Capítulo 2

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Palavras corajosas! Mas ela não estava se sentindo nada corajosa naquele momento, percebeu Felicia, olhando pela janela do avião para as brancas nuvens. Por incrível que pudesse parecer, jamais viajara de avião antes. Passar férias em outros países europeus era algo que tio George desaprovava e, de qualquer maneira, estava fora de suas possibilidades financeiras.

Dava para ver que os outros passageiros eram via-jantes habituais; empresários com rostos cansados e pastas cheias; árabes nas tradicionais túnicas brancas, Com panos na cabeça que eram mantidos no lugar por cordões que, de acordo com o que aprendera com Faisal, se chamavam igals.

Alguns passageiros homens mostravam grande interesse pelas aeromoças e observavam as mulheres, em seus uniformes impecáveis, realizarem seu trabalho, Felicia perdeu a inveja que já tivera de suas vidas supostamente glamourosas; as mulheres pareciam ser pouco mais que garçonetes excessivamente louvadas!

Uma delas fizera o favor de deixá-la à vontade, mostrando como usar os fones de ouvido que permitiam escutar oito canais de música ou ouvir o que era dito no filme que passava a bordo.

Era um voo longo, de seis horas, ainda que Felicia soubesse que, graças à diferença de fuso horário, perderia outras três, pois o Kuwait se encontrava três horas à frente da Inglaterra. Assim, muitos dos passageiros mais experientes estavam dormindo. Felicia começara a assistir ao filme, mas o apertado nó de tensão que cingira seus nervos desde o momento em que o avião decolara se recusava a relaxar e, depois de algum tempo, deixou o filme de lado, devotando inteira atenção aos companheiros de voo. Faisal insistira para que viajasse de primeira classe e ela ficou feliz com a insistência dele ao ver o espaço acanhado da classe econômica, cheia do que pareciam ser famílias árabes inteiras, com bebês chorando e crianças de colo impacientes.

No compartimento de bagagem estava sua mala nova, belamente etiquetada, e presentinhos que comprara para a mãe e as irmãs de Faisal.

Não comprara nada para o tio dele, de propósito. Eles não seriam amigos e ela não lhe daria oportunidade de devolver o presente com sarcásticas acusações de suborno, nem tentaria bajulá-lo para conseguir sua aprovação.

E, no entanto, não era isso exatamente o que Faisal queria que ela fizesse?, Felicia se perguntava. Que usasse seu charme para tentar reverter o julgamento do tio? Os pensamentos não lhe davam descanso, se sucedendo sem parar, até que a cabeça doeu com tantas tentativas de conciliar coração e mente. Por fim, abandonou os esforços e procurou ficar no estado de espírito correto para o encontro com o "tio mau" de Faisal, concentrando os pensamentos nos outros membros da família.

Para a mãe, que claramente adorava o filho, comprara um perfume. Para a irmã mais nova, que se casaria em breve, um luxuoso kit de maquiagem, com todas as sombras e batons da última moda. Para a irmã mais velha, fora um pouco mais difícil. Felicia sabia que Nadia era casada, tinha uma criança pequena e seu marido estava encarregado da filial do banco da família na Arábia Saudita. Então, lhe Comprara um sofisticado peso para papel que lhe Chamara a atenção, em uma cara loja de Londres.

Realmente, o peso para papel era tão bonito que, por um momento, Felicia ficara tentada a ficar com um, mas a compra de presentes já levara seus últimos recursos e, infelizmente, ela admitia não poder comprar dois objetos de luxo como aquele; não quando comprara um guarda-roupa completo para a viagem. Mesmo agora, a extensão de seus gastos a impressionava. Mas queria que Faisal tivesse orgulho dela, então utilizara o pouco que vinha economizando desde que começara a trabalhar.

Quando o céu clareou abaixo deles e os empresários começaram a folhear avidamente seus papéis, Felicia imaginou que a viagem estava chegando ao fim.

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