Capítulo V

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Amélia se admirou no espelho, tinha feito um bom trabalho com a maquiagem: usou uma sombra preta no côncavo e ao redor dos olhos, preparou a pele e usou um batom vinho escuro emprestado da penteadeira de sua mãe. No corpo, toda peça que ela vestia também era de tom preto, desde o vestido curto de alças finas às asas de mentira e o coturno reluzente.

- Você está linda, filha – a voz de sua mãe se manifesta na porta do quarto. Ela era uma cópia mais velha de Amélia, com os mesmos olhos castanhos e o sorriso grande.

- Muito obrigada, mãe. Erin já está vindo me buscar.

- Tudo bem. Se cuida, ok? – Lena não costumava ser uma mãe muito carinhosa, por esse motivo Amélia mal soube como reagir quando inesperadamente ela a abraçou e beijou o topo de sua cabeça.

- Pode deixar – diz ela quando tenta retribuir o afeto, mas até o jeito como suas mãos a rodearam não parecia natural. - Está tudo bem?

- Tudo sim, apenas com saudades – a mãe falou, como se não morassem na mesma casa e se vissem todos os dias.

- Eu também estava. – Amélia sorriu para confortá-la ao mesmo tempo que escutou a buzina de Erin na rua – Estou indo, então. Boa noite, mãe. Vou dormir fora.

- Tchau, filha.

Amélia saiu em confusão. Não era comum ter a mãe tão envolvida assim há meses e a sensação de que aquela pouca interação parecia maior do que realmente foi provava isso. Não era que ela não tinha gostado do afeto, mas a súbita mudança de comportamento a deixava desconcertada. No carro, Victoria já estava sentada no banco da frente e Amélia tomou o assento de trás.

- Nossa, como vocês estão lindas! – elogiou Amélia.

Victoria usava uma maquiagem semelhante à sua com uma sombra preta mesclando-se ao vermelho vivo como a cor dos seus chifres de plástico e da blusa de manga longa transparente, ela tinha cortado dois pedaços de fita em formato de "X" para cobrir os seios. Ao seu lado, Erin estava usando uma sombra cinza metálica que destacava seu longo vestido, branco como as suas asas, e Amélia pensou que ela parecia ter saído do filme Romeu e Julieta com Leonardo DiCaprio.

- Você que está maravilhosa – Victoria retribuiu.

- Eu amei sua maquiagem – Erin acrescentou, as duas sempre sabiam como elevar a autoestima de Amélia.

Estava perto das onze horas quando Erin chegou até o bairro de Ollie. Era um lugar afastado, onde concentravam-se grandes casas e mansões que buscavam principalmente quietude. A casa dos Mayworth com certeza era a mais odiada pelos vizinhos, ou talvez apenas o filho mais velho era, que aproveitava da ausência dos pais durante viagens para acabar com a tranquilidade.

Erin acelerou e, quanto mais perto chegavam, melhor conseguiam ver os vários veículos estacionados na rua. O primeiro instinto de Amélia foi procurar pelo carro preto de Ethan entre as fileiras, mas não o encontrou. Quando o barulho da música lá fora ficou cada vez mais alto, as garotas fecharam os vidros e procuraram um lugar para estacionar, afastado o suficiente para impedir qualquer jovem de riscar a lataria. Descobriram uma vaga perfeita na frente de uma mansão vitoriana e se certificaram de que tinham trancado as portas duas vezes.

A casa de Ollie era de arquitetura moderna com uma combinação de paredes brancas e madeira escura. Era óbvio que seus pais ganhavam muito bem, o sobrenome que a família carregava era o mesmo que estampava a fachada da concessionária mais conhecida da cidade. Os jardins na frente do gramado eram bem cuidados, algumas abóboras com caretas esculpidas tinham sido usadas como decoração junto de um espantalho feito de palha, Amélia sentiu pena da arrumação que provavelmente seria destruída pelos convidados até o fim da noite. A porta da frente estava aberta e o grave do som alto fazia o corpo de Amélia vibrar.

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