O barulho de água corrente aos poucos me fez retomar a consciência e lentamente me ergui. Mais uma vez, ao que parecia, Bianca se provou mais forte do que eu.Quando mandei que fosse lavar o rosto e ir para seu quarto, ela foi sem hesitar. Ao contrário de mim. Eu padeci em meu quarto, chafurdando em autopiedade.
Uma voz interior sussurrou que eu devia ir vê-la. Dar a ela os cuidados que ela precisava tão desesperadamente. Mas meu orgulho me prendeu onde eu estava.
Se eu fosse a ela e desmoronasse, como sabia que podia acontecer, ela ia querer saber por que um dominador com tantos anos de experiência desabava depois de puni-la.
Uma coisa levaria a outra e ela descobriria a verdade — que eu a conhecia muito antes de sua inscrição chegar a minha mesa.
Esperei até que a água em seu banheiro parasse de correr, depois parei, ouvindo por mais alguns minutos antes de ir ao corredor.
Ela chorava. De novo.
Fui até sua porta e o choro parou.
Pus a mão para girar a maçaneta, mas a culpa me impediu de virá-la. Eu sabia como Bianca estaria.
De nariz escorrendo. Os olhos molhados. O rosto raiado de lágrimas.
Mas, pior de tudo, o que traria sua expressão? Ódio? Medo? Dor?
Se eu a procurasse, ela se intimidaria com meu toque? Se eu falasse, ela ouviria?
Suspirei.
Eu não podia fazer isso. Não podia enfrentá-la. Coloquei a mão aberta em sua porta.
Não posso, Bianca. Não sou tão forte. Perdoe-me.
Era cedo para ir dormir — nem eram nove horas e a casa estava silenciosa demais.
de mandar Apollo passar a noite num canil.
Fui à cozinha e peguei o telefone, para verificar.
— Alô, Sr. Marques — disse a recepcionista depois que me apresentei. — Como vai?
Não estava com humor para bater papo.
— Como está Rex?
— Está indo muito bem, senhor. Muito melhor do que da última vez.
Não consegui encontrar energia para ficar feliz.
— O senhor virá buscá-lo amanhã às dez e meia? — perguntou ela.
— Sim.
— E vai deixá-lo aqui na próxima sexta-feira. — Eu podia ouvir o sorriso em sua voz.
— Verei você amanhã — falei e desliguei.
Andei pela casa, verificando fechaduras e códigos de segurança. Ouvi passos no andar superior, mas ninguém desceu. Por mim, tudo bem. Se era para um de nós dormir esta noite, eu queria que fosse ela.
Sem pensar, fui à biblioteca e a meu piano. Senti uma pontada de dor ao pensar no quanto eu queria que o fim de semana passasse. Se eu tivesse sorte e Bianca ficasse comigo, talvez eu lhe mostrasse a biblioteca mais tarde.
Sentei-me ao piano, tentando decidir o que tocar. A canção que compus no fim de semana anterior, aquela inspirada na beleza de Bianca, provocava-me. Eu me atreveria a tocar sobre sua beleza? Que direito eu tinha de fazer isso depois do que fiz?
Eu não tinha esse direito.
A raiva me tomou e desafoguei a frustração nas teclas do piano, tocando as notas furiosas que martelavam em minha cabeça. Por um bom tempo, fiquei perdido na fúria, mas, como sempre, tocar ajudava a me restaurar a calma. Por fim, a doçura, a própria
essência dela me tomou e me vi incapaz de fazer algo além de deixar que me dominasse.Eu não era um covarde, disse a mim mesmo na manhã seguinte. Eu estava dando tempo a Bianca. Tempo para o que, não sabia dizer. Só sabia que não estava pronto para enfrentá-la e suspeitava de que ela sentia o mesmo.
Saí de casa logo depois das seis e fui à cidade, até meu escritório. Três horas depois, não tinha feito nada. Pensei no bilhete que deixei na cozinha. Será que A Bia o encontrou? Ela ainda estaria em minha casa quando eu voltasse ao meio-dia?
Eu tinha de falar com alguém, alguém que compreendesse. Olhei o relógio, peguei o telefone e fiz algo que não fazia havia meses: telefonei para Júlia.
— Alô — disse uma voz feminina e animada do outro lado da linha.
— Olá, Mateus. É a Aline. — Aline e Julia estavam juntas há três anos. Ela
também era sua submissa.— Mateus. Já faz muito tempo.
— Eu sei. — Eu ainda não estava pronto para jogar conversa fora. — Julia está por aí?
— Está bem aqui. Espere um pouco.
Ouvi vozes abafadas e o som inconfundível de um beijo.
— Mateus — disse Julia. — O que está havendo?
Desabafei tudo. Falei longamente de Bianca, que ela era inexperiente, que eu a tomara como submissa, e finalmente entrei nos detalhes da noite anterior — as regras que criei, que ela infringiu, a punição. O tempo todo, Júlia me deixou falar e fez comentários adequados. Sim, a punição foi necessária. Sim, sempre é difícil punir uma submissa.
Sim, eu era normal. Sim, eu superaria. Sim, nossa relação só cresceria a partir dali. Podia confiar que Júlia saberia exatamente do que eu preciso. Senti-me melhor em segundos.
— O que você fez depois para cuidar da situação? — perguntou ela.
— Estou falando com você — falei sem pensar. Percebi meu erro assim que as
palavras saíram de minha boca.— Isso eu entendi — replicou ela. — O que você fez por ela na noite passada?
Não consegui falar. Pela primeira vez na vida, eu não tinha palavras.
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Minha submissa em treinamento.
القصة القصيرةA historia é contada pelo lado de Mateus, girando em torno Bianca e Mateus do ponto de vista dele, revelando seus sentimentos, pensamentos e desejos mais profundos. Mateus Marques é um bem-sucedido empresário. Mas é entre quatro paredes que reside s...