Capítulo VII

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É dia, mas a ausência de luminosidade faz parecer que é noite dentro da igreja. O céu lá fora está fechado pelas nuvens e a aparência é de que logo irá começar a chover. Um dia cinzento durante um velório, quanto escárnio do destino, Amélia pensou.

Ela aperta mais o casaco preto em volta de si e tenta ignorar a sensação de que a imagem de Jesus Cristo está a julgando. Não consegue se lembrar qual tinha sido a última vez que visitara uma igreja, sua família não era nenhum pouco religiosa e, por esse motivo, mal sabe o que fazer enquanto o padre realiza o culto.

É uma cerimônia de caixão aberto. Amélia as odeia, não vê necessidade nenhuma de que a última memória que possuí de alguém seja do seu rosto pálido e sem vida. Em compensação, ao lado do caixão está apoiado uma grande foto emoldurada de Jenny. É uma das fotos que tinham tirado para o anuário da escola no começo do ano, seus cabelos ruivos estavam enrolados e a maquiagem delicada realçava sua beleza. O seu sorriso tinha ficado lindo e vê-lo ali fez o coração de Amélia apertar.

- Agora eu dou minha palavra para a senhora Erickson – o padre de cabelos grisalhos anuncia e uma mulher em seus 50 anos sobe ao microfone, seus olhos estão marejados e sua aparência é de alguém que não havia dormido na última noite.

- Jennifer era... – ela começa, mas logo precisa parar para respirar e acalmar a si mesma. – A minha filha era uma garota incrível. Desde criança ela nos dava muito orgulho, sempre foi amável com todos os seus familiares e amigos.

Amélia encara os próprios sapatos escuros e pensa no quanto preferia estar em qualquer outro lugar nesse momento. Seus pais estão sentados ao seu lado, escutando com atenção as palavras que estão sendo ditas, mas ela já não é mais capaz de se concentrar. Toda a situação é ainda muito nova e difícil de acreditar.

Há alguns bancos a frente, junto de outros conhecidos e colegas de classe, estão Erin e Victoria com suas respectivas famílias. Gostaria de poder sair dali com elas, no entanto, sabia o quanto seria uma falta de respeito.

Há um dia, a polícia tinha aparecido na porta de sua casa alegando que ela precisava participar de um interrogatório sobre o crime. Mais tarde, ela descobriu que o motivo para isso era pelo fato de testemunhas alegarem ter visto as duas juntas na festa. Amélia cooperou com todas as perguntas do investigador que olhava para ela com desconfiança e fazia o seu nervosismo aumentar mais ainda.

Ela confirmou que tinha estado com Jenny horas antes do ocorrido, negou que tinha ingerido bebida alcóolica e torceu para que as testemunhas não tivessem dito a verdade quanto a isso. Apesar da circunstância ter sido a razão pela qual tremia tanto, ela sabia que não tinha nenhum envolvimento direto e nem motivos para se preocupar. Todavia, a convicção de que podia cooperar com o inquérito desapareceu junto com a pergunta final:

- Você a viu com mais alguém antes do crime?

A cena de Ethan levando Jenny pelo corredor repassou na sua mente inúmeras vezes desde que tinha se recordado desse episódio. Ainda assim, ela hesitou quando ouviu aquele questionamento. Caso dissesse o nome de Ethan, ele poderia ocupar seu lugar sem ter cometido qualquer delito. Contudo, os fatos que rodeavam a cena do crime eram evidentes demais para ela conseguir ignorar a probabilidade. A polícia tinha aparecido na festa poucos minutos depois que Amélia tinha visto Jenny sozinha com Ethan, o que significava que ela tinha sido assassinada próxima a essa passagem de tempo.

Ainda que Ethan tivesse a ajudado muito, esse amparo não passava de uma única noite e metade de uma manhã. No resto do tempo, ele sempre tinha sido a causa de sua desconfiança e aquele que ocupou espaço em seus sonhos com a vida cercada de mistérios.

Amélia poderia dizer o nome dele, cooperar com a investigação e seguir com sua vida sem preocupação, porém ela tinha sido a única pessoa descoberta pelo olhar de Ethan no corredor e tinha certeza de que memória dele era boa o bastante para considerar isso quando revelarem o porquê de ter sido intimado.

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