; oitavo

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08.

Fazendo chover


Era para ser um dia incrível, mas nada está dando certo.

Rose acabou com a festa mais cedo, o que fez a todos reclamarem, mesmo que ela não se importasse nem um pouco. Quando Polly Chapman quis arranjar uma briga com ela no fim da festa por causa disso, uma Rose calada e chorosa apenas fechou o portão na cara dela como se nem ao menos tivesse a escutado.

Já Scorpius também teve de ir embora mais cedo. Assim que me beijou na bochecha, a única coisa que disse antes de sair correndo pela calçada foi que eu poderia entregá-lo sua jaqueta listrada amanhã na escola, e que ele não poderia chegar depois das dez da noite em casa, senão já era (me pergunto o quão grave isso é).

O céu está estrelado quando eu caminho de volta para a minha casa, pensando em tudo no que aconteceu. Pensando nas caras sem nenhum pingo de energia de Rose e Scorpius, pensando se Craig está bem no hospital, pensando em quem ele estava se referindo ao me dizer que ela morreu.

Porque eu não consigo me lembrar de nenhuma pessoa que morreu. Nenhuma pessoa cuja morte tanto afetaria Craig.

Estou olhando para meus pés calçados marchando sobre as pedras da calçada, banhadas pela luz da lua. Meus olhos não estão nem um pouco molhados, eu não apareço estar nem um pouco triste, eu não consigo colocar para fora toda a dor dentro de mim, todo o aperto na minha cabeça e no meu peito.

E quando chego em casa, eu apenas sou recebido pelos meus pais, que me abraçam e me perguntam o dono da jaqueta que estou vestindo, e que eles nunca viram. Mas eu não respondo, minha garganta está apertada e eu não sei se sequer tenho voz.

Antes de fechar a porta eu apenas consigo concordar freneticamente com a cabeça à pergunta da minha mãe, que veio atrás de mim e questionou se eu tinha me divertido na festa da Rose. Depois disso, eu não saio mais do meu quarto. Eu fico trancado até pegar no sono.

Deitado na minha cama com os braços abertos eu penso se Craig está bem, se está acordado, se está chorando.

Bufo e pego meu celular, tentando pensar em alguma outra coisa. Mas ao ligar a tela, a primeira coisa que vejo é a notificação de uma mensagem de Carrie, a mãe de Craig.

É a mensagem de alguma horas atrás, antes de tudo acontecer.


Carrie:

Querido, olha o que eu achei no fundo da minha galeria


E quando abro a mensagem, vejo que é uma foto minha e de Craig. Nós parecemos ter onze anos de idade e estamos nos abraçando pelos ombros, com dois sorrisos enormes e idênticos no rosto. Eu não lembro muito dessa época, não lembro como era quando eu tinha onze.

A única coisa que lembro foi que naqueles tempos que eu comecei a me fechar para todo mundo, que eu comecei a me machucar, a ficar mais quieto, a não conseguir mais sorrir.

Eu nem sequer lembro o motivo de tudo isso.

Foi simplesmente do nada. Da noite para o dia. Sem que eu me desse conta.

Não sei por quanto tempo eu fico admirando a foto, dando zoom em algumas partes desta para analisar alguns detalhes, como o corte no meu joelho, o cabelo enroladinho de Craig, o meu dente caído. E também um gatinho branco, no fundo da foto, dormindo abraçando as pernas.

Sentimentos São - ScorbusOnde histórias criam vida. Descubra agora