Capítulo XIX

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Os dias que se seguiram foram calmos, e já estava com um mês que tínhamos chegado. Permanecíamos sem baixar a guarda, pois não sabíamos o que viria a seguir, e nem quando. Fora que, as chuvas começavam a chegar, e nossa visão ficava ainda mais difícil por conta do nevoeiro e do tempo fechado. Eu gostava de chuvas, gostava do tempo fechado, gostava do cinza no céu. Eu, Eren, Armin e Mikasa sempre corríamos debaixo da chuva quando crianças, sempre brincávamos de pega-pega, e aquelas lembranças me faziam sorrir. Espero que meu bebê tenha a mesma felicidade e as mesmas experiências que eu tive quando criança.

Mas isso vai depender do resultado da guerra que estava por vir. Se perdermos, todo morreremos. Homens, mulheres, idosos, crianças, os soldados, os guerreiros, eu, e esse bebê que eu carrego em meu ventre.

Ou talvez eles poupassem minha vida, e aí eu voltaria para Marley, seria obrigada a entregar meu filho para eles, e passaria o resto da vida sendo estuprada pelos marleyanos para gerar mais e mais filhos de sangue real.

Dentre as duas opções, eu prefiro a primeira.

Se destruíssemos Marley, nós poderíamos tentar mudar um pouco da visão do nosso povo, os eldianos de Paradis. As pessoas nos viam como ameaças, mas nós nem sabíamos que essas pessoas existiam até pouquíssimo tempo. Mas Marley era um câncer no mundo. Era uma nação ditatorial, expansionista, autoritária. Os países que não eram aliados deles, eram inimigos, e estavam esperando apenas uma brecha para poderem atacar. Os aliados de Marley só eram aliados para que Marley não os destruísse, eram alianças feitas por medo. Aprendi tudo isso com Zeke, que me ensinou quando caminhávamos e conversávamos. Fora Paradis (que era odiada sem motivo plausível, na minha opinião), Marley era um mal a ser exterminado. E se fossemos nós a destruir esse mal, talvez as pessoas nos vissem de uma outra maneira. Como aliados, talvez.

Mas ainda havia o medo dos titãs. Ainda haviam os titãs colossais nas muralhas. As pessoas viviam com o medo de que o portador do titã fundador os libertasse e eles levassem a destruição ao mundo todo.

E esse era um outro problema. Não sabíamos com quem o fundador estava. Ele poderia ser nossa carta na manga, o nosso bilhete de liberdade. Mesmo que as pessoas ainda continuassem com medo de nós, nós ainda poderíamos usar o poder do titã fundador e proteger a ilha de taques inimigos com os colossais. E poderíamos usar a ameaça de usá-los contra Marley.

Eu estava pensando em tudo isso, debaixo da tenda em cima da muralha de Shiganshina, quando escuto um aviso sonoro disparado pela pistola designada para isso. Eu saio da tenda, e a chuva forte logo começa a me molhar. Olho ao redor, e vejo os sinais vermelhos sendo lançados do topo da muralha.

Eles chegaram.

- Sophie, você precisa sair daqui, agora! – Zeke falou, correndo em minha direção.

- Não vou sair de perto de você, Zeke!

- Você precisa! Vou virar um titã assim que chegar a hora, e aqueles dirigíveis – ele apontou para o céu afrente, onde os veículos voadores começavam a aparecer atrás da névoa- Vão ser destruídos assim que chegarem aqui perto. Eu vou destruí-los, e não quero que você e nosso bebê estejam no meio desse caos!

- Mas se acontecer alguma coisa com você?

- Não vai acontecer nada comigo, não se preocupe. Se preocupe em se proteger.

Olhei ao redor, e já podia ver Eren, Reiner e Bertholdt correndo em nossa direção, as tropas abaixo de nós, dentro de Shiganshina, vindo até nós também. Haviam canhões e mais canhões em cima das muralhas, e mais e mais soldados subiam até lá. Armin e Mikasa chegaram até nós, assim como Erwin, Levi e Hange.

Predestinados - Zeke JaegerOnde histórias criam vida. Descubra agora