no sounds but the wind

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Poderia ser sinistro andar por aquela estrada antiga cercada por antigas árvores altas, nenhum som além do vento batendo nas folhas que perdiam a cor. Já era normal não ver, muito menos ouvir, o som de outro animal quando a vampira estava presente então a ausência deles já não estranho. Era fim de tarde, uma chuva estava a caminho e nem mesmo as cigarras, os grilos ou os sapos ousaram a cantar.

O céu estava baixo, tenso e cinza escuro. A estática era sentida até os ossos, a tempestade que cairia seria forte e duraria por dias.

Seria tudo isso sinistro se não fosse pelo ocasional riso de Kara e Lena. Duas horas na estrada e já compartilhavam histórias de aventuras passadas.

- Onde vai? - Kara perguntou quando Lena saiu da estrada sem nenhum aviso, fazendo Witchy pular um pequeno arbusto e passar numa abertura entre duas árvores.

- A estrada é entediante demais, quero te mostrar uma coisa.

Depois de um momento hesitação, Streaky recebeu o comando para
seguir.

- Como sabe para onde ir? - Kara perguntou ao se abaixar desviando de um galho.

Não havia caminho demarcado, o chão era coberto de vegetação baixa, o que indicava que nem mesmo a pé, caminhavam por ali. Streaky cavalgava devagar no terreno irregular e desconhecido para não escorregar na terra fofa. Kara apenas enxergava árvores sem fim, pareciam que estavam cavalgando em voltas em um labirinto verde.

- Consigo ouvir e ver coisas que estão muito longe, então sei qual direção tomar. - Lena respondeu. - E eu já estive por aqui.

Streaky se exibiu saltando um tronco caído e Witchy bufou dando apenas um passo mais largo. As duas éguas tinham temperamentos diferentes e se provocavam por todo caminho. Witchy era séria e comportada, enquanto Streaky era brincalhona e tinha um espírito livre.

- Deve ser incrível ter os sentidos mais aguçados - Kara pensou alto.

Lena deu um sorriso forçado.

- Na maioria das vezes é incrível mesmo.

Um trovão rugiu ao longe e Streaky se assustou, mas Kara passou a mão no pescoço da égua a acalmando.

- Como assim?

Lena torceu a boca, em dúvida se deveria ser sincera com Kara.

- É uma faca de dois gumes. - Lena disse decidindo ser franca. - Quando estamos juntas, como na cabana, é incrível como eu posso ouvir seu coração bater mais rápido quando nos beijamos e sentir tudo com maior intensidade quando você me toca.

- Mas?

- É difícil manter o controle. Um movimento surpresa e tudo pode dar muito errado, eu não quero te machucar. Isso... - Lena indicou as duas com a mão. - Nós... É tudo novo para mim.

Kara compreendia Lena. Ela era a fonte de alimento ambulante da vampira e um relacionamento em que a natureza não dominasse que exigia muita força de vontade.

A compreensão trazia o sentimento de culpa. Kara desejava que Lena não precisasse se sentir daquele modo sempre que estivessem juntas.

- Eu sou sua primeira humana? - A camponesa perguntou depois de um tempo.

Lena riu sombriamente.

- É a primeira que mantenho viva.

Kara arregalou os olhos e um arrepio percorreu por seu corpo. Apesar de tudo, apenas agora assimilou o quão perigosa Lena era.

A vampira notou o desconforto de Kara e seu rosto tomou a expressão de desgosto. Ela odiava a criatura que um dia fora.

- Já estive com outros humanos fisicamente. Sabiam que eu era uma vampira, mas estavam apaixonados ou era assim que diziam. Não é incomum humanos se doarem para vampiros, sabiam qual fim daria aquela paixão. - Lena segurou a rédea com força e Witchy parou. - Não durou muito meu interesse em humanos, eram previsíveis demais.

Desejo e SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora