Capítulo XVIII - Aurora da Primavera

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                       As flores desabrochavam e a relva retornava, a região da Messaria retornava à sua vida após o terrível inverno dos meses anteriores. Junto com a vida bela, retornava Aranya de Tregon, sua face emoldurada pelo capuz de sua capa azul.
   
                     A garota cavalgou de Dentestrela até Messaria pelas bordas do Vale de Nehel, onde havia ocorrido a batalha. O degelo aumentara o nível dos rios, que fluíam chapinhando pelos cascalhos em suas margens e fundos, todos derivados do Rio de Melro ou outros maiores da região.
                      Os bosques floridos eram raros no Sul, mas algumas árvores solitárias tinham frutos que a princesa parou para comer. Mordeu uma maçã, seus olhos dourados mirando pensativos para o céu azul, e depois para a cidade que surgia no horizonte. Um pequeno grupo de cavaleiros foi os receber, liderados pelo rosto familiar de Aella.
                      - Anya, eu senti a sua falta! Como ficou em Dentestrela?- A cavaleira estava animada, e Anya percebeu que ela usava a armadura dourada dos Cavaleiros de Santigar.
                         A garota pensou no terror que passara naquele castelo e nos olhares horrorizados que recebeu daqueles que viram a cena no aposento de Rymond. Se forçou à sorrir, não queria deixar nada transparecer, pelo bem de seus amigos e dela mesma.
                       - Foram dias solitários sim, mas eu fiquei feliz de retornar para vocês. Eu recebi notícias mas...como está Darkus?- Anya estava preocupada com o amigo, ele havia enfrentado dois embates sangrentos há quase três meses atrás.
                       - Darkus está como sempre, bastante ocupado no castelo, ele tem seus planos. Aelin está com ele, assim como Dunceon e Adelard, logo parece que vamos partir.-
                          Anya acenou pensativa e não fez mais perguntas, seguiram pelas elevações à trote rápido. Se aproximaram do portão da cidade, que era guarnecido por soldados com o símbolo do dragão no tabardo, Darkrym agora se tornava uma casa.
                        " De um bastardo em Vila Primaveril para um general com o maior exército humano na guerra...Darkrym merece um reconhecimento.." Mas o rapaz não tinha qualquer sangue nobre, sabia Anya, não seria mais rei do que Gerald foi.
                         Pensar sobre Gerald a deixou com o coração imerso em uma dor distante e profunda, como a de um ferimento mal cicatrizado e profundo. Desconfiava que Darkus não havia superado isso, e também sentiu pena dele, ele devia estar sofrendo mais do que ela e ainda em silêncio. Ainda estava com a cabeça nas nuvens quando deixaram os portões e rumavam pelas ruas pavimentadas em direção ao castelo na encosta de uma colina coroada por um jardim.
                        Atravessaram os portões da fortaleza sem quaisquer pompas, depois de passarem por olhares curiosos dos monstrios que habitavam a cidade. Pareciam estar surpresos com a presença de sua princesa, e se retiraram para dentro assim que sua visão sumiu dentro do castelo. Cruzaram corredores e portas que Anya já tinha ouvido falar mas nunca tinha atravessado.
                       Adentraram no escritório de Darkus Darkrym na Torre de Menagem, a lareira rugia bem alimentada para o clima ainda frio. Aelin de Vestroya estava sentada em um canto, a face marcada por uma tênue cicatriz de queimadura, vestia um manto vermelho com capuz. Dunceon tinha a face séria e um tabardo do dragão, usava uma muleta para se locomover. Adelard de Drune ostentava um belo gibão dourado e um cachecol de lã, suas mãos cobertas por luvas negras estavam apoiadas nos joelhos, seu rosto bonito se torcia em um sorriso.
                       - Anya!- Foi a exclamação de Darkus, ele estava feliz por vê-la, a princesa deu seu primeiro sorriso genuíno em tempos.
                         Darkus estava bem diferente, seus cabelos pretos agora alcançavam os ombros e pareciam ainda mais selvagens. Um aro de ferro estava depositado sob sua testa, marcando uma aparência régia junto com o longo manto peludo e negro, uma espada estava depositada na bainha. Seus olhos cor de sangue cintilavam, a garota demônio sentiu que ele a abraçaria se não fosse uma reunião.
                        - Darkus!- Ela não se importava com reunião ou não, jogou seus braços ao redor de seus ombros, o abraçou com força. Ela pensou que ele ficaria com raiva, mas ele retribuiu e a colocou para se sentar ao seu lado. Aelin retomou o assunto de forma proposital para que Anya o entendesse.
                        - Decidimos que agora o exército vai abandonar todas as posições no sul, são impossíveis de se manter à essa altura. Teríamos a Tregônia ao norte, Melro à nordeste e Trigendolf à sul, não poderíamos nos manter. Iremos atravessar a Ponte de Sallor, e auxiliar então Nova Asgaet.-
                         Anya se surpreendeu com a decisão repentina na aparência, mas cujo sentido era compreensível. Mas a princesa mordeu o lábio inferior, pensando no inferno que fora atravessar a Ponte de Sallor com uma fração do exército que agora tinham.
                       - Nós vamos nos arriscar assim, Darkus? Temos mesmo certeza de que dessa vez vamos conseguir atravessar de jeito seguro?- Se recordou da besta, o Espírito de Sallor, que levou um grande sacrifício para ser derrotado.
                        - É a única passagem que temos, atravessar por algum outro passo nas montanhas seria mais perigoso ainda. Sem Trono de Ossos poderíamos acabar não atraindo os espíritos.- Darkus realmente parecia preocupado com essa questão.
                        - Na realidade, Trono de Ossos agora não faz diferença. Os monstros podem sentir a magia em mim e a marca dela em vocês, e Anya já se tornou mais poderosa nisso do que os espíritos das montanhas podem ignorar.- Era Aelin que falava, frustrando todos antes de continuar à falar, quase num sussurro. - A única passagem realmente segura é Vestroya, e esta está fora de questão, à não ser que...-
                        - À não ser que o que?!- Adelard se levantou repentinamente, e Anya arregalou os olhos, não sabia de outros caminhos.
                        - Bem, não devem ficar ansiosos, é um lugar com passagem para poucas pessoas. Estou falando em uma das entradas das Catacumbas Moryl, por elas podem acessar túneis que passam pelas vigas da ponte e desembocam do outro lado da ponte. Eu usei esses túneis para me disfarçar e estudar magia nas catacumbas e na própria cidade...- Disse Aelin, e uma esperança inesperada pareceu se acender em Darkus.
                        - Eu posso entrar nessas catacumbas enquanto o exército atravessa por mar, nos encontraríamos em Vila Primaveril. Eu iria entrar em Vestroya e recuperar Trono de Ossos...não posso deixar Erlokyn ter aquela arma com ele..- Darkus bateu o punho na mesa, ele ainda se ressentia com Erlokyn e isso poderia o levar para o abismo.
                         - É loucura, Darkus, não pense nisso! Entrar em Vestroya sozinho é estupidez, você não deveria nem pensar nessa possibilidade mas..se tiver de ir, eu vou com você!- Falou Anya, suas mãos se apoiaram no tampo na mesa.
                        - Podemos seguir esse plano de Darkus, afinal Trono de Ossos é importante demais para ser deixada nas mãos de Erlokyn..- Disse Aelin. Anya quis perguntar o porquê disso ser tão urgente, mas Darkus acenou com a cabeça.
                       - Certo, a reunião está encerrada, iremos nos retirar de Messaria e Dentestrela em três dias..- E se ergueu, todos saíram com ele, com exceção de Aelin e Anya.
                         A bruxa a mirou com seus olhos também vermelhos como sangue, ela tirou uma mecha do cabelo da menina monstria e a depositou atrás da orelha.
                       - Vamos conversar depois disso, tenho sentido uma energia diferente em você. Talvez muita energia tenha se acumulado em você..ou algo possa estar à beira de despertar...você tem muita influência de sentimentos...- Aelin se encontrava séria, e deixou que Anya se desvencilhasse e rumasse para a porta.
                        - Como você consegue saber de tudo isso, Aelin?- Anya perguntou, e a bruxa apenas deu um de seus sorrisos misteriosos. Aranya entendeu, e então saiu do calor do ambiente.
    
                           No dia da partida, os trinta mil homens estavam se reunindo perto do Vale de Nehel, reunindo estandartes e cavalos. Estavam se preparando para começar a marcha, e Aranya iria com eles seguindo o plano de Darkus.
                          - Cheiro de chuva...- Aella murmurou, montada em seu cavalo ao lado de Darkus. Ela segurava seu estandarte, assim como Aelin que o transportava em outro mastro.
                           Adelard organizava a cavalaria, enquanto Dunceon cuidava das divisões de infantaria aledraca e vagna. Os homens de Cromwell eram minoria no exército, mas estavam bem mais calejados do que antes de entrar nele, e pareciam ansiosos para voltar para casa.
                          - Vamos invadir Dewfort e capturar suas embarcações, com elas irão atravessar o mar até Baltair e ajudar à livrar a cidade do cerco, que ainda não terminou. Eu irei invadir Vestroya com apenas poucos homens e me reunirei com vocês para o resto da campanha...- Disse Darkus para o resto do exército, e os homens ficaram animados. Queriam mais vitórias, e estavam cada vez mais leais ao seu comandante, Anya se surpreendeu com a evolução.
                       " Ele cada vez mais fala como um rei...ele se vestiu de ferro mas poderia muito bem trajar o púrpura...", Aranya esporeou o cavalo para seguir um burburinho, que também chegou à Darkus.
                        - Digam-me, oque ocorreu...- Ordenou o bastardo, mas detectou o motivo rápido.
                          Até Aelin ficou boquiaberta, e os soldados quase gritavam. Uma companhia élfica cavalgava na direção deles, e não parecia numerosa o suficiente para ser um ataque, um deles tinha uma coroa de louros.
                         - Darkus Darkrym!- Chamou o elfo coroado, ele tinha um sereno sorriso e cabelos prateados que se agitavam com o vento chuvoso. - Você é um homem bem difícil de achar!-

             
            
           

A Coroa do Domínio - Livro DoisOnde histórias criam vida. Descubra agora