12. Muito Tempo Distante

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"Tantas garrafas, tantas viagens, tantos amores, oh Deus, que sereno inferno esse de lembrar o bom de antes quando nem sabíamos que acharíamos bom um dia. E seria? Cuidado, o Tempo mascara o duro."

Tati Bernardi

POV SARAH ANDRADE

Depois que Juliette saiu da minha casa, as horas passaram devagar. E as horas construíram dias. Os dias se tornaram semanas. E as semanas provaram que eu estava beirando a insanidade.

Após João Luiz aprovar os contratos com a MFBB, demorei um tempo até assiná-los. Olhava para eles por horas, pensando onde estaria Juliette Freire. Nem uma palavra. Nenhuma procura. Nenhuma ligação ou mensagem. Juliette havia desaparecido. E uma inquietação tomou conta de mim.

Pensava muito frequentemente o que teria acontecido. Era um jogo comigo? Ou ela estaria passando por maus bocados? Ou ambos? Era torturante pensar.

Quando finalmente decidi assinar os benditos contratos e dar início ao projeto de curadoria e produção cultural, mais ou menos uma semana depois do sumiço da bonita, minha mente verfilhava atrás de alguma explicação sobre onde andaria aquela deliciosa inconsequente.

Mas eu tive que lidar com a intermediação de Gizelly Bicalho. Nas ligações e reuniões, tudo era resolvido com ela. Claro que um certo decoro me impedia de fazer qualquer pergunta. No décimo dia de completo silêncio, uma reunião presencial no MFBB me deixou com o coração na garganta, imaginando que ela poderia entrar pela porta da ampla sala de reuniões, e depois me convidar para uma reunião privativa a portas trancadas em sua sala. Mas nada veio, nem ela e nem a reunião.

Gilberto também não sabia de nada. Tentou investigar para matar a minha curiosidade, mas a única coisa que Gizelly respondeu a ele foi que Juliette viajara por questões profissionais, sem dar maiores detalhes. Ele já estava por dentro de tudo, inclusive sabia sobre a visita noturna que Juliette havia feito a minha casa antes de desaparecer. Concordou comigo quando disse que três semanas eram muito tempo para uma viagem de trabalho. Algo estava acontecendo.

Provavelmente, o único que sabia de algo era Selton Mello Freire. Cruzei com ele umas duas vezes pelos corredores da empresa, e ele fora muito gentil como sempre. Mas não o suficiente para que eu pudesse perguntar a ele o porquê de sua esposa não ter aparecido novamente em minha casa para foder comigo por horas.

Evidente que senti falta do toque dela. De sua arrogância. Do seu jeito de pegar para si tudo o que deseja. Daquele corpo perfeito. Do cheiro de perfume importado misturado com bourbon que ela tem. Por Deus, eu queria mais até daquela ignorância casual da qual ela se utilizava para manter uma distância segura entre nós.

Sonhava com ela dentro de mim dia sim e dia não. Droga. Eu a queria por perto. Jamais diria isso a ela, para não inflar ainda mais seu ego gigantesco. Mas seu sumiço deixou escancarado que eu a queria por perto, mesmo ela sendo uma grande cretina mimada.

O que me restou foi me dedicar completamente ao projeto para o qual fui selecionada. Imaginar aquela mulher era praticamente sinônimo de imaginá-la nua como uma deusa. O que foi útil apenas quando o assunto eram as minhas pinturas e desenhos. Eu agora tinha um acervo completo no meu ateliê sobre Juliette Freire. Uma linda coleção, inclusive. Juliette Freire era um assunto do qual eu entendia. Dominava o desenho das curvas, as cores, os movimentos...

E nessa intensidade de trabalho, Gizelly orientou para que eu trabalhasse com a senhorita Mc Gowan, uma museóloga respeitada que trabalhava no MFBB exclusivamente com os projetos patrocinados.

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⏰ Última atualização: Aug 10, 2021 ⏰

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