XI - O retorno do sábio do deserto

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O Livro da Regra já dizia que viria do deserto aquele que aprontaria o caminho para o Portador da Luz. Tendo passado muito tempo isolado no deserto, o sábio aprendeu no silêncio a absorver a Luz do Akro, que vinha da Luz Original pelo Fogo, aumentando seu próprio brilho antes de espalhá-lo para os outros portadores. Tendo as terras do Altar sido desoladas pelo dragão de jade, o Instrumento também inspirou a restauração da região pela vinda da Luz. Não somente as terras haviam sido destruídas, mas também as luzes dos portadores haviam sido manchadas ou diminuídas pelo dragão e seus lacaios. Assim, o sábio fora, ainda, instruído no uso da água para revelar as luzes dos portadores, que poderiam estar ocultadas para que não aparecessem suas máculas. Isso fez com que o sábio andasse próximo do rio Descendente quando voltou aos domínios do dragão.

A todo portador que tinha sua luz evidenciada através da água, o sábio ensinava o arrependimento por haver permitido que se manchasse sua luz e o zelo para com ela, uma vez que ainda não era possível purificá-la. A Luz passaria por várias dessas purificações, como já o havia feito quando recebera o nome de Salvífica, porém sem necessidade e por Sua vontade. Sua natureza do Akro não permitia qualquer mancha. Serviria, entretanto, de exemplo para as gerações vindouras.

A habilidade do sábio do deserto vinha em boa hora. A magia permeava cada vez mais a vida dos portadores, distorcendo a luz que receberam originalmente. Mas estava no Livro da Regra que tal sábio surgiria e seria seta para o destino onde se removeriam os grilhões da mágica. Liberto das manchas, o caminho de todo portador se tornaria mais iluminado e seria trilhado com maior rapidez. Entretanto, dizia ainda o Livro da Regra que, de luz clara ou não, todo portador veria a manifestação da Luz.

Multidões buscavam o sábio para a revelação de suas luzes. E todo aquele que o quisesse, receberia a água da descoberta, contanto que estivesse disposto a trilhar caminhos melhor do que fizera até então. O sábio os repreendia:

— Frutos dracônicos! Abandonai as manchas às quais vos acostumastes. Não fujais dos bons caminhos por suas pedras e abraçai a pena por vossas faltas. E, para vos tornardes dignos, trabalhai, firme e honestamente, não apenas para vosso sustento, mas para aumentar a claridade no Meso. Não basta descenderdes da Nação da Regra se ignorais a própria Regra. É vão orgulhar-vos dos vossos pais se não compartilhais das suas virtudes. Pois até mesmo do barro pode a Luz fazer filhos da Nação da Regra por Seu poder. E o martelo já está posto à base das cerâmicas para que, quando atingi-las, não se perca apenas parte de seu conteúdo, mas ele todo. Todo recipiente que não se encher de bons frutos será quebrado.

Todo portador se perturbava pelas palavras do sábio. Sabiam conterem verdades, porém não enxergavam além delas, não entendiam como trilhar caminhos melhores. Faziam muitas perguntas e ouviam:

— Das posses que mais necessitais carecem também os que vos cercam. Dividi com generosidade, especialmente o que for necessário à vida. O supérfluo não passa de distração; livrai-vos do que não é essencial. Supérfluos também são os maus hábitos, dos quais deveis vos libertar, reparando todo mal que tiverdes causado.

Também cobradores e administradores do reino do dragão, além dos feiticeiros adoradores da magia, se aproximavam desejosos da verdade. A eles, dizia o sábio:

— Não queirais aquilo que não é vosso por direito. Devolvei tudo o que obtivéreis desonestamente, inclusive a magia que não vos pertence, mas somente ao dragão.

E, ainda, membros dos exércitos dracônicos apareciam em busca de revelação.

— Protegei a quem vos for designado e alegrai-vos com a paga que a vós é devida. Sois soldados, não ladrões. Entrai nas batalhas com amor para proteger o que amam, não com ódio para destruir o erro. Mesmo os bons empreendem guerras para restaurar a ordem e a paz.

E, dirigindo-se a todos, continuou:

— Há ainda muito por ensinar, porém expor mais não é apropriado para o momento. Mantei vossos caminhos retos e chegareis aos próximos ensinamentos.

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