As ondas fortes batendo na parte externa do navio fazia um barulho que ia direto para a minha cabeça. Eu estava enjoada, estressada e com dor de cabeça, e estava apenas amanhecendo. O dia mal estava formado, vi as cores do céu mescladas clareando quando subi para o convés. Lancei o balde, com uma corda o prendendo, para dentro do mar, que parecia agitado.
Puxei-o para mim e com essa água molhei meu rosto e lavei meu cabelo com a cabeça para baixo. Lembrei do pedido que Clark me fez e isso desmoronou meu rosto. Tentei pentear o meu cabelo com os dedos e senti o navio parando. Caminhei para o outro lado percebendo um porto, provavelmente ficaríamos uns dias por aqui.
Depois de algum tempo, todos se levantaram, e Max depois de algumas horas. Clark passou piscando para mim com um olho só diversas vezes, eu entendi o que você quis dizer! Eu revirei o olho em resposta para cada uma das piscadas. Descemos do navio após carregarmos várias caixas para troca e levarmos uma por uma ao local destinado. Clark percebeu que nenhum de nós tomaria a iniciativa e puxou Max até mim.
— Vão treinar! — Falou forçando um cara intimidadora, mas eu podia ver seus olhos pedintes com medo pela vida do amigo. Eu não olhava para nenhum dos dois, mantinha meus olhos no céu.
— Ta bom! Eu vou, mas só porque não quero ser o primeiro a ser pisoteado. Eu devo ficar menos bonito com o cabelo amassado. — Max falou com um pesar na voz, quando virei o rosto ele estava olhando para longe também.
— Quem dera se fosse o primeiro. — Eu declarei bufando.
Nós fomos, quietos, procurar por um local com menos árvores para podermos praticar. Assim que o achamos, larguei minha bolsa na terra e respirei fundo. Ele olhava para suas unhas com a cabeça apontada para o chão.
— Preste atenção, não explico mais de duas vezes. — Ele virou o rosto rapidamente. — O preparamento para o golpe duplo...— Ele me interrompeu.
— Foi o que você meu deu, não é? — Perguntou, mas não esperava uma resposta de fato. Levou suas mãos aos bolsos da calça preta e com a cabeça levemente abaixada, me olhou. Eu o encarei por alguns segundos e senti meu corpo transbordar cortisol.
— Sim! — Voltei a demonstrar a técnica. O ensinei as posições, a intensidade e o tempo. Ele fez tudo errado. Parecia estar mole, apagado para a vida, só tem energia para danças? Eu mandava repetir muitas e muitas vezes. Até que, em um momento, ele segurou um chute meu e me virou no chão. Caí em várias folhas secas alaranjadas, um barulho considerável. Tirei as folhas do meu cabelo e ajeitei meu vestido me pondo de joelhos.
— Nem um "parabéns"? — Ele queria rir, eu tenho certeza disso. Mas ainda estamos conflituosos.
— Não. — Me levantei.
— Agora vai se estressar porque eu fiz o que você me ensinou? Pare de ser tão ácida! — Ouvi revolta em sua voz.
— É o quê? Ácida? — Exclamei de pé. — Esquece... vamos de novo. — Ele parecia querer aprovação, pois em todos os seus acertos implorava por migalhas de satisfação em meu rosto. Como último movimento, sem querer, deixou escapulir fogo de suas mãos, e eu me afastei da forma mais rápida que pude.
— Então... — Olhei para sua mão e para seu rosto, enquanto minha respiração entregava minha aflição. Meu coração estava tão ágil que eu poderia ter um morte súbita aqui mesmo. Algo acendeu em seu rosto, parecia ter notado. Então acendeu mais o fogo em suas palmas, se aproximando de mim.
— O quê? Você tem medo? — Virei as costas e me afastei com largos passos, de volta para o navio.
Quando estava mais próxima dele, corri ao invés de manter meus longos passos. Procurei o primeiro cômodo vazio e me tranquei. Deitei de lado no chão e tentei manter minha linha de raciocínio inteira. Inspira. Expira. Inspira. Expira. Meu coração não se acalmava e um choro veio sem a minha vontade. Fogo. Parecia livrar o que estava dentro de mim. Beco. como se eu carregasse um emaranhado de frustração. Dante. E angústia. Meninos. Me esforcei ao máximo, com a mão na boca soluçando, para para não fazer barulho.
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Reino encantado
RomanceNum continente distante, em 1453, dois desconhecidos, o príncipe de Orkida e uma guerreira, os quais tiveram uma apresentação nada agradável, fazem um acordo e vão rumo a um lugar encantando, conhecido por lendas. Então, percebem que estão presos um...