Capítulo 16

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Me senti estranha no momento em que o barco se afastou da margem. Uma sensação. Como se alguém me chamasse bem baixinho. Pedi que parassem, e recebi suas faces de desentendimento, mas incrivelmente nenhuma reclamação. Puxei um remo rapidamente e nos levei até o cais novamente. Prendi o barco, me configurei com o disfarce que usava, uma capa pesada da cor de vinho. Apenas segui o que sentia com passos largos e um humilde campo de visão. Essa voz me levou até uma porta que não tínhamos reparado na lateral do castelo.

Havia dois guardas em suas posições, me aproximei com a cabeça abaixada e reduzi meus passos, eu não queria matá-los, realmente não sei o que fazer. Pisava no campo do jardim me sentindo a pior convidada dessa festa. Adentrei o espaço deles e ergui o rosto ao dizer.

— Estou sabendo de um golpe terrorista que terá no salão, em poucos minutos. — Isso tem que funcionar, tem que funcionar!

— Perdão, e como a senhora sabe? — Um deles se virou para mim colocando a mão em sua espada. Ah, você não vai querer fazer isso.

— Ouvi uma conversa agora pouco, e como não posso impedir ninguém por ser tão indefesa, vim chamá-los. Estão do outro lado.— Eles se entreolharam e eu mantive meu rosto frio, até ouvir aquela voz dizer "me encontre" a algo floresceu.

Não sei se os convenci, porém percebi que tinha estragado meu plano quando puxei minha espada do cinto e lancei minha capa no chão. Recebi o primeiro ataque e recuei um pé me defendendo com a minha própria espada, acerto um chute em sua barriga, consideravelmente grande, o fazendo tombar.

O outro tentou me dar um soco, mas agachei e corri para a ampla porta de madeira e me tranquei. Respirei de forma descontrolada com a mão na porta. Me virei, com as costas na porta, e me deparei com um tronco de árvore imenso. Logo, imediatamente, lembrei das anotações dos piratas, que o citavam como o mais antigo. Tendi a me aproximar com a mão levantada, encostei e senti tudo gelado. Passei a mão pela casca e ele estava rodeado por um cadeado preso à correntes na parede. Ouvi sussurros mais uma vez e me afastei para olhar, sofri um impacto que me jogou na porta com força. Então senti aquela voz dentro da minha cabeça e vi minha mão rodeada de fogo.

— O que é isso?! — Exclamei com os olhos a ponto de saltarem do meu rosto. Sacudi tanto a mão para afastar lembranças que eu não queria lembrar, mas não pareceu bastar. Ao virá-la com a palma para cima vi gotículas de água se unirem e dançarem no ar. Decidi sair dali correndo, já que não estava entendendo nada e podia colocar a fuga em risco. Puxei a porta pra que ela pudesse se abrir, e acabei tirando-a do eixo e arrancando-a. Levei aos mãos a boca impressionada com essa força misteriosa, busquei minha capa e corri para o barco, enquanto ajeitava os botões dourados da capa. Aquelas guardas devem ter ido pedir reforços, mas provavelmente o rei que pedirá suas cabeças em bandejas.

— Onde você foi? Quase fomos descobertos. — Anastácia ergueu aos mãos ao alto reclamando enquanto eu me abrigava em um banco.

— Desculpe, precisava tirar essa dúvida. — Entrei bem rápido e partimos para longe.

— Olivia, por favor não faça mais isso, achei que tivesse morrido! — Dante parecia transtornado quando invadiu meu espaço pessoal conferindo se eu estava bem.

— Ou — Eu proclamei afastando um pouco o rosto. — Você age como se eu não soubesse me cuidar.

—Ha, você não tem atitudes muito rentáveis, né? — Ele aparentou rir com escárnio e eu devolvi uma dentição perfeita nada mais que falsa.

— Ah, estou brincando, amor. — Eu tive a impressão de que alguns reviraram os olhos depois dessa.

— Eu vi o tronco que vocês estavam falando. — Pus aos mãos no joelho, mas olho me levantei com as mãos ansiosas.

Reino encantadoOnde histórias criam vida. Descubra agora