1- ADEUS ( MAÍRA)

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No porão, depois de revirar todos aqueles papéis embolorados, eu me lembrei de tudo. Todos esses anos vivendo com a maior tranquilidade do mundo, esbanjando as regalias da nobreza, dormindo e acordando sem nenhum peso de preocupação, lendo poesias calmamente enquanto eu tomava meu café da manhã, sentada na mesinha do jardim, todos corriam perigo. Eu fazia parte desse perigo.

Me levantei ofegante, sentia meu coração palpitar freneticamente. Eu tinha uma jornada desafiadora pela frente revelada nesses desenhos, não sabia se todos que deveriam se envolver concordariam, mas sem pensar muito, apenas me apressei para o meu objetivo inicial.

- Quem é esse cara?- Indagou Arlo quando, descendo as escadas do porão, serviu de barreira a mim.

- Eu sou César, seu sogro.

Arlo me olhou estarrecido e eu não consegui emitir ao menos um som. Passei por ele disparada, esbarrei o quadril na ponta do corrimão, o que me causou muita dor, mas aquilo só aumentou a minha raiva, funcionando como um ótimo combustível. Talvez fosse o que eu realmente precisava.

Eu sabia o melhor caminho, pela floresta era a forma mais rápida de chegar até ele. Estava nervosa, com muito medo. Como eu pude esquecer novamente de tudo?, me perguntava.

A velocidade que eu estava era tão alta, que os galhos finos dos arbustos fizeram pequenos cortes profundos em minhas canelas.

Escurecia quando cheguei, dessa vez não mais corria, mas andava com passos firmes decorrente de minha revolta, estava determinada a tirá-lo de suas garras, jamais deixaria outra vez em sua posse. Ele era meu, meu e de meu marido.

Empurrei a porta e ele correu para mim, gritando: - Mamãe!

Meu pranto entalado se desprendeu imediatamente, só de imaginar que ela poderia fazer a Mathias, o que fez a mim e a minha irmã.

- Nunca mais toque no meu filho! -Esbravejei. Minha mãe arregalou os olhos e eu pude perceber em seu semblante que ela sabia do que se tratava. - Como pôde oferecer a gente?- Estava tremendo.

Ela permanecia com a sua pose de nobreza intacta. Em seus olhos já não havia mais espanto.

- Maíra, você não entende... - Com uma das mãos esticada tentou se aproximar e eu me afastei, quase saindo pela porta, que permanecia aberta atrás de mim.

- Como ousa dizer que isso é algo entendível? - Gritei e logo me deparei com o choro de Math. Me abaixei e tentei tranquilizá-lo. Estávamos de mãos dadas. - Calma, meu bebê. Vai ficar tudo bem. - O peguei no colo. Meu filho ficou bastante agitado, se debatia em meus braços. Dizem que criança sente a energia da mãe e com certeza, a minha não era boa.

Arlo apareceu na entrada, esbaforido acompanhado de César, o que fez com que os olhos de Carmem superassem de tamanho em relação ao primeiro momento de nossa conversa.

- Você não é mais nada para mim, fique longe da minha família! - Continuei meu discurso.

-Me desculpe, Maíra! - Parecia nervosa e constrangida, pois estava perante a eles. - César, eu preciso te explicar...- Suspirou ao ver meu pai simplesmente dar às costas e sair em direção à floresta. Arlo nos olhava intrigado.

-O que está acontecendo, Maíra? Você não pode falar assim com sua mãe. - Se preocupou. Ele havia crescido em um lar amoroso. Seus pais eram religiosos e o educaram nesse mesmo caminho desde criança. Eles prezavam pela confiança e respeito um pelos outros. Eu entendi a sua fala, talvez se viesse de uma outra pessoa, teria me irritado, mas ele não. Dele eu gostava.

DEUSES DA FLORESTA 2 - NA CHAMA DO TEMPOOnde histórias criam vida. Descubra agora