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Epílogo

Meu garoto


 É impossível não pensar que já fazem três anos desde que Craig e Scorpius me deixaram, quando eu estou, neste momento, em fase de mudanças. Porque, de qualquer forma, eu apenas consegui mudar por causa deles.

Há três anos atrás eu era um adolescente de dezessete anos que não suportava estudar. Mas agora, com vinte anos, sinto falta da escola. Sinto que deveria ter aproveitado mais. Me arrependo de não ter sido quem eu sou por causa do medo de conhecer novas pessoas na qual eu posso confiar.

Todos os dias penso que eu queria voltar no tempo e viver cada segundo como se esse fosse o último.

Há uma dor incômoda cutucando meu peito quando olho ao meu redor. Estou na casa dos meus pais, dentro do quarto que eu dormi durante toda minha vida. Mas eu não consigo me lembrar qual foi a última vez que o vi assim.

Minha cama não está aqui, nem minha mesa, nem meu guarda-roupa, nem nenhuma prateleira. As paredes estão vazias e manchadas de sujeira, e o chão sendo refletido pela luz da claridade chuvosa lá fora, que entra em cheio pela janela.

Estou saindo de casa porque finalmente achei um lugar para morar. Estranho pensar dessa forma. Meu eu de treze anos deve estar extremamente desapontado comigo, porque nosso sonho é que eu conseguisse um bom emprego aos dezoito anos, e saído de casa o quanto antes possível pela maioridade.

Porém agora, quando sinto que estou prestes a ir embora, há um pensamento na minha cabeça que me faz questionar se isso é a coisa certa a se fazer.

Mas não posso desistir agora quando apenas falta o último passo. O último passo que apenas eu devo dar.

Albus, você apenas tem que fechar essa porta e se despedir dos seus familiares. As malas estão dentro do carro. Você apenas precisa ir.

Luto contra a vontade de ver pela última vez a minha infância e adolescência em um espaço sujo, brilhante e vazio, e finalmente fecho a porta.

Mudanças precisam ser feitas.

O som da madeira da porta se fechando é seco e rude. Há uma fervura em meu estômago, e um sentimento de leveza no peito. Não sei o que sinto, mas acho que não preciso descobrir agora.

Então eu dou de cara com um porta-retrato pendurado na parede ao lado da porta do meu quarto. Uma foto que eu imprimi e coloquei dentro de uma moldura há três anos depois que soube sobre a Snow, minha gatinha. A foto que Carrie me enviou horas antes de Craig morrer.

Eu a tiro da parede e a analiso bem perto do meu rosto.

Essa foto me fascina. Me fascina porque é passado. Porque é inalcançável. E eu sempre me apaixonei pelo inalcançável. Pelo que eu não posso ter. Pelo que eu não posso ver. Por Craig, Snow e Scorpius.

Snow. Nunca vou me esquecer dela.

Estava tão absorto dentro dos meus pensamentos que mal pude escutar sons de passos atrás de mim. Ao me virar, dou de cara com meu irmão, James Sirius, que eu não vejo desde que ele foi embora de casa, há três anos.

Ele está tão diferente. Tão maduro. Da última vez que o vi, ele estava com um bigode fininho e feio, e se esnobava com ele. Agora, parece que viu o quanto aquilo estava ridículo em seu rosto, porque está com a barba rala, como se a tivesse feito há uns dias.

Ele parece mais saudável, como se tivesse aprendido a se cuidar, e ele me encara com um olhar que nunca vi antes. Um olhar protetor, afetivo.

Um olhar de irmão mais velho.

Sentimentos São - ScorbusOnde histórias criam vida. Descubra agora