the violet hour

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A vida no campo era marcada pela tranquilidade e rotina. Quando surgia o primeiro raio de sol, sabia-se que era tempo de iniciar uma tarefa, seja ela preparar o café ou dar comida aos animais.

Por ser verão, os dias se prolongavam e o trabalho na fazenda era adiantado o máximo possível para que o outono e inverno fossem tranquilos. O sol infinito e as chuvas que apareciam de surpresa e sumiam rapidamente era uma dádiva para a plantação.

A família cultivava hortaliças e vendiam para os comerciantes da região. Eliza cuidava das finanças e se reunia com compradores; Alex era responsável pelo transporte da carga; Kara fazia reparos na fazenda e cuidava dos animais. Entretanto, as três juntas cuidavam da horta.

...

A chuva forte pegou Kara desprevenida no final de certa tarde. Distraída consertando a cerca do lado leste que tombou, só notou o tempo quando gotas grossas a atingiram. Apenas teve tempo de recolher as ferramentas e correr até o estábulo, antes da chuva cair.

Nos poucos momentos que ficava sozinha, a camponesa pensava naquela mulher sombria que apareceu em seu quarto um mês atrás.

Assim que marca da mordida sumiu, Kara começou a se perguntar se aquilo realmente aconteceu. Contudo a bolsinha cheia de moedas de prata e ouro, ainda escondida entre suas roupas, era a única prova que Lena era real e apenas por causa disso suas dúvidas dissiparam.

Streaky, uma magnífica égua da raça frísio de pelagem preta, descansava em sua baia quando Kara adentrou o estábulo correndo. Um trovão soou alto e a égua relinchou assustada com o barulho da chuva ficando mais forte.

- Calma, garota. - A jovem alisou a cabeça o animal para acalmar a sua agitação. - Também me assusto com esses temporais, mas estamos juntas. Eu cuido de você e você de mim.

A égua bufou e Kara sorriu. Aquilo era confirmação o suficiente.

Escureceu rápido e a chuva não tinha cessado, a impossibilitando sair dali. Deitada num monte de feno, Kara se debatia internamente.

Se atravessasse aqueles duzentos metros até a casa, debaixo dos raios, trovões e do aguaceiro, poderia comer o jantar que provavelmente já estaria servido, tomaria um banho e se esquentaria debaixo das cobertas.

O lado ruim dessa ideia era inegável gripe que iria pegar.

Por um momento tudo ficou silencioso, apesar do barulho das gotas caindo no telhado e dos trovões. Até que Streaky relinchou muito alto e debateu o corpo na madeira da baia, desesperada para sair. A pulsação de Kara acelerou, igualmente assustada, pois não havia nenhum motivo aparente para a égua estar com medo. O perigo estava ali dentro do estábulo e era mortalmente silencioso. A jovem camponesa rezou para que fosse apenas uma cobra, mas seu instinto sabia que era algo muito mais perigoso.

Com a coragem reunida, mesmo tendo que tatear no escuro, Kara se levantou para abrandar o nervosismo da égua. Assim que animal se tranquilizou, a camponesa abriu a baia puxando o ferrolho, colocou as rédeas em Streaky e a guiou para a entrada do estábulo, passando o monte de feno, se preparando para quando surgir a primeira oportunidade correrem dali.

Não demorou para um raio surgir. A claridade durou três segundos, mas foi o suficiente para identificar a figura deitada no mesmo lugar que Kara deitara minutos atrás.

A camponesa sentiu o coração ir para garganta e cair aos pés, seu corpo congelou no lugar. Diferente de Streaky que escapou das rédeas num pinote, se levantou nas duas pernas traseiras e correu estábulo afora.

Eu cuido de você e você de mim uma ova.

- Então num momento de vida ou morte você paralisa? - a vampira disse com humor, a voz apenas alta o suficiente para ser ouvida acima do barulho da chuva.

Desejo e SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora