Capítulo VIII

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Amélia está correndo. Ofegante e suada, ela se esforça para não tropeçar nos galhos e pedras da floresta. É noite e não há nenhuma luz para ajudar a enxergar o caminho, ela está fugindo sem rumo e torcendo para que a pessoa atrás dela também não seja capaz de ter uma visão sua.

- Amélia! – Ela escuta aquela voz gritar e seu corpo se contrai.

Seu coração está batendo tão rapidamente que parece estar prestes a explodir, seus pulmões já não aguentam mais o ritmo da corrida e sua boca está seca. No entanto, a pior das sensações é o medo, o puro temor daquele homem atrás dela a alcançar, por isso continua correndo sem olhar para trás e ignorando as limitações do seu corpo.

Seus sapatos esmagam as folhas embaixo de si e quanto mais distante consegue chegar, mais longe também espera que ele esteja. Amélia corre por mais alguns metros até seu corpo começar a vacilar, em uma das passadas ela quase tropeça em uma pedra e teme que isso tenha aproximado o perseguidor de si. Ela toma um caminho diferente, correndo para direita, e se esconde atrás de uma árvore grossa o suficiente para cobrir toda sua figura.

A falta de iluminação deve ajudar a não entregar sua localização, ainda assim, se a audição dele for boa, sua mudança de caminho pode ter sido denunciada pelos passos. Amélia se ajoelha, tentando controlar sua respiração, e escuta alguém avançar para frente na direção em que ela teria tomado. O alívio é imediato, mas não há tempo para baixar a guarda.

Ela se levanta, tentando fazer o mínimo de barulho possível, e começa a correr contra o caminho em que estava indo. Não é o rumo mais favorável, mas isso deve ajudar a ganhar tempo e a despistá-lo. Ela corre, garantindo alguns metros, até seu tornozelo enroscar em um galho pesado e seu corpo ser lançado para frente.

Amélia sente seu rosto e tronco tocarem a terra e as folhas, e sabe ali que toda sua energia promovida pela adrenalina acabou. Com as pernas enfraquecidas, ela tenta se levantar, suas mãos agarram a terra em uma tentativa de se impulsionar para cima, porém tudo que consegue fazer é se colocar de joelhos. Até alguns segundos, ela acreditava estar sozinha, mas o som de galhos sendo quebrados por pisadas atrás de si se faz muito próximo.

Tremendo, ela tenta mais uma vez se levantar, dessa vez conseguindo ficar em pé, mas uma mão agarra seu tornozelo e a puxa para trás. Caindo de novo, ela sente uma dor latejante na região em que foi segurada, e sente as lágrimas começando a escorrer em seu rosto. Ethan vira a parte da frente do seu corpo para cima sem dificuldade e ela sente o estômago embrulhar quando descobre que ele está rindo.

- Não precisa chorar, vamos lá – Ethan diz enquanto fica em pé por cima do seu corpo.

- Me deixe ir, por favor – ela implora e isso o faz rir ainda mais.

A visão de Amélia fica turva quando ele tira uma faca do bolso, ela tenta sair do seu controle movendo-se para trás, mas ele se ajoelha, prendendo sua cintura com as coxas. Quando ele levanta a faca na mão direita, algo brilha em seu olhar, e Amélia fecha os olhos no momento em que ele leva a ponta afiada até seu pescoço.

Amélia se senta rapidamente com um grito preso na garganta e o coração acelerado. Ela leva as mãos para o pescoço, mas suas palmas voltam aos lençóis limpas, sem nenhuma mancha de sangue. Encharcada de suor, ela joga o cobertor para o lado e tenta controlar a respiração apressada.

Com a cabeça latejando, ela encara sua imagem no espelho da penteadeira ao lado da cama e percebe o quanto sua aparência está péssima: seus fios de cabelo estão desgrenhados e sua boca está branca como leite. Gradativamente seus sentidos voltam à realidade e sente-se grata por estar na segurança do seu quarto.

Há meses ela sonhava com Ethan nos mais distintos cenários românticos, entretanto, há quase uma semana ele se tornou o assassino dos contos de terror que ela protagoniza. Ainda que agora já seja a terceira ou quarta vez, a imagem dele ferindo seu corpo nas mais diversas circunstâncias continua a fazendo sentir vontade de vomitar.

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⏰ Última atualização: Jan 06, 2022 ⏰

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