XIII - O ataque do dragão negro

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O Portador aguardou o tempo certo e o rito de purificação pela água, por mais que não houvesse o que ser limpo, antes de retomar a batalha. Assim, ensinou aos outros portadores a manterem suas luzes puras através das virtudes, para que se revelasse uma luz branca ao se limparem as sujidades pela água. Também, que se respeitassem os mais experientes e que se soubesse esperar atingir uma experiência própria, em um grande exercício de humildade.

Para que não argumentassem que os oponentes não o atacariam pela pouca idade, voltou a ela apenas quando já maduro.

Após receber a água, desceu sobre o Portador o Fogo do Akro, que O conduziu para o deserto. Ali combateria o inimigo maior: o dragão negro. Para atraí-lo, absteve-se de alimento, enfraquecendo o corpo, porém fortalecendo a Luz e a força de vontade. Depois de andar dez dias em cada parte do deserto, o dragão negro atacou.

Entretanto, de nada interessava ao dragão atacar a dimensão física do Portador: queria era deturpar a Luz, para que irradiando-A, ferisse toda a face do Meso. E, para que fosse bem sucedido, precisaria fazê-Lo cair em tentação. Como o dragão sabia que o Portador se abstinha de alimento, rodeou-o dos mais suculentos pratos, vindos de todas as quarenta regiões. Tinham, porém, boa aparência apenas: por baixo, os pratos tinham apenas a areia do deserto. A gula já tinha funcionado contra as obras da Luz Original antes; era oportuno tentar novamente.

— Há de se alimentar a Luz, não apenas seu invólucro — contestou o Portador.

Conduziu-O então o dragão negro a uma caverna no meio do deserto. Tinha uma entrada certamente adornada por mãos de portadores; não havia sido construída pelo próprio dragão. Entraram e se viram em um grande salão iluminado por tochas, onde havia quantidade imensa de tesouros amontoados.

— Curva-Te diante de mim e todo o tesouro será Teu — disse o dragão.

— Adoro somente à Luz Original, que me enviou; nem a ti, nem a teu ouro. Podes ter reinado por longo tempo, mas vim recordar aos portadores de onde vêm suas luzes e para onde deveriam retornar.

O dragão resolveu, por último, levar o Portador, que ia livremente, ao topo de uma grande montanha de sal no meio do deserto.

— Não está no Livro da Regra que, se vens da Luz Original, não sofreria dano algum, protegido por teus servos, até que chegasse o crepúsculo?

— Também está na Regra que tentação alguma seduziria a Luz Salvífica.

Tendo falhado por três vezes, o dragão se retirou.

A submeter-Se às tentações do dragão negro, o Portador se tornava, uma vez mais, exemplo de que é possível resistir e vencer a concupiscência própria da natureza dos portadores.

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