Capítulo 8

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     Levantei meu tronco com os suprimentos na mão, me senti anestesiada, tonta. Nunca havia feito algo assim antes, apenas treinava, para um dia se precisasse, e precisei. Mas agora, não sei se consigo viver com isso. Tropeçei em um pé estranho e retomei meus sentidos quando uma mão pesada agarrou meu braço para eu não cair, e por alguns segundos senti como se aquilo fosse minha salvação, o guia para me tirar desse desespero interno, mas ao elevar meu campo de visão, é apenas ele, Max.

– Ei, o que foi?— Apenas respondi um "nada" como me acostumei a fazer. Mas sentia os olhares em mim, Anastácia parecia assustada, todavia não por ela, por mim. "Vamos" eu disse seguindo a frente de meus companheiros, que logo me seguiram.

Andamos por essa floresta, que parecia eterna e fechada, por quase um mês, e posso jurar que senti como se ela se comunicasse comigo, ou ao menos me sentisse. Nossa aparência era deplorável e já não aguentávamos mais estar ali. Enfrentamos mais 3 inimigos no caminho, e pude acabar com os dois últimos com minha adaga, nada que me orgulhe. A floresta continuou verde, o pesar permanecia, mas não tomava conta da minha mente, podia sentir a ponta daquele equilíbrio em mim.

— O que fazem quando não estão indo atrás da própria morte? —Max perguntou a todos.

— Gosto de fingir que estou num baile, com uma vida melhor que a que tenho.— Anastácia riu fraca ao abaixar a cabeça.

— Então quer viver em um reino? — ele pareceu interessado.

— Sim, e você? — a menina concordou com a cabeça.

— Eu... eu gostaria de fazer minhas próprias escolhas.— Anastácia parece ter escondido a curiosidade que agora a assombrava.

—E o que gosta de fazer?

—Escrever, ler e ler e escrever.— Mostrou insatisfação na fala. — Por mais que eu goste, quando aquilo passou a se tornar meu escape e distração não é mais tão legal assim.

— Como conseguiu essa...— Max apontou para a própria boca, olhando diretamente para mim.

— Treinamento com meu tio, eu não sabia como usar a adaga, fui tentar brincar com ela perto do rosto e pronto! Para sempre. — entortei a boca, chateada.

— Eu acho ela legal. — suas palavras foram cortes bo ar. Não sabia definir se aquilo era serio.

— Não brinca. — pronunciei, torcendo para que não fosse brincadeira, pelo menos dessa vez.

— Não estou.— Um silêncio se implantou junto com nossos estranhos olhares fixandos.

— E a sua desconfiança, qual o motivo dela? — ele me perguntou, ainda me olhando.

— Já que quer saber, ok! Foi uma traição. Talvez duas. — passei a mão pelo cabelo, falar isso em voz alta me parecia ser mais boba do que eu pensara.

— E você está com ele ainda? — o menino apoiou suas mãos no joelho, sentado no chao.

— Ah.. quando eu fui...— Puxei os joelhos junto do tronco, sentada.— Começar o treinamento, meu pai me enviou para uma região sem distrações, pra casa dos meus tios, onde eu conheci o... Dante. Ele me ajudou de várias formas na vida, superei meus medos, aprendi a viver daquela forma ainda pequena e ele me ajudou muito nos treinamentos... — inspirei profundamente. — Por covardia minha, um dia quase o mataram, e logo depois, ele me salvou. Devo muito a ele.

— E por que não terminaram depois da traição, e com quem foi? — isso ja estava parecendo um interrogatório, e quanto mais eu alimentava suas dúvidas, mas ele perguntava.

— Não tivemos tempo pra falar, tudo foi muito depressa, eu viajei, mataram meu pai, levaram o Dante, e ele nunca me disse com quem foi. — virei o rosto, constrangida por ter sido uma tola traída.

— Você realmente está indo salvar esse cara? — ele perguntou com a testa franzida.

— Você não tem porquê entender minhas razões. Chega desse assunto. — deitei no chão.

— Foi a nossa maior conversa.— Deu uma piscadinha com um olho só, e eu revirou os olhos.

No dia seguinte, consegui ver o mar de longe, o que indicava que estava mais perto do porto do navio dos piratas. Bom, pelo que a bússola dizia, já estamos em frente ao destino deles. E agora que cumpriu seu papel, se desfaz em ouro na minha mão, com certeza voltou para a caverna, na intenção de desafiar outro alguém. As lendas eram verdadeiras, não se usava um objeto perdido da caverna mais de uma vez. E eu senti que o desafio começaria agora.

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