A ponte dos Orcs

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Nilimus entregou o símbolo de paz para Megumi e encarou Payoram, Krystine e Malina. "Vocês são os escolhidos dos deuses", falou lembrando-se do que viu na rebelião e da voz que falara em sua mente, "então, lhes dou o peso da decisão". Assim que terminou de falar, deu as costas para o grupo e foi em direção ao penhasco ajudar os remanescentes.

Payoram deixou o grupo por um momento. Pegou algumas pedras e fez um montinho próximo ao penhasco. Colocou um dos joelhos no chão, de frente para as pedras empilhadas e começou a falar: "se eu tivesse prestado mais atenção... se eu não tivesse focado tanto em mim mesmo e tivesse dado Esperança aos outros... eles poderiam ter lutado mais, se agarrado mais a rocha... estariam aqui!". Os outros observavam, tentando compreender suas palavras. "O que um pão tatuado tem a ver?", Malina sussurrou para Krys e ambas riram, alheias a dor do companheiro. Ninguém prestava muita atenção em Payoram quando uma linha molhada percorria seu pescoço e molhava sua camisa surrada.

"Acho que devemos matá-los e entrar na cidade com o símbolo. Será mais seguro assim", Krystine pegou sua adaga e girou na ponta de seu dedo, com um olhar sem piedade. "Não seja tão precipitada!", Megumi falou, franzindo a testa vendo aquela cena. "Tenho fé nesse povo. Se eles são inimigos de Roma, então não tem porque brigarmos com eles", Payoram disse, voltando para grupo, "vamos em paz, eles parecem ser... gente boa". Megumi maneou a cabeça "realmente, não parecem hostis. Se caso nos atacarem na cidade, lutaremos, mas não vejo necessidade de matar criaturas desarmadas". Todos olharam para Malina, que observava os companheiros calada. "Eu não quero brigar aqui. Consigo sentir que os romanos estão chegando perto, melhor não arriscar ter que lutar contra os orcs e os romanos juntos. Estaríamos em total desvantagem".

Krys bufou, sabendo que era voto vencido. Iam entrar na cidade sem derramar sangue, por mais que achasse errado aquilo. Queria cortar os pescoços daqueles caras sem que ninguém percebesse, mas não trairia a confiança de seu novo povo.

Então, marcharam pela ponte, incertos sobre o que encontrariam lá em cima. Depois que entrassem, não teriam como voltar atrás. O desconhecido os aguardava, enquanto os romanos os alcançavam.

A primeira coisa que Megumi viu foram toscas construções me madeira espalhadas. O acampamento (ou cidade), não era muito grande, sendo limitado pela extensão da pedra suspensa. Crianças orcs corriam por todos os lados, brincando com bichos feitos de gravetos, pedras e cordas. Tochas estavam espalhadas por todos os lados, iluminando os estreitos caminhos. Vários grupos se juntavam em fogueiras e o cheiro de carne assada invadia seu olfato. Homens e mulheres juntos, bebendo, cantando e comendo.

Uma torre de guarita se estendia no final da ponte, mas ela estava vazia. Megumi decidiu continuar em frente, sem se importar se deveria apresentar alguma coisa na entrada. Não deveria ser muito problema.

Assim que chegaram na frente de uma grande bandeira vermelha, com o símbolo de dois machados cruzados desenhados no centro, o barulho de vozes cessou e as crianças já não eram vistas pelas ruas.

"Parem por ia mesmo!", ouviram uma voz feminina poderosa ordenar. "Quem são vocês? O que fazem aqui?", a mulher orc era maior que todos eles, mas não tão alta quanto outros orcs que se reunião por ali. "Desculpe...", Payoram começou a falar, "não queríamos interromper o jantar de vocês. Nós... Somos ex escravos de Roma, estamos fugindo para leste". "Não queremos causar problemas", completou Megumi, "só precisamos de passagem segura até a encosta". A mulher continuava encarando o grupo, sem se sentir muito inclinada a ajudar. Megumi tirou o pedaço de madeira dado pelos guardas orcs e entregou para ela.

Então, o semblante da orc mudou completamente, ela abriu um sorriso para eles e se virou para seu povo. "Eles são amigos!", balançou o símbolo acima da cabeça, e depois voltou-se para eles, "não se preocupem com os romanos, eles sabem o que os espera quando chegarem aqui. Agora vão, sentem-se e comam um pouco, parecem precisar".

Em uma taberna ali perto, uma meio-orc de cabelos coloridos bebia seu copo de cerveja. "Seu destino chegou, jovem. Vá e os ajude a sair daqui", uma voz ecoou em sua cabeça, igual acontecera alguns dias atrás, quando uma luz cálida a envolveu e lembranças de uma guerra que não presenciara começou a passar em sua mente. Ela ainda era Misneach, encarregada da defesa da ponte, mas também era outra pessoa. Ela lutara contra mortos-vivos de Hel, em Valhalla, junto com outros de seus irmãos. Vira Odin e Thor sendo mortos, assim como outros deuses menores. Lembrava de Heimdall falando que seu destino não era ali, e foi mandada para aquele lugar. Era Misneach e era uma guerreira de Odin. Seu objetivo era abstrato no momento, mas aquela voz... profunda e gutural, a lançava pequenos conselhos enquanto estava ali, avisando quando os outros chegariam.

Ela colocou uma peça de prata no balcão e agradeceu seu amigo. Foi em direção a praça central, encontrar seus antigos companheiros de batalha. Chegou no momento que Olívia, a líder de segurança, disse que os recém-chegados eram bem-vindos e todos relaxaram, voltando a comer seus jantares.

Chegou perto do grupo que estava à frente, um leve brilho emanava dos quatro. "Irmãos!", ela gritou e os abraçou. Eles a cumprimentaram, reconhecendo seu brilho familiar. "Venham, vou lhes mostrar a melhor taberna da cidade" – deixando de fora o detalhe de que era a única taberna que se encontrava ali.

Eles se sentaram em uma mesa que ficava um pouco longe das demais. "Tenho um barco", Misneach disparou, antes que os outros quatro pudessem falar alguma coisa. "Nós podemos ir para leste, para as terras bárbaras", completou. "E como pode saber que as terras do leste são seguras?", Malina perguntou, cautelosa. "Não posso, e não sei", franziu a testa, "Mas é nossa melhor opção até agora. Todas as outras ilhas são domínio de Roma, nossa única saída é ir para leste, onde os romanos não tem poder. Lá eles não escravizam as pessoas".

Ficaram em silêncio por um momento, pensando no que ela dissera. "O barco... onde ele está?", Megumi quebrou o silêncio. "Logo depois das Ruinas de Trut. Um amigo mora naquela região", Misneach bebeu sua cerveja. "Por que alguém moraria em ruinas?", Krys fez cara de nojo. "Não é na ruína exatamente. Ele mora um pouco para cima, de frente para o mar. Ele é um druida que detesta cidades e, principalmente, Roma. Ele continua lá, porque foi onde sua família morava. Não me perguntem o porquê, nem mesmo eu sei", observou os quatro ficarem com uma cara esquisita, "ele me deve um favor por salvá-lo de um urso da floresta, então ele deixa meu barco a salvo".

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