Capítulo 23

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Os pensamentos corriam por minha cabeça e Gaia era a culpada. Aquela forte dor de cabeça já tinha virado parte da minha rotina e eu tentava suporta-la batendo pelo lado de fora. Nunca adiantou. Bastou que eu me apoiasse em um banco, para que dormisse, e assim, desse paz à minha cabeça.

     Acordei assustada e quase caí do banco com a pressa que levantei meu tronco. Estava sem ar, de novo. Estava hiperventilando, de novo. Um choro apático percorre minha pele, e digo "'apático", por
não saber o real motivo dele querer sair. Soltei um sorriso idiota que traduzido seria "Lá vamos nós de novo!"

— Estamos em casa. — essa voz calma adentrou meus ouvidos, se aproximando.

— Estamos em casa, Olivia! — Anastácia me abraçou por trás e pude ouvir seus risos escandalosos.

— Mas ainda não é o fim. — eu fechei meus olhos dizendo, fazendo cair mais uma lágrima. Passei minha mão pelo rosto, o secando, e parti para a porta do navio.

Pisando na areia com sapatos sujos de sangue, me lembrei de como saí daqui, e de como não posso voltar ainda. Agachei para tirar meus sapatos e pisar neste chão com os meus próprios pés.

— Me permite? - Max agachou junto comigo, estendendo a mão para meu pé.

— Não! — Nem o toquei, mas minha palavra bastou para que recolhesse sua mão.

— Queria falar uma coisa com você — ele levantou seu rosto olhando para o meu, bem perto, bem repugnamente perto. Virei meu rosto.

— Não precisamos falar de nada. Não precisamos conversar. Não estrague esse dia para mim. — levantei me ao dizer.

— É sobre aquela mulher, eu... — ele fez movimentos acelerados com as mãos.

— Quem sou eu para que tenha que me explicar tal coisa? Me deixe em paz. — Andei pela rua que conhecia bem.

Sempre gostei de ter tudo resolvido, mesmo que eu estivesse vendo minha mãe de novo, não conseguia aquietar meu corpo e achar que tudo está bom, porque não está. Gaia parece mexer com meu corpo, sinto frio, sinto o calor em minha pele, me sinto dividida, mas também, completa.

Já estava perto da minha casa, ouvia os passos de todos atrás de mim e não pude deixar de comparar com os passos estridentes da areia em nossos sapatos no dia em que meu pai morreu. Uma parte do caminho eu já estava com os olhos fechados, sentindo o cheiro da única horta que tinha perto da minha casa, ouvi os pássaros, o que há tempo não fazia questão de admirar, essa vida mais simples.

Não sei se teria sido mais feliz se tivesse seguido o caminho que minha mãe queria para mim, sem dor, sem perda, mas também sem ganhos.

— Chegamos. - falei com a voz falha.

Passei a mão pela entrada da minha casa e mexi no mini sino que tinha na parte alta do batente, que só meu pai tocava, para avisar que havia chegado em casa. Eu costumava vir correndo recebe-lo. Passei a mão pelo batente, e com certeza, o coração da minha mãe se apertou ao ouvir esse som.

— Mãe? - eu gritei, entrando em casa apressada. — Mãe! Mãe! — Caminhei mais rápido após ouvir gritos do lado de fora. Estavam fazendo mais um trabalho deles.

— Droga! Mãeee! — Bati em minha cabeça repetidas vezes, hesitante em gritar de novo, com o choro preparado para explodir. Apertei meus olhos fortemente.

— Olivia! É você ai? — ela me respondeu vindo ao meu encontro, e vi Max, Ana, Dante e Clark entrando e fechando a porta rapidamente.

A abracei como se seu corpo fosse um amontoado de espumas acolhedoras, como nunca a abracei. Um contato entre peles nunca me fez tão revigorada.

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