As Montanhas de Azerd - Parte 1

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Enquanto os libertos se ajeitavam para passar a noite, Cratus e Nilimus se juntaram um pouco distante para conversar. A discussão era forte, os dois guerreiros não conseguiam concordar com suas ideais. Nilimus queria racionar a comida igualmente para todos os libertos, para que ninguém morresse de fome. Eles teriam apenas 2 dias de comida, mas pelo menos aguentariam o ultimo dia até chegar na passagem, era possível que os Orcs os recebessem bem. Mas Cratus, grosseiro pela quantidade de bebida que tinha tomado, dizia que a comida deveria ser dada aos guerreiros. Até porque, os guerreiros que fariam a maior parte do trabalho, carregando peso, lutando e ficando de prontidão para possíveis conflitos.

Dois guerreiros estavam ao longe, mas conseguiram ouvir o que os lideres confidenciavam. Os dois se entreolharam, e aproximaram-se da conversa. O primeiro a falar foi um anão, baixo e forte, que usava um capacete e tinha uma tesoura gladiadora em uma das mãos. "A menos que queira que os guerreiros carreguem os famintos, é melhor que todos comam!", disse com certeza em sua voz abafada pelo capacete. Um homem alto e magro, levanta a mão timidamente para ser escutado, "eu também sou a favor de que todos comam. Mesmo sendo lutador eu treinei muitos dias sem comer, não vai ser de grande problema pra mim".

Nilimus olha para Cratus, com um meio sorriso de vitória. "Certo, vocês é quem sabem. Se os guerreiros ficarem fracos pra lutar, a culpa é de vocês!", ele saiu esbravejando. Nilimus pediu ajuda para fazer a distribuição da comida para os dois, mas o anão já havia saído para ajudar os feridos. "Vamos, Megumi, temos trabalho pela frente, chame mais alguns e vamos distribuir a comida de hoje", Nilimus deu tapinhas no ombro de Megumi e saiu em direção as provisões.

Duas garotas, uma de orelhas pontudas e outra com chifres sobressalentes, ouviram apenas Cratus e Nilimus discutindo, e assim que viram que Cratus não queria dividir, foram em direção a pilha de comidas. "Podemos distribuir para o povo, e assim todo mundo sai ganhando", a garota com chifres sussurrou. "Krys, você pode ser legal, mas eu não", comentou a garota de orelhas pontudas e cabelo branco, "eu vou pegar o que eu quero e ficar na minha. Não sou mãe de ninguém". Enquanto elas discutiam o que cada uma ia pegar, Nilimus e Megumi chegaram nos suprimentos e viram as duas agachadas cochichando e olhando para as comidas.

"Não se preocupem, todos vão receber suas porções igualmente, não deixaremos que passem fome", Nilimus entoou sua voz poderosa atrás delas. As duas olharam para trás surpresas, Krys mais aliviada do que espantada.

Logo, os libertos foram alimentados sem distinções, pegando o que era necessário para se manterem. E assim que se passaram algumas horas, partiram novamente para a viagem penosa.


[3 dias depois...]

A cadeia de montanhas era enorme. Os escravos domésticos falaram sobre duas passagens que existiam para o outro lado: uma havia se partido ao meio durante uma tempestade, e a outra, os comerciantes diziam, era guardada por Orcs mercenários que extorquiam todos que passavam por lá. Alguns ainda arriscavam dizer que os Orcs explodiram a segunda passagem para serem os únicos a interceptar viajantes, o que não era de se surpreender.

Já era a tarde quando seguiram rumo a passagem dos Orcs, na esperança de talvez conseguirem atravessar de forma segura. O caminho era íngreme, traiçoeiro e escorregadio. Alguns dos escravos mais debilitados tinham dificuldades, e sucumbiram a escuridão das pedras que se encontravam a metros de distância no chão.

Podia-se ouvir Harpias ao longe. O som que faziam era uma mistura de grasnido de ave com um grito de mulher, não tinha como confundir com alguma outra criatura. Caso tivessem sorte, talvez conseguiriam atravessar sem perturba-las.

Uma parede se estendia a frente, agora eles não podiam mais apenas andar, precisavam escalar. Apesar do sol estar se pondo, dividiram-se em grupos, que seriam liderados pelos mais fortes; cada um seria responsáveis por uma dúzia de libertos. Cada grupo se juntou com cordas, e o líder iria na frente, colocando pinos no caminho para firmar as cordas.

"Cuidado!", Nilimus ouviu o grito de aviso, algumas penas voando e um corpo caindo. Todos estavam desesperados, ninguém sabia o que fazer, e não existia proteção enquanto estavam pendurados nas rochas tentando chegar ao topo do penhasco. O corpo estava atrelado ao grupo de Cratus, logo abaixo dele. O enorme firbolg segurou o impacto e conseguiu trazer de volta o homem que havia caído.

Kiara ousou olhar para trás, e viu uma criatura diabólica com corpo de mulher e asas enormes como braços.

"Harpias!", Kiara conseguiu gritar, enquanto pegava sua lança e, em um gesto desesperado, conseguiu fixar a base da lança no penhasco e apontar para a harpia que estava vindo em sua direção. A criatura, percebendo aquela coisa pontiaguda à sua frente, tentou bater suas asas para frear a manobra e ir para trás, mas já era tarde. Ela foi atravessada pela lança, conseguindo apenas fazer um corte no rosto de Kiara, antes de ficar imóvel.

Conseguiu ver quando uma criatura com asas fisgou mais um de seus companheiros e voou para longe. O grupo que estava atrelado a ele também estava sendo levado pelas cordas amarradas. O que eles poderiam fazer?

"Cortem as cordas!", Kiara gritou, na esperança de que as pessoas que estavam perto conseguissem entendê-la.

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