O homem assobiava uma música grotesca que tocava em toda casa de prazer. Bêbado como um gambá que o ritmo descompassado o fazia rir sozinho no meio da rua escura. Não parecia se importar com o frio cortante da madrugada, mesmo quando parou em um beco para se aliviar de toda aquela cerveja barata que custou todo o seu minúsculo salário.
Ele teve dificuldade de amarrar as calças quando terminou e estava focado naquela tarefa que não percebeu um vulto parado na entrada do beco, obstruindo a saída.
Quando levantou a cabeça e percebeu que o vulto era de uma mulher, gritou obscenidades com um sorriso. Houve um grunhido de desaprovação atrás de si e de repente sua cabeça bateu na parede e seus pés estavam a centímetros do chão.
Desnorteado, ele olhou para saída e a sombra da mulher estava ainda lá. Outra mulher o erguia e essa o deixava com um misto de emoções.
Ela tinha longos cabelos dourados, pele clara como creme e um rosto que instantaneamente lhe causava afeto, como um anjo. Estaria apaixonado se não fosse pelos olhos com a escuridão que parecia ler cada traço de sua alma e pelos afiados caninos tão próximos de sua garganta. Sorte que sua bexiga acabara de esvaziar ou então suas calças estariam molhadas.
- Quem... - Começou a questionar, mas fechou a boca num estalo quando a mulher o esmagou com mais força contra parede.
- Todas as noites você gasta tudo o que tem para comprar bebidas, não teria problema se isso apenas te afetasse. Entretanto, você tem quatro filhos e uma esposa que de você para não passar fome. Você, além de não prover sua própria família, tem um histórico de violência contra eles. Hoje isso acaba.
O choque esvaindo de seu corpo, o homem usava toda a sua força para escapar do aperto de aço da mulher. Ela não era anjo, seus olhos tinham a origem do mal.
- Sua... - Ele tentou dizer, mas a mulher apertou seu pescoço o suficiente para que lhe faltasse o ar.
- Sei onde mora, onde trabalha e onde se esconde. Não tem como escapar de mim, de nós. Prometa pelo seu próprio sangue que será a cópia do homem perfeito e se cumprir, jamais precisaremos no encontrar novamente. Quebre essa promessa e sua morte será instantânea. - A voz da mulher ficou ríspida. - Prometa.
Os olhos do homem estavam saltados, as veias do rosto proeminentes e o rosto quase roxo, mas ainda assim em um sufocado sussurro ele prometeu.
Por um segundo, ele notou o rosto da mulher se tornar mais sombrio antes de seu pescoço ser perfurado por aqueles dois caninos.
Não havia dor, mas o susto deixou um grito escapar. Ele sentia a mulher se deleitar com seu sangue, ouvia enquanto dava grandes goles.
Seu aperto afrouxou quando o homem estava quase desmaiando, fraco com o pouco de sangue que restara em seu corpo. Ele caiu no chão com um estrondo, mal tendo forças para manter os olhos abertos, mas levou a mão até os pequenos buracos em seu pescoço.
- Um lembrete para quando se sentir tentado de descumprir sua promessa.
Ele finalmente ficou inconsciente e Kara respirou fundo. Em um segundo, Lena estava ao seu lado, uma mão descansando em seu quadril.
- Você foi ótima. - Assegurou a encarando com aqueles grandes olhos verdes. - Eu estava tentada em pedir para que bebesse todo o sangue dele depois do que ele gritou para mim.
Kara sorriu, mas o brilho não chegou aos olhos que mostravam os sinais do azul profundo.
- Eu quase fiz isso, - Kara beijou a testa de Lena - mas todo mundo merece uma segunda chance, certo?
Lena fez um som de desgosto, mas balançou a cabeça concordando.
Kara esperava que seria mais difícil se adaptar em sua nova vida nesses poucos meses que se passaram, entretanto era como se tivesse nascido para ser sobrenatural.
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Desejo e Sangue
FanfictionKara vive em uma fazenda no interior da Romênia junto com sua mãe e irmã. Uma noite, uma mulher linda e misteriosa aparece em seu quarto sob a luz do luar. Kara se vê absorta e seduzida por aquela mulher de tal forma que se deixa levar por seu desej...