Capítulo I

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Eu tinha uma vida normal, como qualquer outra criança de doze anos da minha região. Meu pai trabalhava no campo, e minha mãe costurava roupas e vendia na feira do nosso distrito. Eu estudava pela manhã, e ajudava minha mãe à tarde, e aprendia a costurar com ela, nas horas vagas. Nós não tínhamos muito em questão de riquezas, mas eu não me importava com isso. Às vezes, meu pai conseguia folga no trabalho, e ficávamos todos juntos em casa, ou saíamos para passear no parque, fazíamos piquenique, ou qualquer coisa do tipo. Éramos muito unidos, meus pais se amavam muito, e eu era muito amada por eles.

- Você é nossa princesa, Sophie. Sempre amaremos muito você. – Dizia minha mãe, ao me levar para a cama, enquanto me contava uma história antes de dormir.

Se eu soubesse o que viria depois, eu teria aproveitado todo o tempo possível ao lado deles.

Naquele fatídico dia eu perdi meus pais, minha casa, minha vida. Tudo o que era mais querido de mim fora tirado de repente, e eu escapei por um triz, graças a um soldado que me carregou em seu ombro, me levando para fora de Shiganshina e me colocando em um dos barcos para evacuação da cidade. Eu percorri o caminho inteiro em seu ombro, observando as pedras que voaram da muralha, pessoas correndo desesperadas em direção a muralha Maria, sangue...

Pessoas sendo devoradas por titãs.

Não importa quanto tempo passe, eu nunca esquecerei o que meus olhos viram naquele dia.

Naquela noite, eu comecei a ter sonhos estranhos. Eu corria pelo campo onde eu costumava ir com meus pais, em direção a uma colina, com apenas uma árvore no topo dela. Estava chovendo forte, e no topo da colina, em frente à árvore, eu via um homem de cabelos loiros, barba e bigode também loiros, devia ter por volta de uns vinte anos. Eu nunca via seu rosto com total nitidez. Ventava forte, e seu fios dourados esvoaçantes cobriam seus olhos. Ele estendia sua mão pra mim, e eu via uma enorme cicatriz em seu braço estendido. Eu corria até ele, mas antes que eu pudesse tocar suas mãos, eu acordava.

Sempre o mesmo sonho, praticamente todas as noites. Eu tentava desenhá-lo como via nos meus sonhos, mas tinha certeza que nunca tinha visto ninguém com aquelas características. Eu tentava pensar o que aquele sonho poderia significar, mas eu não tinha nem ideia por onde começar a formular uma explicação. Desenhei inúmeras vezes o rosto daquele homem misterioso, e guardava todas elas nas minhas coisas. Acho que se alguém um dia visse algum desses desenhos, se assustaria. Acharia que eu era uma maníaca, ou sei lá.

No dia seguinte, eu fui em busca de comida, e fiquei feliz ao encontrar meus amigos lá também: Armin, Eren e Mikasa. Eu e Eren crescemos juntos, nossos pais eram muito próximos. Conhecemos Armin ainda pequenos, e depois, o pai de Eren adotou Mikasa.

Eu corri em direção deles, que estavam um pouco mais distantes da fila, comendo a comida que tinham recebido.

- Eren, Mikasa, Armin! – Disse, antes de chegar perto deles. Eles viram seus olhares para mim, felizes por me ver, mas sem "alegria" de fato. Eren me abraçou apertado quando eu cheguei perto dele, chorando.

- Sophie, meus pais...

- Os meus também, Eren... - Disse, tentando segurar minhas próprias lágrimas. Eren era um garoto muito sensível em todos os aspectos, e sempre eu e Mikasa tínhamos que ser as "duronas" do grupo. - Eu estou aqui sozinha, sem rumo. Ainda bem que encontrei vocês, podemos ficar todos juntos agora.

Armin e Mikasa também me abraçaram, e eu fui atrás da minha comida logo em seguida. Nós caminhamos pelos alojamentos, até onde eles estavam dormindo, enquanto eu levava o pano e o cobertor que recebi do governo, para dormir junto a eles. Á noite, nós sentamos os quatro numa rodinha.

- Eren, o que... aconteceu com seus pais?

Ele baixou a cabeça, e eu sabia que aquilo era um assunto muito delicado. Talvez eu não tivesse tocado nele tão cedo, mas eu queria saber o que tinha acontecido.

- Meu pai tinha saído para trabalhar, e eu estava na praça com Mikasa e Armin, quando o titã colossal apareceu. Um dos destroços caiu em cima da minha casa, e prendeu as pernas da minha mãe... eu...

E então ele começou a chorar copiosamente. Mikasa logo se levantou e foi para perto dele, a fim de consolá-lo, e eu fiquei muito mal com tudo aquilo. Os pais de Erem eram meus padrinhos, e já não bastava ter perdido meus pais naquele dia, perdi também as outras únicas pessoas das quais eu considerava família.

[...]

Um ano havia se passado, e as coisas ainda eram mais do mesmo. Nós vivíamos em uma fazenda para órfãos, e depois que milhares de pessoas foram obrigadas a voltar para a muralha maria em busca de suprimentos e praticamente só cem delas voltaram, nós combinamos de ir todos juntos para a turma de cadetes. Decidimos lutar juntos pela humanidade, porque esperar sentado até sermos massacrados era inconcebível para mim. Lutaria com todas as minhas forças por minha vida e pela humanidade, até o dia da minha morte.

Eu tinha muita insônia, e eu corria de madrugada tentando assimilar meus pensamentos, e geralmente, correr me ajudava. Chegava suada e exausta, então tomava um banho, e caía na cama. E foi assim pelos dois anos depois da queda da muralha maria. Depois desse tempo, entramos para a turma de cadetes, mas de fato, minha cabeça nunca mudou. Aquele homem sempre voltava nos meus sonhos, e eu ficava como sempre, sem respostas do que aquilo tudo significava.

Anos depois, as respostas apareceriam.



*NOTAS FINAIS*

* Agradecimentos à maravilhosa @AngryFairy17 (Spirit e Wattpad) pela capa da fic e também a @clara_m (Spirit) pelas capinhas do capítulo. <3

* Espero que gostem da fic, perdão por qualquer erro, e até o próximo capítulo!

Predestinados - Zeke JaegerOnde histórias criam vida. Descubra agora