Felina, a antissocial

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─ Felina? Posso entrar? ─ Adora perguntou.

─ O quarto é seu também. Por que não poderia?

─ Não sei... você está pronta?

─ É, estou... eu acho... não tenho muitas lembranças boas do espaço, sabe? Na verdade, eu não tenho tantas lembranças boas da minha vida.

─ Bom, dessa vez não vai ter um exército atrás da gente, ou um velho xenofóbico. Vamos ser só nós. ─ Ela me abraçou, olhando para a minha pequena bolsa. ─ Por que sua bolsa está tão vazia?

─ Eu só preciso da minha escova de pelo, não é fácil manter esse cabelo lindo assim, apesar de ser chato e eu odiar que pessoas toquem no meu pelo; preciso do meu terno, porque vai que é necessário, eu fico maravilhosa de terno; e meu pijama. Só isso. O que mais eu preciso? Pego o resto de você.

Estávamos nos preparando para viajar à Etérnia, para estudar, e levar magia. Era óbvio que a Entrapta iria, do jeito que ela é doida. Ela também insistiu que Hordak e o Hordak errado fossem de última hora. Era meio óbvio que a viagem teria "invasores". Melog não queria ir, ver o espaço o fazia se sentir solitário.

─ Oi gente! ─ Brilhante apareceu do nada, o que me assustou minimamente. ─ Olha, Arqueiro! A cara de assustada da Felina! É tão fofa!

─ Quantas vezes eu preciso dizer que eu não sou fofa? Para com isso! O que você veio fazer aqui?

─ Arqueiro! Vem contar pra elas!

─ Oi. Eu só vim avisar que meus pais resolveram ir junto, disseram que o maior sonho deles era visitar Etérnia.

─ Ótimo. Mais gente na nave. Eu só vou sair do meu quarto quando chegarmos em Etérnia.

A nave tinha somente 3 quartos. Incrível, eu e Adora tínhamos que dividir quarto com a Entrapta, enquanto o Arqueiro ficava com a Brilhante, e os pais dele sozinhos também, e isso apesar de a nave ser da Adora.

Era uma semana de viagem, ou seja, uma semana sem contato físico com qualquer pessoa, a não ser a Adora, que se mete sempre em tudo. Ao chegar no quarto, coloquei minha mochila embaixo da cama e me deitei.

Estava sozinha, todos queriam ficar no centro da nave, conversando. Era bom, pelo menos não havia quem me irritasse. Ambiente perfeito para pensar.

Era tudo tão estranho, tipo, até um ano antes, eu era inimiga de todos presentes ali, menos Hordak. Era praticamente inacreditável, durante dezesseis anos, eu e Adora fomos melhores amigas.

É curioso pensar que, depois de tudo o que passamos, Adora se virou contra a Horda, e por três anos inteiros, fomos rivais. Minha maior força era minha habilidade de manipulação. Eu queria machucar a Adora, fazê-la sentir dor, mas agora, quero livrá-la de toda a dor que esse mundo pode proporcionar à ela. Arqueiro e Cintilante rapidamente me aceitaram como amiga, mesmo eu tendo dificultado. Desde que virei uma rebelde, o sofrimento diminuiu, mas os demônios do passado ainda me assombram. Eu só queria ter a certeza de que ninguém irá me abandonar de novo.

Seriam duas semanas de viagem, aproximadamente um ano de estadia, isso se nos permitissem.

***

─ Felina! Hora do lanche! Tem pastel! ─ Cintilante entrou no quarto.

─ Já estou indo! Guarda um de carne pra mim.

Por mais difícil que seria encarar todos eles de uma vez, eu fui. Não foi fácil, mas quem disse que seria?

Olhei para todo mundo e os ignorei. Sentei-me no chão, ao lado de Adora, que pegou um pastel de carne do prato dela.

─ Guardei pra você. Bem torrado, como você gosta. ─ Adora olhou pra mim com um sorriso.

─ Obrigada. ─ sorri de volta e mordo o delicioso lanche.

Era impossível não perceber como Hordak me encarava. Parecia que os seis meses de trabalho comunitário na ilha das feras e os outros seis meses cercado por robôs com a Entrapta é o Hordak Errado não afetou o que Hordak pensava de mim. Aparentemente ele ainda me odiava. Eu talvez nunca iria conseguir se perdoada por ele.

Aos poucos, as pessoas foram saindo, a primeira foi Cintilante, que disse que estava cansada, depois foi Entrapta, junto do Hordak errado, em seguida, os pais do Arqueiro e o Arqueiro foram, deixando somente eu, Adora e Hordak, que ainda tínhamos pastel no prato.

─ Vocês querem que eu diga alguma coisa? Hordak, eu sei que pode parecer que não, mas eu me sinto culpada por ter te tratado do mesmo jeito que a Sombria me tratava. Mas você fez o mesmo comigo durante toda a minha vida, por isso eu não te devo um pedido de desculpas. Estamos quites. Agora, se me derem licença, eu vou dormir. ─ me levantei e fui ao meu quarto, me deparando com Entrapta olhando alegre para seu cabelo. ─ Quer conversar? Estou me sentindo meio sozinha, apesar de me sentir muito cercada de pessoas ao mesmo tempo.

─ Seria bom, eu acho. Eu ainda não consigo acreditar que estou indo para Etérnia! É meu maior sonho, desde sempre, poder falar com os primeiros, os donos daquela tecnologia toda! E eu não consigo nem mesmo dormir, só quero chegar lá logo. Acho melhor eu checar a Darla no lugar do Hordak errado. ─ Ela falava rápido, parecia que nem precisava de fôlego.

─ Okay... vai lá.

Adora entrou no quarto logo depois da saída da Entrapta. Parecia chateada.

Convidei-a para deitar-se do meu lado, envolvendo seu corpo com meus braços em seguida, em um abraço quentinho e confortável. Era fácil de saber o que incomodava a Adora através de um abraço ou um beijo, mas isso é uma habilidade que parece que somente eu possuo. Naquele momento, ela estava carente e queria atenção. Estava preparada para quando ela começasse a falar infinitamente sobre coisas aleatórias.

***

Iniciamos uma festa do pijama ao nosso estilo. Como o Kyle não estava presente, as pegadinha eram com o Hordak Errado, que só sorria e dizia que precisávamos dormir, por mais engraçada que a situação estivesse. Ele parecia uma babá, o que tornava as piadas ainda melhores. Evitamos ficar no centro da nave, porque lá a Entrapta estava fazendo suas loucuras enquanto Hordak dormia.

Chegou um momento, no horário da Zona do Medo deviam ser umas seis da manhã, Adora caiu no sono, enquanto eu estava lá, acordada, me encolhendo para conseguir dormir rápido, até uma momento em que tudo já estava preto e meu corpo estava relaxado.

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