; quarto

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04.

O segredo dos Malfoy


            Não é para ter sido como se algum meteoro tivesse nos atingido em cheio segundos depois da minha pergunta, mas, pela cara que Scorpius faz, eu quase acredito na possibilidade. Seus olhos escurecem em questão de segundos quando ele abaixa levemente a cabeça, pensando muito.

Nessa calçada onde não há ninguém, o céu escurecendo lentamente, eu me sinto completamente enraizado ao chão, como se longas raízes tivessem submergido e agarrado as minhas pernas.

E é impossível não pensar no motivo pelo qual ele tanto esconde sua casa de mim. No porquê ele não quer que eu vá lá, se há alguma coisa que ninguém sabe, e ele não quer me mostrar.

Ele ergue a cabeça, as sobrancelhas franzidas, um sorriso estranho.

─ Era o que eu estava esperando. ─ ele murmura, então olha ao caminho à nossa frente e balança a cabeça. ─ Pode seguir em frente, vou te guiar.

─ Só quero saber mais sobre você.

─ Eu sou tão misterioso assim?

Por mais que eu tenha de concordar, a única coisa que eu consigo fazer é dar de ombros enquanto nós tornamos a andar pela calçada escura, com menos velocidade.

São cinco minutos em silêncio, e isso, sem dúvida, começa a me incomodar mais uma vez. Portanto, ele parece pensar o mesmo. Desse modo, ele fala, tão baixo que é quase impossível escutar:

─ Quer... que eu conte um pouco sobre mim?

E eu balanço rapidamente a cabeça, o que parece um pouco estranho para ele, já que hesita um pouco e deixa escapar uma risadinha exausta.

Scorpius demora um tempo para começar a falar, porventura imaginando quais palavras usar, o que eu sempre faço quando vou falar com alguém.

─ Moramos só eu e meu pai. ─ ele diz, de repente, e eu não consigo ver seu rosto, porque, por mais absurdo que pareça, ele está de cabeça baixa, como eu nunca vi antes. ─ Minha mãe ela... se foi, há alguns anos. Eu e ele moramos em um prédio. Meu pai comprou esse apartamento luxuoso, enorme e cheio de espaço há três semanas. Ele disse que prefere apartamento, mas nunca me contou o motivo.

De alguma forma isso me interessa, então eu apenas fico em silêncio, esperando por uma continuação.

─ Meu pai, ele... Ah ─ ele suspira pesadamente. ─, quer saber? Deixa pra lá.

Não. Eu quero saber. Quero saber mais sobre você, seu pai, sua família. Sobre seu apartamento, sua vida, e tudo o que você faz. Quero te ouvir falando o dia inteiro sobre as coisas que você gosta, os filmes que você assiste, as músicas que você escuta, suas comidas favoritas. Não quero que fique quieto.

Quero que você se abra a mim do mesmo jeito que se abre ao mundo.

Quero conseguir dizê-lo tudo isso. Mas as palavras morrem na minha garganta, formando um nó impossível de conviver. Queria que eu conseguisse conversar como uma pessoa normal. Queria que, pelo menos, eu conseguisse trazer essas frases, mesmo entre os dentes. Porque eu quero que ele me escute também.

Eu só não sei por que meu corpo me impede tanto de dizer até as coisas mais idiotas.

Estou convicto em dizer que meu rosto está inexpressivo, o dele, indecifrável.

As coisas não podem caminhar dessa maneira.

Eu tenho que falar alguma coisa. Qualquer que seja. E, dentre tantas coisas, meu corpo só me permite dizer uma palavra, porque ele acha ser suficiente, mesmo que eu não.

Sentimentos São - ScorbusOnde histórias criam vida. Descubra agora