Capítulo II

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Amélia acordou chorando, não era a primeira vez que despertava com lágrimas no rosto após sonhar com ele, esses sonhos eram os piores e mais dolorosos pois conseguia sentir exatamente o que tinha vivenciado por um breve momento. Na folha do caderno, além das informações haviam pequenos borrões de lágrimas. Antes de começar a se arrumar, ficou alguns minutos na cama, refletindo sobre o sonho e sobre ontem. Ainda parecia irreal, ela nunca imaginaria que o atual motivo do seu choro, o garoto que se apresentou pra ela com tantos nomes diferentes e a fez viver tantas sensações novas iria aparecer na escola em um dia qualquer. Ela se perguntava se aquela teria sido a única vez que o veria assim como acontecia durante as noites, caso isso se confirmasse, tinha desperdiçado a chance de entender tantos fatos importantes.

Na noite anterior, pediu licença aos pais durante o jantar e deitou-se para dormir mais cedo, no entanto, demorou para conseguir adormecer pensando no que tinha acontecido. Para ser sincera, ela não esperava o encontrar novamente, parte de si acreditava que tinha sido sua cabeça pregando uma peça. Agora, durante a manhã, mais uma vez ia para a escola com Erin, escutando seu falatório sobre a festa de sexta e tentando ignorar a melancolia decorrente do sonho e o frio na barriga. Não sabia se sentiria melhor ou pior caso não o visse.

Quando começaram a retirar os materiais dos armários, Amélia agradeceu mentalmente pelo fato de Erin ainda não ter mencionado nada sobre o desânimo que a garota estava expressando desde o dia anterior, provavelmente a amiga devia estar pensando que era algum drama familiar e sentia-se aliviada por não ter que explicar seus motivos reais. Foi no meio de uma das fofocas de Erin que ela viu Ethan nos corredores, o choque foi tanto que deixou os livros na sua mão caírem com um estrondo. Os alunos que estavam à sua volta, incluindo ele, a olharam.

- Ei, tá tudo bem? – Erin se agachou para ajudá-la.

- Sim, não se preocupe, eu só peguei de mal jeito – explicou enquanto colocava tudo dentro da mochila rapidamente, quando olhou pro mesmo lugar novamente ele não estava mais lá.

- Você anda no mundo da lua mais que o normal ultimamente – ela sabia que Erin não tinha acreditado na sua desculpa e essa fala demonstrava que a amiga queria a verdade – São os sonhos?

- O quê? Não! Tá tudo bem, sério. Eu só ando distraída essa semana. – era uma péssima mentirosa, mas pelo menos conhecia Erin o suficiente para saber que ela não insistiria. Ainda não.

Naquele dia, iria ter aula de literatura novamente, até o momento era a única matéria da qual sabia frequentar junto de Ethan. Desde a primeira aula de matemática se preparou mentalmente para não entrar em crise perto dele, porém, quanto mais perto do horário da aula da professora Kinsey os ponteiros do relógio ficavam, mais a armadura que tinha montado começava a romper. Quando Amélia entrou na sala, ele já estava sentado no lugar ao lado do seu, com um braço apoiado na mesa e a cabeça reclinada na mão, sua atitude era exatamente como nos seus sonhos: mesmo fazendo pouco, ele conseguia ser charmoso. Quando o garoto percebeu a presença dela, encarou-a na caminhada até a cadeira e sorriu vagamente de lado. Ela gostaria de conseguir agir de forma confiante com ele como já foi com outros garotos antes, mas ele não era qualquer um.

- Bom dia, Amélia – o jeito como seu nome saía da boca dele fazia ela se arrepiar.

- Bom dia – sentou-se e começou a organizar seus materiais na mesa, estava desesperada para fazer qualquer coisa que não permitisse focar nele.

- Dormiu bem? – mais uma vez ele fazia uma pergunta que vinda da boca de qualquer outra pessoa soaria normal, mas no contexto em que ela se encontrava só servia como mais uma evidência para a deixar transtornada.

Antes que pudesse responder, a professora entrou no cômodo, calando os alunos. Amélia começou a anotar toda explicação que estava sendo dita. Ela era uma aluna que tirava notas boas sem necessariamente gastar muito tempo estudando ou escrevendo por ser uma boa ouvinte, mas agora precisava de uma desculpa para se distrair.

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