Medo

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Queria que tudo tivesse sido apenas um belo pesadelo.

Droga! Droga! Droga!

Não é possível que isto esteja acontecendo comigo! A forma que tudo de pior e ruim acontecem a minha pessoa, daria ótimas tirinhas de humor pelos jornais do Mundo. O nome seria: "A Azarada Vida de Erick Lavine!" . Tenho certeza que a imprensa iria lucrar muito com minha imagem e o nome dos Lavine. Coitado de meu pai, que sofreria sabendo da humilhação constante que o filho passa e principalmente a imensa vergonha que eu traria para família.

Respiro fundo ao lembrar de meu pai. Tento segurar o choro e fecho bem os olhos na intenção de prender as lágrimas. A memória de quando eu acordava de madrugada para beber água, descia as escadas e o via concentrado desenhando mais uma de suas incríveis peças de roupa, volta com tudo. Quando minha presença era percebida, ele apenas sorria e vinha em minha direção. Me oferecia leite e biscoito com gotas de chocolate e juntos íamos furtar a dispensa. Na mesma noite, ele mostrava sua diversas criações. Elegantes e sofisticadas roupas que eram inovações na época, pois seu estilo é único e fora do padrão da sociedade. O famoso "sexy sem ser vulgar". Com sua visão sobre à moda, ele conseguia agradar o olhar das mulheres, o que o fez adquirir uma fortuna gorda quase que imediatamente assim que teve a oportunidade de mostrar seu trabalho para uma pessoa influente.

Mas, mesmo desenhando e criando vestidos para alta sociedade, papai sempre dizia que todas aquelas peças lindas e maravilhosas viam da mamãe. Na época eu não entendia, já que era ele quem criava e fazia as primeiras peças sozinho, porém, com o tempo eu percebi que minha mãe era a inspiração para todo trabalho e dedicação. A cada vestido que ele criava, era nela em que ele pensava. Para ele, ela era a essência das roupas. Ele a amava de mais.

Eu sonhava em viver um amor genuíno como o deles, mas para pessoas como eu, isso nunca seria possível.

Tendo a leve impressão de estar sendo seguido enquanto caminhava mancando - Estava com a pata dianteira deslocada - em direção ao riacho, olho para trás rezando para que não fosse um urso. Não vejo ninguém e suspiro me tranquilizando ao saber que não seria morto ali e agora. Mas ao entender que a sensação de estar sendo seguido vinha de um grande rabo com pelos claros preso a mim, balançando freneticamente, toda irritação anterior volta na hora.

Que droga! Já tinha esquecido um pouco de minha atual situação. Como eu queria meu pai agora, ele saberia resolver tudo, eu iria dormir e acordaria normal!

Há algumas noites atrás, eu estava vivendo plenamente naquela caverna que Pietro e Héctor me enfiaram e do nada me tornei um cachorro grande, peludo e feroz. Bem... Não foi tão de repente assim. Antes disso eu já estava me sentindo esquisito, parecia que algo em mim estava mudando mas eu não conseguia dizer o que era. Eu estava mais sedento, cansado e faminto que o normal. Não suspeitei de nada pois achava que fosse por eu já estar vivendo por essa mata faz uns dois meses, não sei afirmar quanto tempo exatamente, mas sei que já se passaram muitos dias. No dia anterior a minha repentina transformação, eu mal conseguia levantar de onde descansava. Meu corpo dolorido ardia em febre, eu sentia uma dor infernal em minha cabeça e calafrios constantes conforme o dia passava e a noite chegava, jurava que morreria ali sozinho. Tudo que eu conseguia fazer naquele momento era torcer para que Héctor e Pietro aparecessem para me ajudar. Mas nenhum dos dois chegou.

Não os culpo por terem sumido e me deixado sozinho, afinal ficar doente era uma coisa normal, ainda mais para quem saiu da civilização e estava se adaptando a essas situações extremas. Eu sabia que eles estavam se afastando para minha própria segurança, só não pensei que fossem ficar longe por tanto tempo.

De qualquer forma, minha situação só tinha piorado ao cair da noite, as dores só ficaram mais fortes e horríveis a cada instante que passava e para completar minha tortura, eu escutava uma voz bem fina e estridente dizer para mim sair daquele lugar escuro. Eu estava claramente delirando aquela altura. Mas por incrível que pareça, consegui reunir o resto de força que nem sabia que tinha e segui para fora daquela caverna enrolado em minha capa.

Domando o Lobo MauOnde histórias criam vida. Descubra agora