro azul-esverdeado era um marcante lembrete do país que Felicia deixara para trás. O vidro era de Caithness, na Escócia, onde os artesãos se orgulhavam de fabricar pesos para papel muito densos, colocando dentro do vidro pequenas flores, pétalas e anêmonas do mar para que sua beleza permanecesse neles para sempre. O que Felicia escolhera tinha uma anêmona azul-esverdeada e fazia parte de uma série limitada. Era, certamente, bastante caro, mas ela se apaixonara pela beleza fria e remota da peça.
Observava com a respiração presa na garganta enquanto Raschid retirava o presente do cetim que o envolvia, equilibrando-o sobre a palma da mão. O silêncio que se seguiu era um tributo ao artesão que concebera e construíra a peça.
— É lindo — sussurrou Zahra, tocando a peça com dedos delicados. — Tão fria e renovadora quanto você, Felicia.
— É um presente que qualquer árabe valorizaria, srta. Gordon — concordou Raschid com voz profunda. — O fabricante capturou a qualidade e a cor do mar de nosso golfo e nada é mais precioso para a nosso povo que a água.
— Pode ser usado como suporte para caneta ou apenas como peso para papel — informou Felícia, surpresa com a leve rouquidão de sua voz. Por alguma razão sutil que não conseguia entender, o presente ganhara uma aura intensamente pessoal, que ela não pretendera que tivesse. Ao comprá-lo, a vendedora lhe dissera que fora concebido para ser usado como porta-caneta ou frasco de perfume. E foi pela última razão que ela o achou adequado para Nadia, além de por causa de sua beleza, claro. Graças a Deus não comprara perfume para ela, concluiu Felicia, reprimindo uma risada nervosa. Se o houvesse feito, teria ficado em uma situação embaraçosa, lembrou a si mesma, tentando não perceber o exame frio que Raschid fazia tanto dela quanto do presente.
— Você é muito generosa — disse ele por fim, olhos cinza como prata fixos nos verdes olhos ansiosos dela. — Mais generosa do que eu mereço. — Raschid
colocou o peso para papel de volta na caixa, a fechou e se levantou. — Se vocês me dão licença, preciso resolver alguns assuntos de negócio.
Felicia queria perguntar se havia cartas para ela. Zahra lhe dissera que toda a correspondência, independentemente do destinatário, passava por Raschid, e ela esperava que houvesse uma carta de Faisal. Embora estivesse no Kuwait havia apenas pouco tempo, Faisal não lhe escrevera desde a partida de Nova York e ela nutria esperança de encontrar uma carta esperando por ela quando chegasse. Uma carta dele ajudaria a banir a lembrança daqueles segundos de tensão em que a apreciação de Raschid ameaçara tomá-la por completo. E ela precisava urgentemente da segurança que as notícias dele lhe trariam.
— Como foi sábio de sua parte escolher presentes tão maravilhosos — murmurou Zahra, a admirando. — Especialmente o de Raschid. Faisal lhe disse que ele coleciona vidros raros?
Felicia abanou a cabeça. Parecia haver muita coisa que Faisal não lhe contara sobre o tio e ela imaginava intuitivamente que essas omissões haviam sido propositais.
— Você está mostrando ter siyasa, afinal de contas, Felicia — falou Zahra para ela. — Sua generosidade vai amolecer o coração de Raschid.
Era a última coisa que aconteceria, pensou Felicia, desesperada. Se Raschid pensasse que ela estava intencionalmente tentando suavizar sua hostilidade, ficaria menos disposto do que nunca a vê-la sob uma luz favorável.
— O dia do meu aniversário está perto — confidenciou Zahra. — Raschid prometeu que nós vamos para o oásis por alguns dias. Você vai gostar. Acho que não vou poder passar muito tempo lá depois de me casar, porque é, na verdade, a casa de Raschid. Então, isso vai ser uma gentileza especial da parte dele.
Era a primeira vez que Zahra mencionava o casamento e Felicia não gostava de se meter em assuntos alheios. Porém, elas estavam sozinhas, Umm Faisal pedira licença e se retirara, e Zahra parecia estar no clima para fazer confidencias.
— Compraram o material para a roupa do meu casamento hoje à tarde — contou ela, franzindo o nariz de leve. — Claro, não devo saber nada a esse respeito.
— Você não se importa de se casar com um estranho? — perguntou Felicia com curiosidade, esperando não estar pisando em terreno perigoso, porque não tinha intenção de irritar a outra mulher.
Zahra pareceu chocada e indignada.
— Saud não é um estranho! De onde tirou essa idéia? — Ela abanou a
cabeça.
Sentindo-se bastante perplexa, Felicia falou, hesitante:
— Mas quando seu tio falou em negociações, pensei que seu casamento fosse do tipo arranjado.
Zahra riu.
— Bom, sim, de alguma forma, acho que é. Saud e eu nos conhecemos na universidade, mas a família dele é muito importante e muito convencional. Saud deveria se casar com a prima em primeiro grau, como é costume, mas felizmente Raschid conseguiu descobrir que a garota queria se casar com outra pessoa. Então ele persuadiu a família de Saud a me aceitar como esposa. Poderia ter sido muito difícil, porque seria um insulto imperdoável se Saud se recusasse a casar com a prima. E, do mesmo jeito, se a mulher se recusasse a casar com ele. Isso faria com que o pai dela fosse desonrado. Nosso casamento vai ocorrer muito em breve, mas, primeiro, deve haver visitas formais. — Ela fez uma careta. — É tudo tão bobo, na verdade, temos que fingir que não nos conhecemos. Eu ficaria muito feliz de me casar à maneira inglesa, mas Raschid diz que, às vezes, o caminho mais longo é, na verdade, o mais curto.
Felicia não sabia o que dizer. Imaginara que Zahra estivesse sendo forçada a se casar por questões políticas e suspeitara mesmo que, de uma forma ou de outra, Raschid se beneficiaria financeiramente com o casamento. Agora estava sendo forçada a rever suas suspeitas.
— Claro que a família de Saud exigiu um dote muito alto — continuou Zahra sem espanto, surpreendendo-a ainda mais. — Mas Raschid foi muito generoso. Você deve pedir à minha mãe para mostrar-lhe minha arca nupcial. Ela vai guardar os presentes de Saud para mim em nosso casamento. Está em nossa família há dez gerações.
Felicia ainda estava digerindo aquela nova e indesejável visão das ações de Raschid quando Zahra pediu licença, dizendo que precisava estudar. Quando saiu, Felicia fitou o jardim no escuro. Parecia que ela se equivocara completamente quanto às razões de Raschid, ao menos no que dizia respeito a Zahra, porque não havia como se enganar quanto às atitudes dele em relação a Felicia. O convite que lhe fizera para ir ao Kuwait era um caminho mais longo para destruir o amor que Faisal sentia por ela? Com considerável ansiedade, Felicia andou inquietamente da janela para a porta, saindo para o pátio, tentada por sua solidão convidativa e pelo ar fresco. Estava mais fresco do lado de fora do que ela esperava e Felicia tremeu em seu fino vestido. A música das fontes era particularmente assustadora à noite, combinando com seu humor, e ela se sentiu arrastar para a água límpida e fria que caía sobre a piscina de mármore. Passou pelos pássaros no aviário e suspirou levemente. Ela era tão prisioneira quanto eles, embora as
paredes da prisão dela fossem o costume e a hostilidade.
— Srta. Gordon!
Ela ficou paralisada quando o vulto se aproximou dela, o som de seu nome naqueles lábios cruéis fez com que um arrepio de apreensão corresse por sua pele. De repente, a escuridão aveludada parecia esmagá-la, cada instinto a aconselhava a fugir, enquanto Raschid emergia das sombras, cruzando o pátio em silenciosa discrição.
Ela pensava estar sozinha ali; Raschid era a última pessoa que esperava se materializar a seu lado. Tentou disfarçar o susto, fazendo força para dizer calmamente:
— Achei que... Não o vi. Zahra me disse que você havia saído.
— E saí — concordou ele. — Mas agora voltei e, como você, fiquei tentado a vir ao jardim para admirar a solidão.
Felicia se virou, pretendendo retornar à proteção da casa, mas os dedos dele pegaram seu ombro, forçando-a a permanecer muda sob a avaliação pensativa dele. Os olhos de Raschid pareciam despi-la de suas frágeis defesas, deixando-a exposta e vulnerável, com os olhos arregalados e incertos, enquanto tentava sustentar o olhar dele.
— Esse encontro foi muito oportuno — falou Raschid por fim, com voz arrastada. — Estou feliz por ter a oportunidade de falar com você em particular.
— Pensava que bastava você dar uma ordem para que eu fosse até sua presença — respondeu Felicia duramente. — Você não é mais o senhor desta casa?
Ele ignorou a recriminação dela, seus olhos sarcásticos fitavam o escuro.
— Considerei a vergonha que seria para você e a natureza curiosa de minha irmã antes de pedir para encontrá-la em particular, não pensei na minha capa-cidade de mandar em você se eu quisesse. Fátima me disse que Zahra iria mostrar a cidade para você hoje à tarde e, aparentemente, minha aparição a privou do passeio.
Felicia se recusou a falar. Ele continuou calmamente:
— Sendo esse o caso, me coloco à sua disposição, mais para o final da semana. Você sabe, claro, que sexta-feira é nosso dia sagrado, mas se escolher qualquer outro, vou me esforçar para ter tempo disponível.
Quanta gentileza, pensou Felicia ironicamente. Mas ser acompanhada em visita à Cidade do Kuwait por um Raschid repressor era a última coisa que queria.
— Não há necessidade de você ter esse trabalho — garantiu ela rapidamente.
Muito rapidamente, percebeu Felicia, ao ver que ele bufava, dedos rigidamente apertados.
— Parece que você está determinada a brigar comigo — acusou Raschid. — Vocês, britânicos, têm um ditado particularmente relevante relativo ao galho de oliveira. E sugiro que você aceite o galho de oliveira que estou estendendo. Dependemos muito da azeitonas em nosso clima rígido è nunca usamos o nome dela em vão. Está claro que Zahra gostou de você. Talvez a culpa disso seja minha, ao não alertá-la sobre o tipo de mulher que você é. No entanto, o dano já está causado e ela ficaria magoada se visse que somos inimigos. Zahra vai nos deixar em breve e não quero que seus últimos dias na família sejam estragados e manchados por uma animosidade entre nós.
— É uma pena que não tenha pensado nisso antes de ter me insultado de maneira tão grossa hoje à tarde — lembrou Felicia com tristeza, apavorada com a amargura que a preenchia.
— Então é assim! — Ele pareceu pensar sobre ela um instante, olhos vasculhando a escuridão, até que Felicia se encolheu sob o olhar examinador de Raschid.
— Muito bem. Se não posso conseguir sua cooperação de boa vontade, vou consegui-la de outra forma.
Um arrepio de medo percorreu a pele de Felicia. A fonte jorrava no escuro, mas o som de repente parecia muito alto para seus nervos desgastados e enfatizavam a solidão do jardim.
— Se você está pensando em suborno — disse ela —, sugiro que mude de idéia. Não há nada,que possa me oferecer que vá mudar o amor que sinto por Faisal.
— Nada? — ironizou Raschid suavemente, aproximando-se dela como um gato selvagem, cheio de graça felina e de ameaça terrível. Embora estivesse escuro, Felicia podia ver o brilho da pele dele, azulada pela sombra da barba em seu queixo. Não era justo que um homem pudesse possuir tanta arrogância e segurança com relação a seu poder para compelir os outros a fazer o que queria, pensou ela com nervosismo, umedecendo os lábios com a língua, enquanto os cílios de Raschid ondulavam sobre os olhos, escondendo os pensamentos dele. O toque de Raschid ficou menos brutal, seus dedos massageavam gentilmente os frágeis ossos dos ombros de Felicia, fazendo um aviso correr por seu corpo. Aquele homem era perigoso, parecia dizer o aviso. E, trêmula de certeza, ela sabia ter puxado o rabo do tigre e certamente sofreria as conseqüências.
Sem que Felicia pudesse fazer nada contra aquilo, Raschid tirou as mãos
dos ombros dela e as desceu para a cintura, puxando-a para ele. A voz de Raschid era uma imitação sarcástica de gentileza, ao murmurar suavemente sobre o cabelo dela:
— Você me deixa muito pouca escolha, srta. Gordon. Vem me desafiando continuamente e deve pagar o preço. Não pode esperar que eu acredite que é ingênua o suficiente para não saber como um homem pode retaliar quando tem os instintos mais básicos desafiados? Muito bem, então — disse ele asperamente quando Felicia se recusou a responder —, que isso seja sua punição.
Mãos cruéis a pressionaram contra o duro calor do corpo de Raschid. A voz fria ordenou que ela abandonasse a lutava que empreendia para se libertar, enquanto a boca de Raschid descia para a dela como uma ferocidade punitiva.
Se alguma vez Felicia vira comoção naquele lábio inferior carnudo, ela desapareceu completamente naquele momento. Foi um beijo de amargo furor, uma punição desdenhosa ao desafio proposto por ela, rasgando a teia dos sonhos que Felicia tinha com um momento como aquele: sozinha no pôr do sol oriental, nos braços de um homem cujas origens se encontravam em violentos membros de tribos que chamavam o deserto inteiro de lar. Mas então, claro, ela pensava em Faisal, não naquele homem que a esmagava contra a parede de aço do peito, sem pensar um minuto na fragilidade das curvas macias dela; o homem que destruía os sonhos de Felicia com a mesma facilidade com que arrancaria as asas de uma frágil mariposa.
Furiosa e ressentida, ela aumentou a forte pressão da boca, que estava sob a de Raschid. Recusando-se firmemente a admitir a derrota, seus lábios permaneceram fechados, não obedecendo à demanda dele. Raschid podia constrangê-la fisicamente, mas nada a faria corresponder da maneira como ele certamente esperava.
O beijo durara apenas alguns poucos segundos, mas parecia ter se passado uma eternidade quando ele a soltou. Felicia se sentia mutilada como uma pobre criatura libertada das garras dos falcões que os sheiks lançavam de seus pulsos.
Ela esmurrou o peito dele com mãos frágeis, mas Raschid lhe pegou os pulsos, sorrindo com sarcasmo.
— Bom, você ainda acha que pode me desafiar?
— Vou contar a Faisal o que você fez! — Felicia quase chorava, tremendo com a humilhação, mas Raschid apenas ria.
— Você jamais ousaria — disse ele suavemente. — Temos um ditado em nosso país que diz serem necessárias duas pessoas para cometer um adultério. Vai ser fácil convencê-lo, srta. Gordon. Por favor, conte a Faisal. Gostaria muito que fizesse isso!
Sentindo-se bastante perplexa, Felicia falou, hesitante:
— Mas quando seu tio falou em negociações, pensei que seu casamento fosse do tipo arranjado.
Zahra riu.
— Bom, sim, de alguma forma, acho que é. Saud e eu nos conhecemos na universidade, mas a família dele é muito importante e muito convencional. Saud deveria se casar com a prima em primeiro grau, como é costume, mas felizmente Raschid conseguiu descobrir que a garota queria se casar com outra pessoa. Então ele persuadiu a família de Saud a me aceitar como esposa. Poderia ter sido muito difícil, porque seria um insulto imperdoável se Saud se recusasse a casar com a prima. E, do mesmo jeito, se a mulher se recusasse a casar com ele. Isso faria com que o pai dela fosse desonrado. Nosso casamento vai ocorrer muito em breve, mas, primeiro, deve haver visitas formais. — Ela fez uma careta. — É tudo tão bobo, na verdade, temos que fingir que não nos conhecemos. Eu ficaria muito feliz de me casar à maneira inglesa, mas Raschid diz que, às vezes, o caminho mais longo é, na verdade, o mais curto.
Felicia não sabia o que dizer. Imaginara que Zahra estivesse sendo forçada a se casar por questões políticas e suspeitara mesmo que, de uma forma ou de outra, Raschid se beneficiaria financeiramente com o casamento. Agora estava sendo forçada a rever suas suspeitas.
— Claro que a família de Saud exigiu um dote muito alto — continuou Zahra sem espanto, surpreendendo-a ainda mais. — Mas Raschid foi muito generoso. Você deve pedir à minha mãe para mostrar-lhe minha arca nupcial. Ela vai guardar os presentes de Saud para mim em nosso casamento. Está em nossa família há dez gerações.
Felicia ainda estava digerindo aquela nova e indesejável visão das ações de Raschid quando Zahra pediu licença, dizendo que precisava estudar. Quando saiu, Felicia fitou o jardim no escuro. Parecia que ela se equivocara completamente quanto às razões de Raschid, ao menos no que dizia respeito a Zahra, porque não havia como se enganar quanto às atitudes dele em relação a Felicia. O convite que lhe fizera para ir ao Kuwait era um caminho mais longo para destruir o amor que Faisal sentia por ela? Com considerável ansiedade, Felicia andou inquietamente da janela para a porta, saindo para o pátio, tentada por sua solidão convidativa e pelo ar fresco. Estava mais fresco do lado de fora do que ela esperava e Felicia tremeu em seu fino vestido. A música das fontes era particularmente assustadora à noite, combinando com seu humor, e ela se sentiu arrastar para a água límpida e fria que caía sobre a piscina de mármore. Passou pelos pássaros no aviário e suspirou levemente. Ela era tão prisioneira quanto eles, embora as
paredes da prisão dela fossem o costume e a hostilidade.
— Srta. Gordon!
Ela ficou paralisada quando o vulto se aproximou dela, o som de seu nome naqueles lábios cruéis fez com que um arrepio de apreensão corresse por sua pele. De repente, a escuridão aveludada parecia esmagá-la, cada instinto a aconselhava a fugir, enquanto Raschid emergia das sombras, cruzando o pátio em silenciosa discrição.
Ela pensava estar sozinha ali; Raschid era a última pessoa que esperava se materializar a seu lado. Tentou disfarçar o susto, fazendo força para dizer calmamente:
— Achei que... Não o vi. Zahra me disse que você havia saído.
— E saí — concordou ele. — Mas agora voltei e, como você, fiquei tentado a vir ao jardim para admirar a solidão.
Felicia se virou, pretendendo retornar à proteção da casa, mas os dedos dele pegaram seu ombro, forçando-a a permanecer muda sob a avaliação pensativa dele. Os olhos de Raschid pareciam despi-la de suas frágeis defesas, deixando-a exposta e vulnerável, com os olhos arregalados e incertos, enquanto tentava sustentar o olhar dele.
— Esse encontro foi muito oportuno — falou Raschid por fim, com voz arrastada. — Estou feliz por ter a oportunidade de falar com você em particular.
— Pensava que bastava você dar uma ordem para que eu fosse até sua presença — respondeu Felicia duramente. — Você não é mais o senhor desta casa?
Ele ignorou a recriminação dela, seus olhos sarcásticos fitavam o escuro.
— Considerei a vergonha que seria para você e a natureza curiosa de minha irmã antes de pedir para encontrá-la em particular, não pensei na minha capa-cidade de mandar em você se eu quisesse. Fátima me disse que Zahra iria mostrar a cidade para você hoje à tarde e, aparentemente, minha aparição a privou do passeio.
Felicia se recusou a falar. Ele continuou calmamente:
— Sendo esse o caso, me coloco à sua disposição, mais para o final da semana. Você sabe, claro, que sexta-feira é nosso dia sagrado, mas se escolher qualquer outro, vou me esforçar para ter tempo disponível.
Quanta gentileza, pensou Felicia ironicamente. Mas ser acompanhada em visita à Cidade do Kuwait por um Raschid repressor era a última coisa que queria.
— Não há necessidade de você ter esse trabalho — garantiu ela
rapidamente.
Muito rapidamente, percebeu Felicia, ao ver que ele bufava, dedos rigidamente apertados.
— Parece que você está determinada a brigar comigo — acusou Raschid. — Vocês, britânicos, têm um ditado particularmente relevante relativo ao galho de oliveira. E sugiro que você aceite o galho de oliveira que estou estendendo. Dependemos muito da azeitonas em nosso clima rígido è nunca usamos o nome dela em vão. Está claro que Zahra gostou de você. Talvez a culpa disso seja minha, ao não alertá-la sobre o tipo de mulher que você é. No entanto, o dano já está causado e ela ficaria magoada se visse que somos inimigos. Zahra vai nos deixar em breve e não quero que seus últimos dias na família sejam estragados e manchados por uma animosidade entre nós.
— É uma pena que não tenha pensado nisso antes de ter me insultado de maneira tão grossa hoje à tarde — lembrou Felicia com tristeza, apavorada com a amargura que a preenchia.
— Então é assim! — Ele pareceu pensar sobre ela um instante, olhos vasculhando a escuridão, até que Felicia se encolheu sob o olhar examinador de Raschid.
— Muito bem. Se não posso conseguir sua cooperação de boa vontade, vou consegui-la de outra forma.
Um arrepio de medo percorreu a pele de Felicia. A fonte jorrava no escuro, mas o som de repente parecia muito alto para seus nervos desgastados e enfatizavam a solidão do jardim.
— Se você está pensando em suborno — disse ela —, sugiro que mude de idéia. Não há nada,que possa me oferecer que vá mudar o amor que sinto por Faisal.
— Nada? — ironizou Raschid suavemente, aproximando-se dela como um gato selvagem, cheio de graça felina e de ameaça terrível. Embora estivesse escuro, Felicia podia ver o brilho da pele dele, azulada pela sombra da barba em seu queixo. Não era justo que um homem pudesse possuir tanta arrogância e segurança com relação a seu poder para compelir os outros a fazer o que queria, pensou ela com nervosismo, umedecendo os lábios com a língua, enquanto os cílios de Raschid ondulavam sobre os olhos, escondendo os pensamentos dele. O toque de Raschid ficou menos brutal, seus dedos massageavam gentilmente os frágeis ossos dos ombros de Felicia, fazendo um aviso correr por seu corpo. Aquele homem era perigoso, parecia dizer o aviso. E, trêmula de certeza, ela sabia ter puxado o rabo do tigre e certamente sofreria as conseqüências.
Sem que Felicia pudesse fazer nada contra aquilo, Raschid tirou as mãos
dos ombros dela e as desceu para a cintura, puxando-a para ele. A voz de Raschid era uma imitação sarcástica de gentileza, ao murmurar suavemente sobre o cabelo dela:
— Você me deixa muito pouca escolha, srta. Gordon. Vem me desafiando continuamente e deve pagar o preço. Não pode esperar que eu acredite que é ingênua o suficiente para não saber como um homem pode retaliar quando tem os instintos mais básicos desafiados? Muito bem, então — disse ele asperamente quando Felicia se recusou a responder —, que isso seja sua punição.
Mãos cruéis a pressionaram contra o duro calor do corpo de Raschid. A voz fria ordenou que ela abandonasse a lutava que empreendia para se libertar, enquanto a boca de Raschid descia para a dela como uma ferocidade punitiva.
Se alguma vez Felicia vira comoção naquele lábio inferior carnudo, ela desapareceu completamente naquele momento. Foi um beijo de amargo furor, uma punição desdenhosa ao desafio proposto por ela, rasgando a teia dos sonhos que Felicia tinha com um momento como aquele: sozinha no pôr do sol oriental, nos braços de um homem cujas origens se encontravam em violentos membros de tribos que chamavam o deserto inteiro de lar. Mas então, claro, ela pensava em Faisal, não naquele homem que a esmagava contra a parede de aço do peito, sem pensar um minuto na fragilidade das curvas macias dela; o homem que destruía os sonhos de Felicia com a mesma facilidade com que arrancaria as asas de uma frágil mariposa.
Furiosa e ressentida, ela aumentou a forte pressão da boca, que estava sob a de Raschid. Recusando-se firmemente a admitir a derrota, seus lábios permaneceram fechados, não obedecendo à demanda dele. Raschid podia constrangê-la fisicamente, mas nada a faria corresponder da maneira como ele certamente esperava.
O beijo durara apenas alguns poucos segundos, mas parecia ter se passado uma eternidade quando ele a soltou. Felicia se sentia mutilada como uma pobre criatura libertada das garras dos falcões que os sheiks lançavam de seus pulsos.
Ela esmurrou o peito dele com mãos frágeis, mas Raschid lhe pegou os pulsos, sorrindo com sarcasmo.
— Bom, você ainda acha que pode me desafiar?
— Vou contar a Faisal o que você fez! — Felicia quase chorava, tremendo com a humilhação, mas Raschid apenas ria.
— Você jamais ousaria — disse ele suavemente. — Temos um ditado em nosso país que diz serem necessárias duas pessoas para cometer um adultério. Vai ser fácil convencê-lo, srta. Gordon. Por favor, conte a Faisal. Gostaria muito que fizesse isso!
Deixando-a digerir esse comentário, Raschid a soltou tão repentinamente que ela quase caiu. Os dedos de Felicia foram parar imediatamente em seus lábios trêmulos, lágrimas embaçavam sua visão.
—Ah, por falar nisso — acrescentou Raschid casualmente, enfiando a mão no bolso do paletó e tirando a caixa de couro azul que continha o peso para papel —, sugiro que você dê isso para a pessoa a quem pretendia presentear. — Ele atirou a caixa na direção dela. — Acho que nós dois sabemos que jamais compraria este presente para mim e você insulta minha inteligência ao esperar que acredite nisso. Entregue-o a Faisal. Tenho certeza de que ele o apreciará muito mais e demonstrará de um modo mais aceitável. — Ele se retirou antes que Felicia pudesse admitir que o peso de papel fora comprado para Nadia. O ódio de Raschid deixou uma atmosfera quase tangível no fresco jardim.
Ele a envergonhara e humilhara. Ironizara seu amor por Faisal e o de Faisal por ela, tratando-a de um jeito como nenhum homem jamais deveria tratar uma mulher de sua família. E, no entanto, por mais que tentasse, Felicia não conseguia se lembrar de como era se sentir nos braços de Faisal. E percebeu, chocada, que, embora Raschid a tivesse deixado furiosa e desesperadamente amargurada, jamais tremera sob o abraço de Faisal como fizera sob o dele. Porque estava muito furiosa, assegurou a si mesma, fitando a caixa em sua mão.
De repente, odiava o peso para papel mais do que odiara qualquer outra coisa em sua vida. Antes que pudesse mudar de idéia, atirou a caixa o mais longe possível, mal percebendo o pequeno e distante barulho que fez ao cair entre as rosas. Depois, virou as costas para o pátio e procurou o santuário do quarto.
Sob a luz elétrica, viu o leve princípio do que seriam as marcas das apertadas mãos de Raschid.
Tirando a roupa, tomou banho, ensaboando a pele até que brilhasse, como se, ao fazer isso, pudesse remover para sempre a lembrança do beijo de Raschid. Ela o odiava! Odiava, disse ao seu ruborizado reflexo no espelho desafiadora-mente. Então, por que estava chorando, lágrimas tolas e frágeis, que apenas dariam a seu autodeclarado inimigo a maior das satisfações?
Ela tocou uma das bochechas banhadas de lágrimas com dedos trêmulos. Durante alguns minutos desconcertantes, Raschid destruíra suas ilusões e tirara o véu de inocência que até então a protegera. E tudo porque ousara desafiar a autoridade dele e caminhar desatenta, pelas ruas da Cidade do Kuwait.
Mas, enquanto esperava que o sono a tomasse, Felicia admitiu que a coisa era mais profunda. Pela primeira vez na vida, experimentara um medo verdadeiro. E, enquanto seus olhos se fechavam, ela lutava desesperadamente para se lembrar de como se sentia ao ser abraçada por Faisal, investindo suas lembranças de uma emoção que jamais tiveram, em um esforço para apagar o menor traço do toque de Raschid.
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Um Amor Arábe
RomanceSinopse: Felicia sabia que haveria obstáculos a superar quando concordou em ir sozinha ao Kuwait visitar os parentes de seu noivo, Faisal. Ela era uma garota inglesa comum, enquanto ele era um árabe de uma família imensamente rica. Mas havia um pro...