decode

2.7K 416 82
                                    

Lena encarou Kara por alguns minutos. Estava certa que após a camponesa souber a verdade, e como reagiria a ela, ditaria o futuro da relação das duas.

Kara, por sua vez, desejava decodificar a vampira. Aprendera a procurar no rosto expressivo respostas não ditas, ir além da notável melancolia sempre presente no olhar cintilante de Lena.

- Por um breve período eu conheci Jeremiah, seu pai.

Kara abriu e fechou a boca, chocada. Se afastou completamente de Lena, uma barreira invisível entre elas.

- Você o matou? - Perguntou por fim.

Lena abaixou os olhos.

- Não, mas me sinto culpada pela morte dele.

As mãos de Kara se fecharam em punho, seu gênio querendo explodir. Lena estava brincando com ela?

- Explique.

Lena esticou a mão para tocar o braço da camponesa, mas Kara se afastou mais ainda.

- Os humanos vivem às cegas por um motivo, e por mais que eu tente te afastar do mundo que pertenço, devo contar a verdade. - Lena se sentou de pernas cruzadas com o rosto sombrio, as velas já no fim mal iluminando o ambiente.

Aquela expressão Kara conhecia muito bem. Era a mesma de quando Lena entrara em seu quarto e bebera seu sangue. Era a expressão de alguém que já viu muito e que já viveu demais. A camponesa imitou a postura da vampira e esperou até que ela estivesse pronta para contar a sua história.

- Essa cabana pertenceu aos meus pais. Nasci aqui e quando fiz vinte e quatro anos, morri aqui. Não lembro muito da época em que era humana, mas lembro de quando tornei-me vampira. Era inverno e na época, essa região não passava de um povoado. Muitas pessoas ficaram doentes, inclusive eu. Febre, diziam que era. Éramos pobres demais para pagar um médico, então eu teria que sobreviver na base de chá medicinal e orações. Quando meu corpo ardeu noite e dia e as alucinações ficaram frequentes, meu pai chamou um padre para que eu morresse em paz. Naquela madrugada eu tive o sono mais pacífico de toda a minha vida e quando acordei, tudo havia mudado.

"Despertei no porão de uma capela, onde havia vários corpos vestidos elegantemente, prontos para o velório. Eu estava vestida do mesmo jeito.

Assustada, saí daquele cômodo a procura dos meus pais. Porém, ninguém estava por perto. Ao andar percebi que estava forte, conseguia enxergar no escuro e meu olfato, aguçado. No entanto, nada se comparava com a sede. Minha garganta doía, queimava e eu sentia meu corpo agir sem que meu cérebro assimilasse a situação.

Uma grande porta de ferro deu passagem para uma escada apertada que dava até o lado de fora. Meus pés descalços pisaram na neve, mas eu não sentia frio. Eu estava com tanta sede que nada além dela importava. Eu só queria apaziguar aquela dor em minha garganta. Notei dois homens agachados no chão, um deles estava sujo de terra com uma pá na mão e o outro com uma capa escura verificando o buraco. O último sorriu ao me ver enquanto o outro se encheu de pavor.

O homem de capa tomou a pá e com ela acertou o homem sujo na cabeça com um golpe. Quando sangue se espalhou na neve e o cheiro tomou o ar, eu vi vermelho. Meus dentes caninos se tornaram pontiagudos e em menos de um segundo perfurou o pescoço daquele homem.

Bebi todo o seu sangue daquele homem e me sentindo extasiada. Queria mais. O homem de capa ficou orgulhoso da minha atitude, disse que eu havia saído melhor que a encomenda. Ele entregou a pá em minha mão e enquanto eu enterrava o homem, ele explicava que seu nome era Lionel Luthor e que era um vampiro assim como eu acabara de me tornar. Se eu tomasse as decisões certas, poderia ser grandiosa como ele. Poderia ser uma Luthor. Eu faria qualquer coisa se aquilo resultaria sangue.

Desejo e SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora