Capítulo III

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Passamos alguns dias viajando no navio, e todos os dias, Reiner e Bertholdt vinham me ver. Mesmo querendo ver os dois mortos, eles eram os únicos rostos familiares naquele lugar, e as únicas pessoas das quais eu conversava, e mesmo que apenas trocasse meia dúzia de palavras com eles, isso era o suficiente pra eu não me sentir completamente sozinha. Á noite, às vezes, eles vinham me buscar e caminhávamos até a parte da frente do navio (que eu descobri que se chamava proa) e eu ficava sentindo o vento frio no meu rosto, e olhando as estrelas. Pareciam ter cem vezes mais estrelas ali do que quando eu observava da muralha.

- Amanhã nós chegaremos em Marley, nossa terra natal. – Reiner dizia enquanto meus olhos ainda estavam fixos na lua cheia que iluminava o oceano. – Eu quero que você tente colaborar conosco. Você ficará em uma das instalações do governo, e será supervisionada pelos militares.

- E se eu não quiser colaborar? – Perguntei, virando de costas para o mar e ficando de frente para eles. - E se eu pegar a primeira coisa pontiaguda que eu ver pela frente e enfiar na garganta de um de vocês dois, ou de qualquer outro militar?

- Você não vai ter acesso a coisas desse tipo. E acredite, é melhor pra você se colaborar conosco. O governo de Marley pode fazer coisas horríveis com você. – Bertholdt disse.

- Mais horrível do que me sequestrar e me levar pra um país inimigo contra minha vontade?

- Sim, pior do que isso. – Reiner respondeu. – Muito pior do que isso.

- Por que vocês se importam com isso? Até parece que se importam comigo.

- Nós nos importamos com você, Sophie! – Disse Reiner, ficando do meu lado. – Eu sei que mentimos pra você e para todos nas muralhas, mas nós gostávamos de vocês de verdade! – Ele ficou em silêncio por um momento, e depois continuou: - Mas nós tínhamos uma missão, e você era parte dela. Não tivemos escolha.

- Fomos enganados, Sophie, sobre as pessoas da ilha. – Bertholdt estava do meu lado também, agora. – Acreditávamos que vocês eram demônios, que mereciam morrer... agora nós sabemos que tudo isso é mentira, mas não temos como voltar atrás nas nossas ações. Só nos resta conviver com isso e seguir em frente.

- Vocês acham que eu vou cair nessa história de vocês? Entendam: eu não acredito em nada do que vocês falam. NADA. Principalmente sobre a parte de se importarem comigo e com as pessoas nas muralhas. Eu só quero saber o que vão fazer comigo. Vão me matar? Vão me torturar? Eu acho que eu mereço saber o que me espera!

- Nós não temos detalhes sobre isso. – Respondeu o loiro, agora também apreciando a bela vista. - Só disseram para procurar você e o portador do titã dentro das muralhas..., mas não sabemos com exatidão como você se encaixa em tudo isso. Dificilmente vão matar você, mas provavelmente será torturada, se não colaborar. – Ele se virou para mim, e continuou: - Por isso estou pedindo que colabore. Não quero que sofra sem necessidade, ou por ser orgulhosa demais. Você não precisa sofrer se você decidir colaborar com a gente.

Ele olhava fixamente nos meus olhos, e por alguma razão, eu queria acreditar nele.

- Tudo bem, eu vou ao menos tentar colaborar. Mas não conte muito comigo. Não vou me aliar a vocês.

[...]

Eu acordei num pulo, com um som ensurdecedor vindo de fora, algo parecido com uma sirene. Troquei de roupa e fiquei sentada na cama, esperando que alguém aparecesse. Um soldado trouxe comida para mim, e eu comi tudo. Pouco tempo depois, Bertholdt apareceu.

- Chegamos. Vamos atracar no porto daqui a pouco. Venha comigo.

"atracar"? "porto"?

Nós caminhávamos, e ele olhava para mim, apreensivo.

Predestinados - Zeke JaegerOnde histórias criam vida. Descubra agora