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06.

O passado em cicatrizes

É possível ouvir, baixinho, o som do aparelho de som de Scorpius sobre a cômoda, tocando a playlist completa de todas as músicas mais recentes de Katy Perry. Sobre a cama dele, não sei como me mover, e nem para onde. Tudo ao meu redor está verde claro tamanha a intensidade das luzes de led sobre a minha cabeça. Scorpius gosta de verde.

    São sete horas da noite, e eu me sinto mais acordado do que o normal. Quando fomos embora da casa de Craig, Scorpius me puxou para seu apartamento, a fim de conversar ─ suas palavras. E é impossível não ficar inquieto, qualquer pessoa ficaria inquieta, afinal, ainda mais se o fato de ter escutado uma declaração de amor horas antes for considerado.

    O problema é que eu não sei se Scorpius quer conversar sobre o que aconteceu hoje mais cedo, ou não.

    Não é possível que ele tenha esquecido. Eu sei que ele está pensando sobre como eu saí correndo sem rumo assim que ele disse que está completamente apaixonado por mim. Tenho certeza de que ele está pensando sobre isso.

    Quanto mais Scorpius demora para aparecer, mais minhas entranhas se contorcem, esmagando meu cérebro, e formando um nó apertado na minha garganta. Isso é o suficiente para eu começar a transpirar e procurar por ar fresco. Afinal, Scorpius me disse para ficar aqui enquanto ele faz suco de laranja na cozinha, e ele pode chegar a qualquer momento. Eu não poderia simplesmente sair correndo daqui e deixá-lo sozinho.

    Eu nem ousaria em cometer esse erro duas vezes.

    De qualquer forma, sobre o que ele e Craig conversaram?

    A porta do quarto se abre lentamente, e eu vejo um Scorpius desajeitado tentando empurrar a maçaneta com o cotovelo, visto que ambas suas mãos estão ocupadas segurando um par de copos de vidro vazios, e uma jarra de suco de laranja. Concentrado em não derrubar nada, ele morde a língua, e, ao entrar no quarto, fecha a porta com suas costas e olha para mim.

    Eu abraço minhas pernas, sem saber o que fazer, e ele se aproxima de mim, colocando os copos e a jarra sobre sua mesa de cabeceira ao meu lado, e enchendo os copos com suco.

    E, em questão de segundos, nós estamos sentados lado a lado sobre sua cama, a luz verde nos engolindo. Eu não consigo beber nada, minha garganta está tão fechada que chega a ser quase impossível respirar. Quando eu sinto a cabeça de Scorpius deitando-se no meu ombro, a voz na minha cabeça diz para eu correr de novo. Mas eu não faço isso. Não posso fazer isso com ele, nem comigo.

    Eu tento beber um pouco do seu suco, só para não parecer tão ingrato, e é um desafio engolir, principalmente quando eu sinto os fios de seus cabelos prateados caindo sobre o meu casaco.

    Não só isso, como eu também viro uma pedra ao sentir seus dedos passando por trás dos cachos do meu cabelo.

    Scorpius, o que é tudo isso que está fazendo?

    Como consegue fazer com que eu sinta as coisas tão bem, mesmo que não saiba o que?

    ─ Adoro seu cabelo. Devia deixá-lo assim mais vezes.

    Scorpius elogiou meu cabelo, Scorpius elogiou meu cabelo.

    Bebo mais um pouco do suco, em completo silêncio, sem saber se é o certo agradecer, rir ou elogiar o dele também, que, por um acaso, é mil vezes mais bonito que o meu.

    Eu não faço nada disso. Então ele se move. Deixa seu copo já vazio no chão, perto da cama, e se aproxima de mim, murmurando quando raspa a pontinha do seu nariz atrás da minha orelha, e diz:

Sentimentos São - ScorbusOnde histórias criam vida. Descubra agora