As páginas amareladas diziam a Remus como aquele livro de cor azul porcelana e linhas douradas que criavam ramos de flores era antigo. A ponta dos dedos caminhou pela capa dura que resistiu ao tempo, o livro rodando em suas mãos na procura de um título. Não havia palavras na lombada, na capa e nem na contracapa.
O sol que entrava pelas janelas altas da biblioteca estava mais opaco que o comum. Um dos galhos da árvore mais alta do jardim batiam contra o vidro, o que tinha assustado as únicas pessoas que habitavam aquele cômodo, mas agora já era como um costume que não passava de um ruído.
O outono veio devagar como a amizade de Regulus e Remus, as folhas verdes imaturas se tornando em laranjas e caindo no chão, uma distinta relação de identificação e a mistura de conforto com a falta de necessidade de palavras tornando tudo bem mais simples do que parecia seria.
Era mais fácil ser amigo do Black caçula do que Remus pensava. No início sempre tão quieto, mas aos poucos sua voz surgindo cada vez mais ao sugerir livros ou dar sua opinião sobre algo que leram em comum. E no final ele era gentil, mesmo que melancólico demais para uma pessoa de dezesseis anos.
Remus não era burro. Os via quase todos os dias por quase nove meses cheios, já havia entendido que tinha algo muito complicado envolvendo os laços familiares da família Black. Não tinha muita certeza se gostaria de descobrir o porquê de todas as brigas, o silêncio, os olhares estranhos e o motivo de aqueles quadros o arrepiarem tanto. Mas o curiosidade o fazia pensar muito mais nisso do que gostaria.
Sirius estava viajando, para a infelicidade do Lupin. Uma viagem de estudos ou algo assim, não se recordava com certeza. Isso fez suas visitas a mansão dos Black diminuírem consideravelmente mas os recados que o jardineiro dos Black levava em sua casa nome de Regulus o fez retornar a aquele casarão com frequência.
Era uma tarde trivial de sábado. Remus finalmente abre o tão belo livro, curioso com qualquer conteúdo que tenha ali dentro. Suas sobrancelhas claras se juntam por um momento, o conjunto de palavras escritas na primeira página não lhe eram conhecidas.
Ele não era o maior conhecedor de línguas estrangeiras. Sabia inglês e francês, ambos os idiomas presentes em todo o seu crescimento até que se pai morresse. Sua mãe só conversava com ele e suas irmãs em francês. E, por mais que não tenha muito costume de escrever em sua segunda língua, o jeito que aquelas letras estavam organizadas lembrava um pouco o francês.
Ajeitou o livro em seu colo, a boca se movendo ao testar de jeito mudo as letras nos lábios.
"Et luna in homine"
Tentava decifrar de modo bobo o que aquilo significava quando a voz de Regulus se fez presente.
- Você ama meu irmão? - ele questionou, caminhando em passos lentos em direção as janelas.
- Claro - Remus respondeu sem hesitar, se recostando nas costas acolchoadas da poltrona.
- Por que?
Regulus se virou para o encarar. A luz atrás de si deixava seu rosto difícil de se ler, mas era certo que estava com a expressão indiferente que geralmente carregava nas feições bem marcadas. Os braços para trás, um livro em mãos e a camisa branca era o que de destacava em meio as suas vestes escuras de linho e bordado.
Remus coçou a nuca antes de deixar os próprios braços descansarem sobre o braço da poltrona.
- É uma pergunta um pouco indelicada, Regulus - disse ao lhe lançar um sorriso sem graça. Ele pareceu desviar o olhar.
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you live in this house?, wolfstar
FanfictionSirius observa Remus voltando de seu trabalho todos as tardes, sem falta. Até que um dia decide bater em sua porta. two-shots. parte um, parte dois. epílogo. wolfstar.