Messaria era um grande centro de inquietação, mas ao menos as neves estavam colocando todos em cantos mais reclusos.
As notícias de que o exército do Duque de Lerna agora se preparava para sair de Trigendolf, mas com a liderança do próprio rei. O exército ficara muito inquieto e muitos aledracos só não desertaram por causa do inverno, até os cavaleiros de Santigar temiam.
Diante desses boatos, até o povo messariano tentou se revoltar, então Darkus teve que dispensar uma quantidade boa de homens para suprimir o levante. Conseguiu, e começou à tentar melhorar sua relação com o povo. O alimento já estava estocado nas despensas, não haveria fome até o fim da estação.
- Não temos condições de nos manter em Messaria depois do inverno, além de não termos como alimentar a cidade depois dele, os cidadãos também não colaboram.- Darkus estava estressado, sentado à lareira do escritório. Se encontrava na Torre de Menagem do Castelo de Messas, antiga morada do duque dentro das muralhas.
Adelard de Hangleton havia recém chegado, conseguindo atravessar o rio à vau ao fingir escapar de um exército monstrio. Trouxera o resto dos Cavaleiros de Santigar, que também juraram a espada à Darkus mas com desconfiança. Não tinham visto as vitórias do rapaz.
- Só não digo para que abandone a cidade, rapaz, porque tens quase trinta mil homens e precisa de um teto para os abrigar. O inverno aqui é frio, e as neves cobrem os ermos e obstruem as estradas, não há condições de um recuo.-
- Ficas aqui durante as neves, meu senhor, para que depois possas marchar até Aledrac. Poderá derrubar os monstros na cidade e a retomar para si, serás vestido em púrpura e terá a Última Cidadela para resistir.- Falou um oficial de forma ansiosa, os aledracos queriam suas terras de volta e Darkus não os julgava, mas a ideia era absurda.
Foi Aelin que respondeu isso, na falta de Anya ela havia tomado uma postura mais ativa nos conselhos do irmão. Darkus sentia falta da amiga, mas Anya só sofreria vendo as pessoas morrerem.
- Aledrac é uma cidade isolada ao norte, sul e leste, o Rio Thyr pode proteger a cidade mas também desafia a travessia de aliados. E mesmo assim, que aliados teríamos? Ficaríamos na mesma situação de seu povo, senhor, com os únicos aliados acuados e monstros em nossos portões.-
O aledraco ficou em silêncio, e ninguém sugeriu a hipótese de assaltar Trigendolf logo. Todos os lados concordavam que, mesmo se destruíssem o exército do rei no vau, a cidade ainda tinha legionários guarnecendo e as temíveis muralhas aos pés de quilômetros de subida provavelmente cheios de armadilhas.
Trigendolf era inexpugnável naquele momento. E tinham que arranjar um jeito de desafiar esse poder imensurável, sob o comando de um rapaz com pouca experiência e com um exército misturado.
Estava agora sozinho em seus aposentos, sentado na cadeira em frente à janela. O vidro estava realmente gelado, e nem as peles e nem o fogo realmente faziam Darkus se sentir quente, a neve caía fina do lado de fora. Em alguns dias as nevascas aumentariam, e logo estariam atolados em montes brancos.
- Aelin, como foi a sua infância? Onde você esteve por tanto tempo? Eu não sei quem foi minha mãe, mas provavelmente ela não foi a sua.- Estavam apenas ele e ela no aposento. Aelin olhava para a lareira no momento em que o irmão falou com ela, e seu olhar pareceu ficar melancólico.
- Minha mãe foi uma meio-elfa, filha de Evannor O Alto. Ela deve ter me concebido com Edmund de Galantes em alguma peregrinação, ela era uma arqueira muito boa e geralmente as mulheres élficas quando se tornam guerreiras portam arcos.- Falou Aelin, em um tom carregado de saudade.
" Eu cresci entre os elfos, portanto. Eu aprendi o começo da magia com eles, mas eu queria mais, meu sangue de humana era mais forte que o élfico e me fez querer ver o mundo. Senti medo quando fugi, mas me acostumei com a solidão, e cheguei em Vestroya para viver lá como uma sombra".
Darkus se virou totalmente para ela, e viu que a irmã parecia lacrimejar. Queria ir até ela e a confortar assim como fazia com Anya, mas não conseguia, os laços ainda eram demasiado frouxos.
- Qual fim ela levou? O que aconteceu com sua mãe?- Sabia que podia estar revivendo memórias dolorosas, mas queria conhecer mais sobre a outra filha de Edmund.
- Está morta, morreu há muito tempo de desgosto com a minha partida. Eu soube disso em Hyldren e preferi não voltar aos elfos, enterrei o grimório dela em Drune. Fica na margem norte do rio, talvez esteja lá até hoje...- Aelin disse com a voz embargada, e algo se ligou na mente de Darkus.
O grimório estava em Drune, às margens de Hyldren, era óbvio. O grimório estava com Anya, era o grimório que acharam antes de entrar na cidade, aquele que fez a amiga começar no ramo da magia. Era uma coincidência enorme.
- Ela costumava me contar histórias e eu amava... você nunca teve isso e eu me sinto ingrata em reclamar quando você nem sequer teve a oportunidade de sentir o calor de sua mãe...- Aelin olhou para Darkus, que na realidade não sentia falta do que não tivera. - Gostaria de ouvir uma história?-
Darkus fez silêncio, mas enfim saiu de perto da janela e moveu sua cadeira para perto da irmã.
- Pois bem, irmãozinho...contarei uma história antiga que a mãe da mãe de minha mãe passou para ela. Se chama a Tragédia de Elagor.- Aelin falou com um sorriso, apesar das lágrimas ainda secarem no rosto.
- Há muito tempo atrás existia o Reino de Asgaet, e essa lenda já é conhecida por você e pela maioria dos Homens. Durante os primórdios da Era do Eclipse, um rei inseguro e falho governou a Cidade Dourada, seu nome era Elagor.-
" Elagor tinha três filhos apenas, seus nomes eram: Erenor, Iragon e Alenor. Erenor e Alenor eram rapazes bonitos de cabelos ruivos e olhos azuis, como tradição da Linhagem dos Reis Deuses, mas Iragon era...diferente. Iragon tinha os cabelos vermelhos, sim, mas tinha olhos vermelhos como sangue."
Darkus se sentiu surpreso, os olhos sangrentos estavam mencionados em uma história ancestral. Não interrompeu a irmã, o conto havia o fisgado.
- Desde cedo as profecias diziam que os olhos sangrentos significavam um destino cheio de morte e destruição por culpa de seus portadores. Elagor interpretou como se isso significasse que seu filho seria um grande guerreiro, e então o estimou quase tanto quanto seu primogênito.-
" E então todos os três completaram seus anos até a maioridade, e ao mesmo tempo uma sombra surgiu entre os monstros, os incitando inteiramente à guerra. Seu nome era Maegoth, e este odiava tudo que era vivo mas seduziu os monstros para formar sua Horda. Os elfos alertaram Elagor e o mesmo foi se aconselhar com um oráculo."
" Elagor foi com Iragon e Erenor, Alenor não foi pois marcharia contra Maegoth, os três navegaram até Galantine. O oráculo ficou inquieto e disse as palavras derradeiras: ' Esse príncipe é a pura vingança e ressentimento, Aleborn e toda a sua planície irá arder em fogo por sua causa!' falou ela, e Erenor partiu para cima do irmão como se este tivesse realmente cometido uma traição. Iragon se defendeu e tirou o olho do irmão, bem ali na gruta do oráculo, sua jornada de sangue e ódio começou."
" Elagor não soube oque fazer quando voltou à Asgaet com os dois filhos. Sob conselho de Erenor então, exilou Iragon para o Norte, oque ultrajou Alenor que estava na guerra. Elagor morreu poucos anos depois e Erenor assumiu o Trono, enquanto Maegoth descia o Sul até Aleborn, atual Messaria."
Darkus foi pego de surpresa por isso, estavam perto da cidade citada no conto, e aquilo trazia uma sensação estranha. Era como se ouvisse o passado de um conhecido.
- Erenor não tinha ninguém para ajudá-lo e então pediu auxílio ao seu irmão exilado. Iragon havia se fixado na Ilha da Florencia sem a governar, tomando uma terra para si sob juramento de vassalagem, e recebeu a mensagem do irmão.- Aelin agora contava a história com uma voz mais solene.
" Iragon disse: ' Dizei ao meu irmão que, sabendo que foi ele o culpado por minha ruína, peço que ele salve a cidade com as próprias mão'. Sem a ajuda de Florence, que poderia ter sido mobilizada contra Maegoth caso Iragon os pedisse, Aleborn foi varrida pelo fogo assim como dizia a profecia"
" Iragon então tinha o sangue de milhares em suas mãos, e tentou compensar isso ao ajudar o reino de Alenor e os elfos. Florence virou Nova Asgaet pois Vhagar Draegys conhecia essa história, sabia do sangue de Iragon"
Aelin sorriu, e levou a mão até os cabelos de Darkus, os afagou como se ele fosse uma criança.
- Iragon morreu sem filhos, portanto é impossível ser descendente deste. Mas carregamos a maldição dele, isso deve nos ligar à sua sina, não?-
Aquilo deixou Darkus pensativo por muito além daqueles dias, fez ele pensar pelo resto de sua vida.
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A Coroa do Domínio - Livro Dois
AventuraA coligação liderada por Gerald de Elizaet é derrotada na Batalha de Aledrac, o cerco à Última Cidadela é intensificado firmemente. Dezenas de milhares de monstros ainda aguardam o momento para derrubar a cidade. Enquanto isso, a guerra continua no...