Sentimentos São - Scorbus

; sétimo

07.

Um péssimo amigo

─ É hoje.

Apertando com força um pote de creme, que caí na sua mão, Craig olha ao espelho em sua frente, com um sorriso enorme nos lábios. Estamos na casa de Scorpius, nos preparando para a festa de Rose que começa daqui a uns dez minutos, e tudo parece bem. Tudo está muito bem, na verdade.

O cabelo de Craig está impecável de lindo, mas ele insiste em passar mais toneladas de creme para o que ele diz fazer uma boa definição no seu cabelo tão cacheado. Então eu apenas o observo, apoiado na penteadeira de Scorpius enquanto olho uma de suas caixas de maquiagem, me perguntando se Scorpius vai usá-la, já que fica terrivelmente atraente apenas com delineador.

E vendo o sorriso maroto de Craig, seguido por sua fala, eu desvio minha atenção da caixa de maquiagem, e o olho pelo reflexo do espelho.

─ O que está planejando?

─ Deixa eu adivinhar ─ ele diz, virando a cabeça para o lado, e me olhando diretamente. ─ você esqueceu o que eu disse hoje mais cedo na escola?

Craig devia ter dito alguma coisa na aula mais cedo mas eu estava alheio demais pensando na festa de Rose para ouvir.

─ Eu não... ─ me justifico. ─ não estava prestando atenção.

Ele ri baixinho, explicando impacientemente enquanto enrola um dos seus cachos cheio de creme no indicador.

─ Vou me confessar a Rose. Falar meus sentimentos.

─ Que está apaixonado?

Ele concorda com um sorriso, e eu fico pensando sobre isso.

Pelas minhas contas, eu devo estar com medo. Com medo que ele descubra que Rose não consegue se apaixonar, muito menos por ele. Com medo dele se machucar. Com medo de vê-lo chorar com o coração despedaçado. Porque deve ser horrível ter uma decepção como essa, ainda mais se o assunto é Craig, porque ele é duas vezes mais sensível do que qualquer outra pessoa que eu conheço.

─ E o que você acha... ─ falo, porque não me sinto seguro o suficiente para contar, e nem se Rose aprovaria que eu contasse por ela. ─ O que você acha que ela vai dizer?

Ele dá de ombros, soltando o cabelo e fazendo um cachinho definido saltar de seu dedo, despertando em si um sorriso.

─ Bem, tenho certeza de que ela está apaixonada por mim de volta. ─ ele fala, e eu engulo em seco. ─ Vê o jeito que ela olha para mim, ou que ela me abraça quando terminamos os treinos de baseball? Ela deve deixar mais na cara que eu mesmo. ─ ele suspira, sonhador. ─ Eu sou um sortudo.

Coloco a mão no seu ombro, sentindo minha cabeça arder. Eu não sei o que fazer. Eu sei que Rose não consegue se apaixonar, e sei que Craig vai se machucar uma hora ou outra. Não sei o que fazer para impedir uma enorme catástrofe.

Eu não sei se digo que é uma boa ideia, ou que ele deveria desistir.

─ Vocês vão ficar juntos, então? ─ é a única coisa que me vem à cabeça. Uma coisa que não pode deixá-lo tão mal. Uma coisa que eu sei que fará um sorriso enorme surgir no seu rosto.

E o sorriso aparece. Aparece e aquece meu coração, ao mesmo tempo que o perfura, me maltratando. Então é assim que é o amor, tão forte e tão bom. Mas ao mesmo tempo tão desesperador e doloroso. Eu odeio amar Craig.

─ Confia em mim. Eu vou conseguir. ─ ele diz, cobrindo os olhos. ─ Aah, estou tão nervoso. E tão ansioso! ─ então ele me olha, e eu não sei como reagir. ─ Parando pra pensar, eu vou fazer parte da sua família. Vou te atormentar o dia todo.