Capítulo XXVII - A Capital: Parte Um

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            Darkus pestanejava enquanto deitado na cama macia, estava coberto por lençóis confortáveis e se sentia nu. Pôs a mão no rosto e se colocou sentado.

               Se recordou do que havia acontecido e olhou para o seu lado, Azuria ainda dormia tranquilamente, o bastardo via as costas nuas dela inflando e diminuindo sem fazer som algum. O rapaz sorriu com tristeza, se arrependia um pouco de ter se deixado levar.
               Ela acordou quando o rapaz já terminava de se vestir, a ruiva cobriu os seios com as cobertas e o mirou por um tempo com os olhos azuis. Ela estava pensativa, Darkus sabia, cada vez mais conhecia a sua senhora.
               - Já vais, meu senhor? A pior dor é se despedir da alegria, o coração tem a habilidade de murchar quando o júbilo termina...- Ela murmurou tristemente, sua mão se estendeu para tocá-lo.
                - Não precisa de belas palavras em momentos assim, minha senhora, podes ser um pouco menos informal.- Darkus tocou-lhe a mão com ternura por algum momento, seus dedos se entrelaçaram. Azuria deu um fraco sorriso com isso, ela o admirava com os olhos azuis.
                - Darkus, você teve exemplos mais livres do que eu, eu cresci em um ambiente em que não havia espaço para...isso. Você é diferente, com você eu me sinto livre, com você eu me sinto bem. É a única pessoa que me entende.-
                  Darkus se sentia nas nuvens, era uma sensação maravilhosa estar com ela depois de tantos perigos pensando naqueles cabelos ruivos entre seus dedos. Era seu amor de juventude, que talvez durasse para além desta.
                - Tenho um banquete para ir, minha senhora, mas não pense que é uma despedida. Verei seu sorriso depois de voltar da mesa de refeição, e ainda depois da mesa de conselho.- Prometeu Darkus, e conseguiu arrancar mais um sorriso dela.
                - Vá, parta, estarei com você no banquete. Porém acho melhor manter alguma discrição, meu senhor, as pessoas podem perceber....-
                  Darkus franziu a testa, talvez fosse sua experiência com a constante tendência à arrogância dos nobres ou ela queria discrição por motivos de seu nascimento? Seu sorriso morreu, e todos os pensamentos amorosos se tornaram amargos, um frio se tornou volumoso em seu coração.
                 - Por que discrição, minha senhora? Poderias dizer oque temos, dizer para seu irmão. Eu assumiria um noivado, pois já tomei sua honra.- Darkus Darkrym parou na frente da porta. Azuria se sentou, deixando o cobertor cair sob seu colo.
                 - Meu irmão nunca aceitaria um noivado entre eu e você, é um bastardo e culpado pela morte de Belford Greengrass. Não importa o quanto vença batalhas e o quanto desfralde um estandarte, não considerarão sua linhagem...-
                  Ela percebeu que falou as palavras de um modo errado e fechou os olhos com força. Darkus saiu do quarto com as orelhas vermelhas de raiva, Azuria fez menção para correr atrás dele.
                 - Não faça isso, minha senhora, se poupe para o seu pretendente nobre. Que tal o Conde de Passo Verde? É nobre o suficiente para você?- E fechou a porta com força, se arrependendo amargamente e de imediato do que disse.
                  Quando a ouviu gritar seu nome com voz de choro, quis correr para pedir desculpas, mas desistiu. Ela não tinha culpa das regras injustas daquele sistema, mas a honra o impedia de ir atrás com sua palavra.
                - Eu sou um idiota...- Murmurou para si mesmo.

                - O que aconteceu? Você está....- Aelin fez menção de questionar, quando Darkus entrou no quarto, mas o irmão cortou sua fala.
                 - Nada, apenas estou com pressa para o conselho. Pode me passar a túnica negra e a calça e caba brancas? Obrigado..-
Aelin andou em círculos pelo pequeno aposento depois de lhe entregar tudo, olhava com desdém para o quarto.
                 - Esse lugar não é adequado para o Senhor de Darkrym, é tão....apertado. Cromwell e Baltair tem aposentos de reis.- A bruxa tinha rancor na voz.
                 - Já dormi em lugares piores, Aelin, só de ter uma cama já me sinto satisfeito...- Trocou as vestes anteriores por novas e adequadas para a situação.
                 - E a cama da Senhora Azuria, te deixa mais do que satisfeito?- Perguntou Aelin com um sorriso travesso.
                  Darkus corou profundamente e não respondeu, saiu do quarto envergonhado. Talvez realmente tivessem sido um tanto descuidados.

                 O banquete fora algo magnífico para Darkus, o rapaz sequer sabia que existiam tantos tipos para carne. Ao menos conhecia bem as batatas, o carneiro e o frango, pois até o pão era estranho.
                Comeram uma espessa sopa de cogumelos e vegetais como prato de abertura, vinho foi servido. Darkus viu Azuria deslumbrante ao lado do irmão Aeron, ela vestia um longo e azul vestido com pérolas pelo decote que desnudava os ombros. Os dois se olharam por um momento e, quando pareceu que ela iria lacrimejar ou falar algo, Darkus desviou o olhar.
                  O rei estava lá, no banquete, embora futuramente não fosse estar no conselho, Darkus se atentou bem à seu aspecto apodrecido. Era um homem decrépito, mesmo que não tivesse idade para estar desse jeito, sua barba branca era farta e desgranhada, faltavam muitos dentes em sua boca. O rosto era macilento e cheio de manchas, os olhos eram marcados pela catarata.
                  " Um belo rei, eu diria...esperava que o Príncipe Loren dos contos tivesse se tornado um rei mais régio do que...isso" Definitivamente fora uma decepção, mas parecia que o velho estava com os olhos esbranquiçados sempre sob o bastardo.
                    Servos tinham que auxiliar o monarca o tempo inteiro, erguendo seus braços cobertos pelo manto púrpura real. Em sua cabeça residia a coroa de Nova Asgaet, uma das que Vhagar Draegys portava na cabeça, a dourada com pedras de evenare e gandolim inscrustadas junto com diamantes.
                   O almoço seguiu tranquilo, até que o conselho se iniciasse e todos os não requisitados fossem embora. O rei se retirou também, e ao seu lugar ficou o regente, um homem com uma barba bem aparada e olhos azuis inteligentes. Seu nome era Haldor de Troyr, da Casa de Troyr, e sua residência era a pequena fortaleza além das muralhas de Arlan.
                   - Está aberta a sessão...- Disse apenas, e começaram à apresentar as pautas da reunião.

A Coroa do Domínio - Livro DoisOnde histórias criam vida. Descubra agora