V - O sábio

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Havia um portador justo que, tendo recebido o Fogo do Akro, sabia que encontraria o Portador da Luz. Não desejava nada para si próprio. Por tanto fora iluminado e sabia que aquilo que revelasse a Luz seria a Verdade que se sobreporia à Regra.

Pela mesma iluminação, soube que encontraria o Portador a caminho do Altar. Pediu o justo aos guardiões que segurasse o Portador nos braços, agradecendo tamanha graça ao Akro. O serviço enquanto portador havia terminado; sua luz viajaria de volta à Origem, maior honraria daqueles que completam sua missão no Meso.

O justo reconhecia que sua "casca" de portador era a prisão de sua luz e somente a Luz que vinha do Akro poderia libertá-lo de suas correntes. Tendo visto e tocado a Luz, a Vida, não viria a conhecer a morte, exceto a de seu recipiente portador. E estava pronto para tal.

Os olhos do portador reconheciam a Salvífica, porém os olhos de sua luz recebiam diretamente a Luz, fortaleciam sua chama interior e sentia imensa paz pela iluminação que tantos ainda haveriam de receber. Sabia que a Luz que chegava iluminaria nações inteiras, não somente os próprios arredores como os luzeiros carregados pelos outros portadores. As trevas profundas que se haviam instalado no Méso finalmente começavam a se dissipar, pois além do grande alcance da Luz, também Ela era capaz de reacender luzeiros extintos.

Diante de todos reunidos ao redor do Altar, a face do justo resplandecia alimentada pela Luz. Por algum tempo permaneceria assim, contribuindo com a iluminação dos povos que, ao completar-se, tornaria possível a salvação, primeiro, da Nação da Regra.

O justo se tornara sábio pela revelação do Akro, a mesma feita antes pelos Servos da Luz e, depois, por outros honestos portadores. E, mudado, abençoa aos portadores que cuidavam da Luz, profetizando à progenitora que a Sua vinda seria a ruína dos soberbos, porém a restauração dos justos.

Não que a Luz fosse capaz de destruir. Entretanto, ao expor os maus empreendimentos, motivados por orgulho ou inveja, seus praticantes perdem a razão, destruindo a si próprios; não definitivamente, porém. A própria Luz restaura, contanto que o portador a permita. Pois a Salvífica foi criada para todos, a quem também livre-alvedrio foi dado. Assim, a queda e levante de cada portador depende unicamente de sua entrega à Luz. Quem com a Luz vive, por Ela será salvo; quem d'Ela se afasta, perde-se sozinho.

Será, também, a Luz, emblema de contraste. O portador que entende, ou pelo menos procura entender, a Regra, bem como observa o exemplo maior da Luz, reverencia Sua natureza e A segue. Entretanto, aquele que vê somente com os olhos que lhe foram dados no Meso, por seu apego àquilo que não é do Akro, enxerga apenas sofrimento e despropósito em tudo o que da Luz venha.

Disse ainda o sábio que uma mão gelada tocaria a progenitora. A provação não viria somente para a Luz em Seu tempo no Meso: dor e dúvida também arremeteriam contra o coração da guardiã. E, com ela, também sofreria a Abadia da Luz, que ainda haveria de ser fundada. O inverno investiria contra o Local incansavelmente, sempre que o valor da própria Luz fosse questionado, sempre que a Salvífica revelasse o que se esconde na escuridão. Por isso, todo portador deveria deixar as sombras, antes que fosse fatalmente descoberto.

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