Domando o Lobo Mau

Por todo tempo do Mundo

Em meio a uma forte chuva que aos poucos dava lugar a uma tempestade, Erick corria para dentro da pequena caverna ao lado do grande lobo marrom. Sua perna, já havia melhorado depois de toda a ajuda e cuidados recebidos de seus novos amigos. Ela estava forte, mas ainda não rápida o suficiente para ultrapassar o lobo, que se segurava para não ir mais à frente e mesmo assim tornava essa corrida difícil para um humano comum acompanhar o ritmo.

Quando finalmente ficam protegidos dentro da caverna, Erick se apressa em acender sua fogueira necessitado de sua luz e calor. Olha esperançoso a pequena chama se formar, mas a inconsequente ação do animal ao seu lado de se sacudir, para retirar o excesso de água dos pelos, quase a fez se apagar ao espirrar a água para todos os lados.

-Não! Para com isso, Héctor!

Erick usa o corpo para proteger a brasa e em seguida assopra levemente na tentativa de reacende-lá. Olha vitorioso quando consegue a manter viva e então se apressa para dar luz ao lugar escuro.

-Consegui! - Ele suspira em alívio e olha o lobo que antes tinha uma aparência feroz e ameaçadora, e que agora, mais parecia uma grande bola de pelos ambulante.

Erick então solta altas gargalhadas da atual situação do grande lobo à sua frente.

-Você parece uma bola de pelos! Está fofo! - O jovem se aproxima totalmente seguro e confiante para acariciar o Lobo, que por sua vez, rosnava alto ao ser chamado de fofo. - Não mostre esses dentes pra mim! - Assim que esbraveja, ele puxa sua orelha fazendo com que o mesmo pare de rosnar para ele.

Erick sorri gostando de ver a obediência do lobo e se aquece com ele próximo à fogueira. Enquanto se aqueciam, tenta abaixar o volume de seus longos pelos com as mãos os penteado para trás, tendo sucesso depois de uns minutos assim.

-Pronto, voltou a ser assustador. Agora poderia, por favor, voltar a se humano para conversar comigo? - ele pede de forma educada tendo como resposta o som grotesco de ossos estalando.

Pareciam se quebrar em milhares de pedaços.

A transformação não era nada agradável aos olhos e aos ouvidos, afinal, era uma mudança para duas formas corporais distintas. Ao mesmo tempo que Erick estava agradecido por Héctor voltar a ser um humano para lhe fazer companhia, se arrependia fortemente de ter presenciado essa cena.

Ele não havia se acostumado, mesmo depois de sempre ver os amigos se transformando na sua frente durante os dias de sua recuperação.

- Tem certeza que não dói? Isso me parece horrível... - Erick segura o braço de Héctor com sua mão direta, passando com a mão esquerda os dedos por todo seu braço e músculos até os ombros, conferindo se estava realmente tudo bem com ele.

-Já disse que sim, a transformação é meio dolorosa, mas suportável. Por eu ter me acostumado, isso não passa de uma leve pinicada incômoda para mim. Mas já explicando, por isso os filhotes não costumam se transformar sendo tão novos, a dor é intensa de mais para suportar. Então, caso um dia formos para a alcateia, não se surpreenda em não ver filhotes correndo em suas formas bípedes por aí.

Ele finaliza sua explicação se acomodando melhor próximo do humano. Ambos permanecem esses instantes em silêncio, até Héctor tomar a atitude de se aproximar ainda mais de Erick com seu corpo grande e vantajoso, transmitindo todo o calor que emanava de si para ele.

Erick por sua vez, não tem nenhuma reação ao não ser encarar com intensidade os olhos selvagens do homem a sua frente, sem dizer uma palavra sequer. Não sabia como se comportar na presença daqueles olhos bicolores do lobo, que atravessava sua cabeça como uma afiada lâmina de prata. O olhar que Héctor lançava sobre ele, o deixava completamente intimidado e sem saber como agir. Ao mesmo tempo que queria ficar parado e ver o que aconteceria, também queria correr para longe e torcer para que os instintos do lobo dele, não falassem mais alto e ele resolvesse devorá-lo de uma vez.