VIII - O desencontro

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Continuava crescendo o Portador da Luz e atingiu quase o dobro da idade da razão, mesmo número de propagadores que arrebanharia e, também, o número de Povos da Regra. Ainda que portasse sabedoria infinita, não a manifestava antes que o próprio intelecto o fosse capaz de fazer, ocorrendo justamente àquela idade.

Todos os anos iam ao Altar a Luz e seus guardiões para a Festa da Passagem, como designava a Regra, que fora trazida muito tempo antes pelos Servos. Mesmo que à ela não estivesse a Luz sujeita, obedecia-a como exemplo a todo portador.

A terminarem os perfeitos dias de solenidade, partiram em regresso os guardiões, ficando o Portador da Luz ocultado nas Terras do Altar. Começaria ali o intento da iluminação dos portadores, de quem os feiticeiros tentavam roubar ou manchar as luzes.

Havia ali toda sorte de fazedores de feitiços: alguns velados por disfarces de Sacerdotes da Regra, outros que usavam os anéis de jade fabricados pelo dragão e ainda outros que adoravam a magia. Permanecendo nas proximidades do Altar, a Luz enfrentou primeiro aqueles que buscavam se ocultar.

Como em jornadas para festividades se costumavam dividir os grupos em homens e mulheres,  porém podendo filhos e filhas escolher seguir pai ou mãe, os guardiões não notaram a ausência do Portador da Luz até terem caminhado um dia inteiro.

Os guardiões O encontraram somente três dias depois, ao retornarem ao Altar, entre portadores que julgavam ser sacerdotes. A Luz fazia perguntas aos feiticeiros que A rodeavam, e da boca dos respondentes somente saíam palavras verdes, que não Lhe afetavam, mas que poderiam ferir outros. O Portador as ouvia, porém, com humildade: por sua idade, caso não se portasse de acordo com a expectativa, não Lhe dariam ouvidos. Causava, assim, o fascínio dos que ali estavam, ao mesmo tempo protegendo a todos naquela batalha ocultada dos desavisados. Aproximando-se, a guardiã perguntou:

— Por que ficaste? Ao descobrir que não estavas na caravana, desesperamo-nos e voltamos à toda pressa em busca de Ti. Não sabíamos sequer se ainda estarias no Meso.

Inclusive, temia a guardiã que o desaparecimento da Luz pudesse ser obra do dragão de jade, porém não era prudente pronunciá-lo. Sabia o Portador, porém, que seria dedutível que Ele buscaria estar próximo ao Altar, lugar que conecta o Akro ao Meso.

— Não sabeis a que vim? — perguntou a Luz. — Não vedes minha batalha?

Mesmo os guardiões, porém, não enxergavam.

Os Filhos da LuzOnde histórias criam vida. Descubra agora