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Payton moormeier

Desci do meu carro xingando baixo, sentindo uma boa quantidade de água suja molhar meu terno, devido a chuva que caiu mais cedo. Estacionei em frente a um parque, onde haviam poucas pessoas. Avistava apenas duas crianças brincando no parquinho, e uma menina sentada no banco.

Deixei minha mala de trabalho dentro do carro, indo até o único banco disponível, já que os outros estavam sujos de cocô de pombo. A menina não notou minha presença, e continuou a desenhar alguma coisa em seu pequeno bloco de notas.

— Oi — Não obtive resposta — Sei que não é lá muito comum eu falar com uma estranha, mas... eu preciso desabafar.

Nada de ela me olhar. Talvez um pequeno medo de alguém mexer com ela, e sinceramente, eu a entendo.

— Meu chefe me demitiu hoje, e eu dei um soco na cara dele. A menina que eu iria pedir em namoro hoje, estava dormindo com o meu melhor amigo, e 'pra finalizarmos bem o dia, sujei meu terno caríssimo de trabalho — Bati as mãos em minha coxa, me estressando

Com um pouco de receio, toquei em seu ombro, temendo estar assustando a coitada. Ela me olhou, e acenou para mim, e eu meio sem entender, balancei minha mão novamente.

— Me desculpa se eu te assustei — Falei, coçando a nuca, e ela largou seu bloquinho.

eu sou surda.

Abri a boca, meio em choque, e me chamando de idiota em milhares de línguas por não ter percebido antes. Temi em ter machucado seus sentimentos, ou soltando algum gatilho sem querer, mas pelo sorriso amigável que ela mantinha em seus lábios, essa idéia não durou muito. Agradeci mentalmente minha escola por ter me ensinado o básico de libras, e eu pude entender o que ela disse.

— Consegue ler meus lábios? — Ela balançou a cabeça positivamente, e eu sorri — Não sou bom com libras mas... eu posso tentar.

Desculpe, eu realmente não te vi aí. Estava bem concentrada no meu desenho.

Ela me mostrou seu bloquinho de notas rosa claro, com alguns rascunhos ali no canto, mas o resto do papel estava claro que ela tinha um belo de dom para desenhar. A bela paisagem do parque estava desenhada no branco, e eu sorri com a boca entreaberta, vendo que a menina era realmente muito boa no que faz. Vi suas bochechas adquirirem um tom rosado, e ela encolher seus ombros sorrindo.

Está lindo!

Obrigada. Estava falando alguma coisa antes de eu notar sua presença?

Nada demais... apenas desabafando sobre o meu dia.

Vi seus olhos fixos em meus lábios, prestando atenção em cada palavra que saía de minha boca, e prontamente ela respondeu:

Se quiser, pode dizer novamente. Desta vez irei prestar atenção, eu prometo.

Eu não sou muito bom em linguagem de sinais... Se importa se eu falar?

Craro que não. Pode falar.

Contei meu dia todo novamente para ela, que de vez em quando, esboçava algumas reações. Devo admitir, que ela ficava adorável quanto tentava fazer alguma expressão irritada, ou brava, o que sempre me fazia rir, e ela me acompanhava.

Qual é o seu nome?

Mia. E o seu?

Payton moormeier. Mas me chama só de Payton.

Quantos anos você tem?

Vou fazer vinte e dois, daqui há alguns meses. Em outubro.

Eu tenho vinte e quatro

Um trovão ecoou pelo céu, e Mia não percebeu, e continuou prestando atenção em cada movimento que eu fazia, para formar uma frase completa. Olhei atentamente para o céu cinza, e ela me acompanhou, percebendo o que eu queria dizer.

Vai chover, não é? — Ela perguntou, sinalizando com as mãos, de maneira rápida.

Vai... vamos fazer assim, me dá seu Instagram, que eu te chamo no direct. Podemos ir conversando — Ofereci, e ela sorriu, pegando seu celular do bolso.

Ela me passou seu user, e prometi chamá-la mais tarde na rede social. Me despedi, e me levantei do banco, indo em passos rápidos até meu carro, entrando no banco do motorista e observando Mia se levantar do banco de madeira também, e caminhar em direção a sua casa. Girei a chave, e o motor roncou, e eu pisei no acelerador, indo em rumo ao meu apartamento.

'''''

Entrei em casa, jogando minha mala no sofá, vendo meu cachorro correr até mim, com suas patinhas pequenas e delicadas. O peguei no colo, e fui até seu potinho de ração, enchendo o mesmo até a boca. Dei uma quantidade considerável de carinho, e fui até a cozinha, indo preparar algo para mim.

Enquanto a lasanha rodava no microondas, peguei meu celular, e entrei no Instagram, digitando o nome de usuário da garota que eu encontrei no parque hoje.

Sua conta era privada, então pedi solicitação, e deixei o celular em cima do balcão, enquanto aguardava minha janta ficar pronta. Pensava em como eu poderia me manter, mesmo tendo uma boa quantia de dinheiro na minha boca bancária, ela não duraria por muito tempo.

Eu havia a faculdade de pedagogia completa, e mesmo pensando em iniciar uma nova faculdade, descartei a idéia. Desde pequeno, eu havia o sonho de ser professor, e ensinar coisas novas para as pessoas, e não tinha ideia do que eu gostaria de estudar além disto. Deixei este assunto para descutir mais tarde, e peguei a lasanha que estava pronta.

Meu celular apitou, e eu verifiquei, vendo que Mia havia aceitado minha solicitação para segui-la, e que havia retribuído o follow. Entrei em sua conta, e dei uma leve fuçada em suas fotos, vendo que ela realmente era sozinha. Não haviam fotos com pessoas, ou familiares. Sua conta não havia nem muitos seguidores, no máximo 134 e só haviam fotos de suas pinturas, e algumas suas.

Uma mensagem no direct tomou minha atenção.

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_mia:
hey!

paytonm:
oiê, que bom que me aceitou

_mia:
pensei seriamente na possibilidade de negar

paytonm:
eu também para ser sincero

_mia:
hahahahah
enfim, gostou das minhas pinturas?
vi que você deu uma boa olhada nas minhas postagens

paytonm:
*vergonha alheia*
São bem bonitas


_mia:

não precisa ficar com vergonha
eu também vi seu perfil, para ver se não era um velho maluco

paytonm:
bom ponto
meu cachorro pegou minha lasanha, esse puto

_mia:
meu deus hahahahah
minha gata está... digamos que comendo qualquer rato aleatório que encontrou na rua

paytonm:
ew
enfim, eu preciso arrumar alguma coisa para saciar minha fome
falo com você mais tarde

_mia:
até mais, Payton!

paytonm:

até mais Mia!

Continua...

𝙞 𝙘𝙖𝙣 𝙝𝙚𝙖𝙧 𝙮𝙤𝙪𝙧 𝙝𝙚𝙖𝙧𝙩 - 𝙋𝙖𝙮𝙩𝙤𝙣 𝙈𝙤𝙤𝙧𝙢𝙚𝙞𝙚𝙧 PausadaOnde histórias criam vida. Descubra agora