LOS ANGELES

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Los Angeles, Estados Unidos, 1978

Mesmo de manhã, fazia tanto sol que Magnus sentia cada parte do corpo começando a suar, mal conseguia esperar o tempo passar logo para poder entrar na piscina e acabar com o próprio sofrimento. De qualquer maneira, ele se recusava a reclamar. No último inverno tinha passado a maioria de seus dias preso dentro de casa devido a forte nevasca, seu natal e ano novo foram passados assistindo televisão com os pés enfiados dentro da coberta com sua namorada Hailey.

- Amor, vamos? – ele mal tinha escutado passos, quando se virou encontrou a namorada loira usando um biquíni amarelo e short jeans.

Dirigiu até a casa de Joshua acompanhado da animada cantoria feminina ao lado dele com ABBA tocando na rádio. O trânsito tinha os atrasado, mas finalmente chegaram na casa do amigo de faculdade. Todos já estavam lá, incluindo o rosto que fazia seu coração palpitar mais forte, ele tentou ignorar a sensação.

- Vamos na piscina? – pediu à Hailey e logo se juntaram aos amigos que já estavam na água.

Sebastian parecia ainda mais belo com o cabelo e corpo molhado, Magnus se esforçava para não prestar atenção nele, mas parecia que ele tinha sido feito para estar sob a luz do sol. Ele queria ser daquela forma, ou pelo menos se sentir assim, eram esses os pensamentos que ele tinha para tentar justificar o jeito como ele via Sebastian. Não era atração, não podia ser, ele tinha conhecido homossexuais antes e sabia que não era um deles. Ele tinha uma linda namorada, os anos estavam passando e eles ficavam cada vez mais perto de noivarem, ele tinha certeza do que gostava e não podia se permitir pensar diferente.

O tempo passou rápido enquanto aproveitavam a água, passaram o dia conversando, logo era fim de tarde e os amigos começaram a sair. Na área da piscina restaram duas pessoas: Sebastian e Magnus. Sebastian estava contando alguma história sobre uma de suas aulas de Psicologia e Magnus lutava para manter o foco.

- Parece que só sobrou nós dois, então. – Sebastian disse quando terminou o conto.

- Ah, como eu precisava disso.

- Escutar minha história chata? – Magnus riu.

- Não foi chata, mas era sobre vir na piscina. Depois que o Josh se mudou pra cá eu esperei o ano todo pelo verão só pra fazer uso.

- Amizade sincera e verdadeira pela piscina – o moreno brincou e o loiro riu de novo – Mas eu me lembro, nem parece que já se passou quase um ano.

Há dois semestres atrás, Sebastian tinha começado a frequentar as mesmas aulas que os amigos dentro da casa, quando perceberam ele já fazia parte do grupo. Mesmo parecendo sério, quando você dava uma chance para conhecê-lo, ele se mostrava incrivelmente amigável e engraçado. Nesse mesmo espaço de tempo, Magnus tentava esconder os novos sentimentos que começava a vivenciar.

- E você e a Hailey, está tudo bem? – perguntou Sebastian.

Na última semana, Magnus e a namorada tinham brigado, o motivo era o suposto ciúme do garoto por ela com um de seus colegas de sala. Acabaram brigando no meio de uma festa, gritando e chamando a atenção de todos. Quando o momento de bravura passou, Magnus se sentiu péssimo, ele era um hipócrita, sua raiva e ciúme não tinham nada a ver com ela, mas quando os dois conversaram sua justificativa foi de que temia ser enganado, quando na realidade era ele que escondia sua fraude.

- Tudo bem sim, a culpa foi minha – se aproximou, não queria ter de contar a história em voz alta, Hailey não iria gostar de ouvir sobre aquele assunto de novo.

- O que aconteceu?

- Eu surtei, basicamente encontrei ela e Alex conversando na festa e fiquei com ciúmes – a vergonha de ter se submetido àquela situação era tanta que enrubesceu.

- Você não parece fazer o tipo ciumento.

- Normalmente eu não sou, mas naquela noite, não sei o que deu em mim – ele sabia, tinha visto Sebastian conversando com outra garota e descontou na namorada, naquela que realmente deveria sentir ciúmes.

- Dizem que os mais desconfiados são aqueles que mais tem a esconder.

- O que você quer dizer com isso? – mais uma vez a raiva começava a maquiar o medo que Magnus sentia, se Sebastian suspeitava de algo precisava mudar isso logo.

- Você tem algo a esconder, Magnus? – com isso dito, Sebastian se aproximou do amigo, os dois estavam tão próximos que a água nos fios curtos do cabelo do moreno pingava no peito do loiro.

Magnus sentia o coração bater tão forte que não sabia como agir. Não compreendia se o amigo estava o desafiando ou o testando, mas tão perto dele a única coisa que conseguia pensar era que aquele poderia ser o momento perfeito de beijá-lo, de sanar toda sua confusão e entender a si mesmo de uma vez por todas. Contudo, havia tantos perigos: qualquer um poderia entrar ali e ver a cena, além do mais, não sabia se Sebastian também queria. Apesar disso, Magnus deu mais um passo e o espaço entre eles se tornou mínimo, Sebastian não se afastou.

Tudo dependia do avanço de Magnus que ficou ali encarando aqueles olhos escuros, as pintas na bochecha, a boca que estava tão próxima... A adrenalina tomou conta de suas veias e mesmo estando tão eufórico o beijou que deu foi delicado, um selinho simples que foi capaz de fazer todo seu fluxo sanguíneo correr mais rápido, ele esperaria a reação do outro antes de agilizar as coisas, contudo, no mesmo instante em que selaram os lábios, o som da música voltou e vários passos começaram a reaparecer. Era como se em um momento o mundo tivesse parado e eventualmente voltado ao normal, os dois se afastaram: Magnus com a respiração acelerada e Sebastian calmo como sempre era.

- Vai se arrumar, amor, não quero me atrasar – a voz de Hailey mesmo perto soava distante, e ao escutá-la ele se sentiu culpado como nunca.

Depois que saíram, naquela noite, ele levou a namorada ao melhor restaurante, comprou um buquê e dançou com ela no meio da rua, não tinha coragem para contar a própria traição, mas pelo menos a faria se sentir como a melhor mulher do mundo. Na semana posterior, o grupo de amigos não encontrou Sebastian na faculdade. Nos próximos meses, a esperança que tinham para que ele reaparecesse foi sumindo. Nos anos seguintes, ele era apenas uma lembrança distante, uma que tinha sido cravada no coração de Magnus. Ele se sentia culpado pelo que escondia de Hailey e também carregava o peso na consciência de cogitar ser o motivo para o afastamento de Sebastian. Para ele, casamento, filhos e a idade não foram suficientes para que fosse apagado da memória a forma como se sentiu com ele. Vê-lo novamente seria seu último desejo secreto antes de morrer que nunca foi realizado, ele nunca saberia o que Sebastian sentiu e nunca sentiria a própria aceitação de ser o que era.

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