Capítulo II

666 80 4
                                    

Eu acordei lentamente em uma salinha pequena, e senti o ambiente balançar um pouco, o que me assustou levemente. Ainda estava meio atordoada, e minha cabeça ainda doía. Minha visão foi focando lentamente, e eu observava devagar tudo ao meu redor. Um caixote de madeira com uma pequena lamparina em cima, uma pequena mesa com uma cadeira no lado oposto da cama onde eu estava deitada, e uma janela redonda de vidro com as bordas de ferro, por onde entrava luz. Depois, vi Reiner e Bertholdt em pé, próximos da porta.

- Sophie? Como você está? – Perguntou Bertholdt.

E então eu lembrei de os dois se revelarem como sendo o titã blindado e o titã colossal, e depois disso, não lembro de mais nada.

- Vocês dois... por que? – Perguntei com pesar, os olhos cheios de lágrimas. – Nós confiávamos em vocês! Vocês eram meus companheiros de batalha, amadurecemos todos juntos... mas todo esse tempo vocês nos enganaram...

- Era nossa missão. Infelizmente, só cumprimos metade dela. Mas não tem problema, depois de cinco anos nós finalmente sabemos quem está com o que buscamos. Depois voltamos pra buscar o Eren. – Reiner disse.

- E-Eren?! O que o Eren tem a ver com tudo isso?

- Ele é a outra parte da nossa missão. Olha, não se preocupe, não vamos matá-la nem algo do tipo, temos outros planos para você.

- Nossa, eu super vou acreditar que você está falando a verdade, Reiner!

Ele respirou fundo, e disse:

- Bom, você acreditando ou não, essa é a verdade. Terão guardas vigiando você dia e noite. Se quiser andar pelo navio, você pode, mas só com a supervisão deles.

- Navio? O que é isso?

Ele riu.

- É verdade, você cresceu dentro das muralhas. Venha conosco, vou te mostrar tudo.

Os dois viraram as costas e abriram a pequena porta de ferro, e mesmo sem ter muita certeza, eu os segui. Haviam muitas pessoas ali dentro, trajando uniformes azuis marinho, alguns com armas iguais às que a polícia militar usava, e alguns com uma espécie de braçadeira bege no braço esquerdo. Reiner e Bertholdt também tinham, mas as braçadeiras dele eram vermelhas. Me perguntei se eles eram algum tipo de superior dos outros, pois não vi mais ninguém além deles com aquela cor de braçadeira.

Depois de andar por alguns corredores estreitos, e eu continuar achando estranho o chão estar se mexendo levemente, eles dois saem por uma porta e uma luz muito forte afetou meus olhos, me fazendo colocar a mão no rosto enquanto saía atrás deles.

E assim que meus olhos se acostumam com a luminosidade, eu fiquei em choque com o que via.

Eu não sabia no que eu estava, mas se movia por uma imensidão azul, até onde minha vista alcançava. Cheguei até a borda, e para todos os lados que eu olhava, só via azul.

"O mar... é um lago de água salgada, que se estende até onde a vista alcança. Mesmo que os mercadores passassem a vida extraindo o sal que tem do mar, ele nunca acabaria!!!"

- Então, o Armin estava mesmo certo... isso... é o mar...

Uma lágrima escorreu do meu rosto ao lembrar do sonho de Armin, algo que eu particularmente tinha minhas dúvidas sobre existir de verdade. Achava que era só um conto de um livro antigo. Eu, que era cética, pude constatar a verdade antes do meu amigo. Um frio percorreu minha espinha.

Não estava mais na muralha, e provavelmente nunca mais voltaria.

Mais uma vez, eu estava sendo forçada a deixar tudo para trás.

- "Navio" é onde nós estamos, Sophie. – Bertholdt disse, me trazendo de volta à realidade. – É um transporte que faz com que possamos viajar pelo mar até nossa terra natal, ou pra qualquer outro lugar que quisermos.

- Entendi. – Respondi, sem nenhuma emoção.

- Vamos passar mais alguns dias viajando nele, então tente se acostumar com o balanço do navio. Você pode sentir enjoo no começo, mas logo se acostuma. E, bom... se precisar de algo, pode falar com a gente.

Eu ri, num tom de deboche.

- Você só pode estar de brincadeira, Bertholdt. – Disse, me virando e ficando de frente para os dois. – Vocês dois destroem as muralhas, matam milhares de pessoas, se infiltram no meio das suas vítimas, me raptam, e acha que eu vou confiar em algum de vocês pra algo que eu precise? Vai se foder, Bertholdt. VAI SE FODER, BERTHOLDT!!!!

Então eu parti pra cima dele. Reiner me segurou rapidamente, mas não tão rápido para impedir que eu arranhasse o rosto do moreno.

- EU VOU MATAR VOCÊS DOIS!!! EU DARIA MINHA VIDA COM PRAZER PRA VER VOCÊS AGONIZANDO, SEUS MALDITOS!!!

Bertholdt olhava assustado pra mim, com as mãos no rosto, e eu podia ver o sangue descendo entre seus dedos, assim como fumaça que saía do mesmo lugar. Reiner ainda me segurava com força, e eu chorava de raiva, tristeza e desespero.

- Sophie, calma!

- Calma uma merda, Reiner! Você é ainda pior, Eren confiava em você, te via como um irmão! Você traiu todos nós!!! ME SOLTA!!!

- Que confusão toda é essa, Reiner? Apenas tire essa garota daqui. – Um homem com a pele morena apareceu, falando com Reiner.

- Sim, Comandante! Vou levá-la de volta agora mesmo!

Reiner me colocou em seu ombro, e eu gritava e me esperneava, dava socos em suas costas, mas de nada adiantou. Voltamos até o pequeno quarto do qual eu estava quando acordei, e Reiner me jogou em cima da cama de qualquer jeito. Eu olhava para ele com ódio, nojo e repulsa, mas ele me olhava com o mesmo olhar de sempre, como um companheiro. Ele se agachou perto de mim, e disse, baixinho:

- Acredite, isso é pelo bem de todos, inclusive de quem você ama. Armin, Eren e Mikasa... todos naquela maldita ilha que você tanto ama. Se quiser salvá-los, colabore conosco.

- Por que você acha que eu vou acreditar em uma única palavra que sai dessa sua boca de merda, Reiner? Quer que eu acredite que você matou milhares, inclusive meus pais, pelo bem de todos? Eu juro pra você, Reiner, e pra você também, Bertholdt. – Disse, olhando para o moreno que estava parado na porta. – Que eu vou matá-los. Nem que eu perca minha própria vida, mas eu vou acabar com a vida de vocês dois.

- Sophie...

- Deixe-a, Bertholdt. Ela ainda não entende nada. Vamos.

E então os dois saíram, fechando e trancando a porta de ferro. Assim que eles fecharam a porta, eu corri em direção a ela, tentando empurrá-la e gritando. Não consegui mover um centímetro da porta. Me virei e fui direto olhar pela pequena janela circular, mas eu só via um mar em tons de azul. Tentei bater na janela com os punhos, peguei a cadeira para bater na janela também, mas o vidro parecia inquebrável. Depois, constatando que nada do que eu pudesse fazer me tiraria daquela situação, eu simplesmente encostei na parede e me arrastei até o chão, com os joelhos contra o peito, e comecei a chorar, pensando no que poderia vir a seguir.

Predestinados - Zeke JaegerOnde histórias criam vida. Descubra agora