Capítulo XII

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Três meses haviam se passado, e aos poucos, eu me recuperava dos meus traumas. Estava da companhia de Zeke praticamente todos os dias, e ao longo desses meses, nós fomos pra cama algumas vezes, mas tudo muito mecânico, muito impessoal, e até então não tinha dado resultado nenhum. Eu gostava da companhia dele, e não o via mais como uma ameaça, não depois de todo o cuidado que ele teve comigo ao longo desse tempo. um inimigo não se daria a esse trabalho todo.

Ele sempre me deixava a par de todo o plano dele, e faltavam dois meses para colocar o plano em prática, mas ele ainda não tinha certeza de como me tiraria do meu cárcere.

- Eu sei que os soldados trocam de turno na madrugada, e aparentemente, seu quarto fica sem vigia por um intervalo de cinco minutos. – Nós conversávamos, sentados no gramado e comendo meus adorados morangos, em frente ao pequeno lago, onde do outro lado dele, o dirigível ficava estacionado. - Temos que aproveitar esse intervalo para tirar você de lá. Além de que, como eu sou chefe de guerra, a expedição até a ilha está sendo supervisionada por mim, e eu estou fazendo o possível para colocar apenas os soldados voluntários na expedição. Mas eventualmente, nem todos estarão do nosso lado. Então vamos ter que esperar a melhor oportunidade para rendê-los no navio. Nesse meio tempo, você vai precisar ficar escondida. Se algum deles vir você, vai saber que algo está errado.

- Reiner e Bertholdt vão participar desse plano?

- Sim, e isso vai ser o suficiente para Marley mobilizar uma força contra Paradis. Eles vão perder três dos seus titãs mais poderosos. Eu também estou executando um plano, que se der certo, vai ser o suficiente para Marley ficar de mãos atadas, e nos dará tempo até conseguirmos chegar na ilha em segurança, e nos aliar com as forças de lá. Por isso precisamos encontrar a coordenada, para garantir a segurança da ilha. Nas minhas pesquisas, eu descobri uma coisa muito importante, sobre a jura de renúncia à guerra.

- Sobre o portador da coordenada com sangue real não poder usar cem por cento do seu poder?

- Isso. E eu não disse isso a Marley, porque é uma informação importantíssima. Bom, basicamente, há a jura de renúncia à guerra, mas ela tem um pequeno furo. Sim, os portadores com sangue real não podem usá-la com cem por cento do seu poder, mas tem uma pequena chance de uma certa linhagem conseguir burlar isso.

- E como seria? – perguntei.

- Basicamente, a linhagem direta de Ymir Fritz, a primeira titã, pode usar a coordenada, mas para isso acontecer, tem quer ser uma mulher, e ser a primogênita. Se esses requisitos forem atendidos, a portadora pode usar a coordenada sem nenhuma restrição. Isso é bem irônico. – Concluiu, olhando para o nada, com um pequeno sorriso no rosto.

- Como assim?

- Na nossa sociedade, os homens são "superiores". É irônico que só uma mulher possa ativar a coordenada e burlar a jura de renúncia à guerra.

- Mas em toda a história desde o rei Fritz que fez essa jura, essa condição não foi atendida?

-Não. O rei Fritz teve seu primogênito homem, e logo depois disso, a coordenada foi passada para outro braço da linhagem real, os Reiss. E eles, como não são da linhagem principal, são acometidos pela jura de renúncia à guerra, mesmo que a portadora seja uma menina e primogênita.

- Só tem um problema nisso tudo, claro. Não sabemos quem tem a coordenada. – Conclui.

- É, e nem sabemos se o portador atual atende aos requisitos. A missão de Reiner e Bertholdt, junto com Annie e Marcel, eram encontrar o portador da coordenada, e raptá-lo. Quando eles dois descobriram que você era uma Fritz, eles acreditaram que você poderia ter a coordenada, mas isso é improvável, na minha opinião.

- Bom, eu acho que se eu fosse uma titã, eu saberia, não?

Lembrei de Eren. Eren não sabia que era titã até ser colocado numa situação extrema, e aí, seus poderes "despertaram". Eu já tinha passado por uma situação extrema ali, o evento do qual eu evitava a todo custo lembrar, e não tinha sentido nenhum tipo de poder despertar em mim.

- É, você provavelmente saberia. Agora vamos andando, já está anoitecendo.

Caminhamos de volta, conversando sobre coisas triviais. Não podíamos falar sobre o plano nem nada das coisas que conversávamos, pois estávamos no meio das pessoas. Qualquer uma poderia ouvir, achar estranho e reportar ao exército, e Zeke estaria morto por traição. Mas eu gostava das nossas conversas triviais. Ele sempre fazia uma gracinha ou outra, arrancando sorrisos de mim, e os olhos dele brilhavam ao me ver sorrindo. Eu me sentia à vontade com ele, depois de todos esses meses, mas ainda tinha uma coisa da qual eu tinha dúvidas, e isso estava encravado na minha cabeça nos últimos dias.

E eu estava disposta a tirar essa dúvida de uma vez por todas.

Chegamos no meu quarto, e entramos.

- Zeke, eu queria fazer uma pergunta pra você.

- Faça. – respondeu, trancando a porta.

- Eu já meio que fiz esse questionamento pra você várias vezes, e você sempre desviou e nunca respondeu. mas agora eu quero uma resposta, e eu vou ser direta na minha pergunta: o que você sente por mim?

A minha pergunta o pegou completamente de surpresa, e eu vi suas bochechas rosarem, enquanto ele arregalava os olhos para mim.

- C-Como assim, o que eu sinto por você?

- Não se faça de desentendido, Zeke. Você entendeu muito bem a pergunta. Uma pessoa não faz o que você faz por mim se não tiver um sentimento muito forte por ela. Você poderia dar a desculpa de que faz isso porque somos primos, mas você cuida de mim e preza pela minha vida desde antes de saber do nosso parentesco. Então responda, Zeke: você é apaixonado por mim? – Fui direta. Dessa vez, não daria brechas para ele fugir sem me dar uma resposta. Apesar de eu já imaginar qual seria a resposta.

Ele me fitou por alguns momentos, e respondeu:

- Sim. Sou apaixonado por você desde a primeira vez que botei meus olhos em você, a garota que apareceu em meus sonhos por cinco anos, materializada na minha frente. Sentia que devia proteger você, a qualquer custo, e é isso que estou fazendo. Eu sei que muito provavelmente você nunca retribuirá os sentimentos que eu tenho por você, por causa do que eu te fiz, e por mim tudo bem, desde que você consiga ser feliz e livre no fim disso tudo.

Aquela resposta foi o suficiente para eu decidir fazer o que eu planejava há alguns dias.

Cheguei bem próxima a ele, e ele não desviava o olhar de mim.

- Quero tentar uma coisa. Eu posso?

- Hum... pode.

Coloquei minhas mãos em sua nuca e o puxei suavemente para mim, finalmente grudando nossos lábios. Queria saber como seria beijá-lo, se alguma lembrança ruim desencadearia na minha mente, se isso me faria sentir algo ruim, mas nada disso não aconteceu. E eu gostei do beijo, me senti bem com aquilo. Ele parecia surpreso com minha atitude, mas não se afastou, e retribuiu o carinho que meus lábios faziam nos dele. O beijo foi suave e calmo, e eu o ouvia respirar forte. Devagar, ele colocou as duas mãos na minha cintura, e me puxou para perto dele, nossos corpos agora colados. Continuamos envolvidos naquele beijo, nossas línguas numa dança a procura de espaço. O gosto levemente azedo do morango ainda estava em sua boca, e aquilo deixava o beijo ainda melhor. Depois do beijo demorado, ele lentamente afastou seu rosto do meu, abrindo os olhos lentamente. Ao focar sua visão em meu rosto, ele sorriu, e esfregou seu polegar gentilmente na minha bochecha.

- As coisas entre nós deveriam ter começado assim. Era o que eu desejava, quando te vi.

- Nem sempre as coisas são da forma que desejamos, infelizmente. Quando eu pensava sobre ir para a cama com um homem, eu só queria entregar meu corpo pra alguém do qual eu tivesse a certeza de que me amava. Eu não quero mais fazer as coisas da maneira que estamos fazendo, Zeke, eu odeio isso. Quero ir pra cama com você por desejo, e não por obrigação. E quero fazer isso agora. Quero que nos conectemos. Quero tentar atravessar essa barreira terrível que as circunstâncias colocaram entre nós dois. Eu quero... sentir seu amor por mim.

Predestinados - Zeke JaegerOnde histórias criam vida. Descubra agora